(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ENTREVISTA

C�mara Municipal de BH pode ter primeira vereadora que levanta a bandeira da ind�stria criativa

Se for eleita, Natalie Oliffson representar� o setor da moda, �rea em que atuou desde o in�cio da sua carreira


27/09/2020 04:00 - atualizado 28/09/2020 17:23

(foto: Nélio Rodrigues/Divulgação)
(foto: N�lio Rodrigues/Divulga��o)

A moda pode ter uma aliada no Poder Legislativo a partir do ano que vem. Candidata a vereadora pelo Partido Novo, Natalie Oliffson, de 53 anos, concorre a uma vaga na C�mara Municipal de Belo Horizonte levantando a bandeira da economia criativa. Ela quer que a cidade seja amplamente reconhecida pela criatividade. Isso inclui, � claro, a moda, �rea que permeia a maior parte da sua carreira, desde os tempos das ag�ncias de publicidade at� se firmar como consultora de marketing. Se for eleita, Natalie dar� continuidade ao trabalho que j� desenvolve como integrante da Frente da Moda Mineira, com o objetivo de posicionar BH como a capital da moda. Na opini�o dela, faltam a��es coordenadas, que consigam unir todo o setor. Outro plano � fortalecer os bairros Prado e Barro Preto como polos de moda.
 
Como come�a a sua hist�ria?
Sou filha de pais franceses, nascidos em Paris, que vieram para o Brasil nos anos 1960. Moraram primeiro no Rio de Janeiro, depois em Belo Horizonte. Eu nasci em BH, depois nos mudamos para Montes Claros, no Norte de Minas, onde meu pai montou uma ind�stria. Ele era engenheiro �ptico e a minha m�e, dona de casa, muito embora na Fran�a tenha tido uma carreira de contabilidade. Em Montes Claros, ela se envolveu com a cultura da cidade, ent�o a minha viv�ncia � muito rica em termos de cultura. Fiz conservat�rio de m�sica, bal�, e participei do grupo de folclore que se chama Banz�.

O seu lado criativo vem de quem?
Acho que sou uma mistura. Os dois sempre foram muito criativos e inventivos, cada um ao seu modo. O meu pai sempre teve a veia da curiosidade, do empreendedorismo, da coragem. Imagina tomar a decis�o de sair da Fran�a e ir para um pa�s que nunca tinha visitado. Ele criou primeiro um laborat�rio em BH, depois montou uma grande ind�stria de fabrica��o de �culos no Norte de Minas. Come�aram fazendo lente, depois arma��o, e tinha uma unidade de equipamentos em �tica e mec�nica de precis�o. Meu pai tinha esse lado tecnol�gico, da inova��o. Era muito inteligente, tipo g�nio, um inventor. Ele que criou o sistema �tico do primeiro sat�lite brasileiro, criou o teodolito para a engenharia, e na medicina inventou tr�s aparelhos. Da minha m�e, vem a parte art�stica. Ela � muito habilidosa, borda, faz croch�, origami de papel. Quando fui fazer faculdade, foi um drama. A minha irm�, 10 anos mais velha, muito parecida com o meu pai, foi para a �rea de exatas, se formou em matem�tica. Eu quis fazer comunica��o. Entrei para jornalismo e me formei em publicidade. Acho que por ter este lado criativo.
 
