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Estado de Minas Cal�ados

Em nova cole��o, Virg�nia Barros reflete sobre o mundo e as rela��es

Para criar os sapatos, a designer pensou muito em 'O mito da caverna', de Plat�o, e o conceito de modernidade l�quida, proposto por Zygmunt Bauman


20/06/2021 04:00 - atualizado 20/06/2021 12:48

(foto: Romi Diaz/Divulgação)
(foto: Romi Diaz/Divulga��o)

Quando vendia para o atacado, Virg�nia Barros