Como voc� construiu sua carreira at� chegar � moda?
Trabalhei em v�rias ag�ncias de publicidade e tive a minha pr�pria ag�ncia em Montes Claros. Quando estava em BH, na fun��o de atendimento, comecei a perceber que publicidade n�o era a alma do neg�cio, era o marketing. Fiz uma especializa��o na �rea e depois voltei para Montes Claros, fui trabalhar na empresa do meu pai (ele j� tinha morrido). Foi uma experi�ncia muito rica, ao mesmo tempo muito dura. Tinha 20 anos, era muito dif�cil questionar e dizer para os s�cios como a empresa deveria se colocar. A empresa acabou fechando, decretou fal�ncia por quest�es financeiras, e eu fiquei muito triste de n�o dar continuidade ao que o meu pai construiu. Em fun��o disso, decidi ir embora para a Fran�a. Fui com dois objetivos. Sentia a necessidade de me conectar melhor com a minha por��o francesa. Meus pais n�o gostavam de falar sobre o passado, acho que por terem vivido a Segunda Guerra Mundial e vieram para o Brasil trazendo hist�rias duras. Toda a fam�lia do meu pai, judia, foi para os campos de concentra��o. Al�m disso, resolvi que queria fazer mais uma especializa��o na �rea da cultura. Quando estava l�, o bichinho da moda me picou. Paris respira moda e eu percebi que, para trabalhar na �rea, n�o precisava ser estilista. Moda para mim � uma forma de arte e cultura aplicada. Ent�o, me encontrei l�. Descobri que o meu av� paterno tinha trabalhado como alfaiate. Fiz um curso de dois anos de gerenciamento de produtos de moda e essa estada em Paris abriu um mundo para mim. Fiz muitos est�gios, trabalhei em uma marca feminina, no bureau de estilo da Federa��o de Cal�ados, no museu da moda e consegui enxergar um novo mundo. A� veio o dilema: volto ou n�o volto para o Brasil?. J� estava com 30 anos, querendo me casar, ter filhos, a minha m�e estava aqui, ent�o voltei.

Foi nessa �poca que voc� abriu o Bureau de Comunica��o e Moda?
Criei a empresa pensando em juntar as minhas duas habilidades: comunica��o e moda. Quando estava em Paris, conheci os bureaus de estilo e me identifiquei com o formato do Carlin, o primeiro da hist�ria da moda. Na �poca, era bureau de estilo e ag�ncia de comunica��o. Formatei o meu neg�cio, mas n�o sabia nada do sistema de moda brasileiro. Tinha uma vis�o totalmente francesa, que era muito diferente. Foi muito dif�cil entrar no mercado, o que estava propondo era muito complexo. Nesse meio tempo, fui chamada pela Santanense – trabalhei como diretora de marketing, o que foi excelente para entender a ind�stria t�xtil – e acabei suspendendo a minha empresa. Depois que sa� de l�, retomei o projeto do Bureau. Comecei trabalhando com jovens estilistas, como o Ronaldo Fraga, fazendo assessoria de marketing e comunica��o. Eu e Ronaldo t�nhamos tanta sinergia que por quatro anos trabalhei com ele. Vivi todas as fases de estrutura��o da marca, ele tinha sa�do da Olium e estava al�ando novos voos. Vivenciei tudo de maneira t�o intensa que, ou me tornava s�cia, ou sa�a. Retomei o projeto da minha empresa e, em 2011, recebi o convite do grupo Premi�re Vision, que � a maior feira de mat�ria-prima para a ind�stria da moda. Eles estavam buscando algu�m na Am�rica Latina para ser agente deles e ajudar a montar a feira em S�o Paulo. Foi um momento muito marcante. A minha empresa e o meu trabalho se tornaram multinacionais. Passei a viajar para Argentina, Col�mbia, Peru. Quando conclu� esse trabalho, o mercado de moda tinha mudado muito. A chegada da internet alterou muito a forma como a gente trabalhava. N�o estava mais me sentindo t�o realizada e empolgada, ent�o tomei uma decis�o um pouco radical. Resolvi dissolver a estrutura da minha empresa, em 2013. Vim para o home office e comecei a atender por projeto. Em paralelo, comecei um projeto com o meu marido, absolutamente nada a ver com moda, o Diadorim Armaz�m. As pessoas que me conheceram na loja, na Savassi, n�o tinham a menor ideia de quem eu era na moda. Era um lugar inusitado, vendia cacha�a, farinha, penico. Era um projeto de me religar com a minha identidade mineira, de mostrar a beleza do produto de Minas Gerais. Essa experi�ncia me colocou em contato com a quest�o do territ�rio.

Em qual momento voc� abra�ou a causa da economia criativa?
Ia ter dois eventos na cidade: uma palestra da Herm�s, uma das mais famosas marcas de moda, e outra sobre identidade das cidades. Estava em uma encruzilhada na moda, querendo ouvir outras coisas, e fiquei com a segunda op��o. Havia palestrantes de Buenos Aires, Barcelona e ouvi pela primeira vez a palavra economia criativa. Isso em 2013 ou 2014. De novo se descortinou um outro mundo para mim, um mundo em que me encontrei. Achei que j� tivesse me encontrado, mas na economia criativa encontrei todas as Natalies, da moda, do bal�, do folclore. N�o sou especialista em economia criativa, mas estudo, sou uma ativista, propagadora desse conceito.

Como voc� percebeu que poderia levar esta bandeira para a pol�tica?
Comecei com a Frente da Moda Mineira, em 2016, para mim um exerc�cio do coletivo. Desde a experi�ncia na Premi�re Vision, passei a ver as dificuldades do setor de ser organizado e pensar em pautas setoriais. Comecei a dedicar muito tempo, volunt�rio inclusive, ao projeto. A ter proposi��o de construir um lugar onde pudesse unir toda a cadeia, que � muito longa, extremamente rica e diversa, e n�o existe lideran�a que olha para o setor como um todo. Por outro lado, a experi�ncia de ter loja na Savassi me colocou em contato com a Associa��o dos Moradores e Amigos da Savassi (Amas) e, junto com presidente Nelson Galizzi, criamos o movimento Savassi Criativa, com o objetivo de desenvolvimento do bairro. Estava fazendo tudo isso como cidad�, com o desejo de fazer algo para a cidade, lugar onde escolhi viver. At� que comecei a ponderar, enquanto pessoa, o que fiz de fato at� agora, o que vou deixar, o que vai estar escrito na minha l�pide quando me for. Comecei a questionar a minha vida profissional e, neste momento, conheci a pol�tica. Conheci o Partido Novo em 2017, me identifiquei com os valores e o prop�sito e me filiei. Nunca tinha imaginado isso. Trabalhei ativamente na campanha de 2018 e, desde ent�o, me tornei uma cidad� com atividade pol�tica. Agia um pouco discretamente, at� que recebi o convite para participar do processo seletivo para vereador. Achei engra�ado, descabido, mas me disseram: voc� j� est� no exerc�cio pol�tico, ent�o v� para um lugar onde tenha possibilidade de realizar pautas para um n�mero maior de pessoas.
 

"Precisamos criar um ambiente mais favor�vel para o empreendedorismo. Vou levar tamb�m tr�s bandeiras de bairros: a Savassi, que representa tanto BH, al�m do Prado e o Barro Preto, para que sejam reconhecidos como polos de moda"



O que motivou voc� a entrar para a pol�tica?
Uma certa indigna��o. Mais que isso, � sair da reclama��o e botar a m�o da massa. Sou de uma gera��o que sempre foi muito omissa com a pol�tica. Pensando pelo lado pessoal, existe uma certa culpa. N�o posso ser omissa, tenho uma filha de 14 anos. Que mundo quero deixar para esses jovens? Nos encontros do Partido Novo, vi uma palestra do Bernardinho, do v�lei, dizendo como � natural ver jovens irem embora do Brasil. Ou voc� vira funcion�rio p�blico ou vai embora, n�o tem outro caminho. Meu pai veio para c� porque, naquela �poca, o Brasil era o pa�s do futuro. Cad� o futuro que n�o chega? Sinto que este � um chamado de cidad�. Acho que n�o � muito distante da minha natureza, porque sou pessoa que gosta de servir. Quero, posso e estou me colocando � disposi��o da sociedade.

O que podemos esperar do seu mandato como vereadora, se for eleita?
Em primeiro lugar, exercer a fun��o com �tica e integridade. O ambiente da C�mara � muito pobre em termos de di�logo e discuss�es. N�s, enquanto eleitores, damos muito pouca aten��o ao poder municipal, especialmente a C�mara, que � a inst�ncia mais pr�xima do cidad�o. Depois pretendo ser ponte e conex�o dos setores criativos da cidade com a C�mara e com o poder executivo. BH tem voca��o criativa, somos uma efervesc�ncia em termos de m�sica, dan�a, teatro, moda. Todavia, s�o voos individuais, n�o existe uma estrat�gia em torno da economia criativa. Outra plataforma � melhorar o ambiente de neg�cios, desburocratizar, simplificar, trabalhar para reduzir impostos. Precisamos criar um ambiente mais favor�vel para o empreendedorismo. Vou levar tamb�m tr�s bandeiras de bairros: a Savassi, que representa tanto BH, al�m do Prado e o Barro Preto, para que sejam reconhecidos como polos de moda. E, claro, quero aumentar a representatividade feminina. Hoje, s�o 41 cadeiras na C�mara e s� quatro s�o ocupadas por mulheres.

Como est� o mercado da moda em BH e o que voc� pode fazer para contribuir com ele?
BH vem perdendo de maneira muito clara e realista espa�o para outras cidades enquanto centro de neg�cios de moda. Penso que isso acontece tamb�m por causa da falta de constru��o de a��es conjuntas que englobem a cidade. � muito natural, quando uma marca faz sucesso, ir para S�o Paulo participar de feira, abrir showroom. N�o digo que n�o devam fazer isso, mas, enquanto cidade, setor, todo mundo perde. Atrav�s da Frente da Moda Mineira  conseguimos mostrar a import�ncia do setor, moda � desenvolvimento social, cultura, inclus�o social e produto tur�stico. Tiramos da gaveta o projeto de BH capital da moda, criamos semana de moda, festival de moda. Precisamos costurar esses n�s, gerar conex�o dentro do setor e com a administra��o p�blica.

O que voc� acha que, se conseguir fazer, vai compensar todo o esfor�o? 
Posicionar BH como cidade criativa. Cidade onde a economia criativa gera emprego, turismo, inclus�o social. Isso vai fazer com que a cidade fique mais bem cuidada, mais bonita, mais pr�spera. Quero que toda esta efervesc�ncia criativa seja real. Digo que esta bandeira � fundamental. Passando a pandemia, que � t�o dolorosa, tenho convic��o de que os setores criativos v�o puxar o motor de arranque de BH. Temos um ecossistema extremamente rico, por�m desconectado. O maior valor da economia criativa est� no capital humano e intelectual. Se abra�armos isso, vamos ser refer�ncia de cidade criativa fora de Minas e do Brasil. Imagina a pot�ncia quando juntar moda, gastronomia, turismo e artes. Temos tudo isso, n�o precisamos inventar. No fundo, a gente quer que BH seja um lugar melhor para trabalhar e viver, e o caminho que proponho � o da economia criativa.

No in�cio da carreira, voc� conta que o bichinho da moda a pegou. Agora diria o mesmo do bichinho da pol�tica?
Acho que isso � tempor�rio. Desejo prestar este servi�o, dar minha contribui��o no poder legislativo, e depois voltar para a minha trajet�ria. N�o pretendo fazer carreira na pol�tica. Mas, ainda que volte para o setor privado, vou pensar em pautas coletivas.

Voc� tem uma filha de 14 anos. O que aprende com esta gera��o?
Primeiro, que nada � definitivo. Segundo, aprendo muito sobre o mundo digital. Conviver com esta gera��o � uma renova��o, � descobrir um outro jeito de olhar para o mundo. Estes meninos desejam e praticam um mundo mais humano. Na verdade, tenho aprendido com os mais jovens desde que me envolvi com a Savassi. Acompanho muito o pessoal da faixa dos 30 anos, que fez o movimento da Zona Leste, da Sapuca�, do Mercado Novo, e vejo um novo olhar para a cidade. Acho que eles t�m um olhar mais carinhoso para a cidade, sabem equacionar melhor desenvolvimento econ�mico e social. Aprendo muito com eles que d� para ter uma cidade melhor e mais interessante. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)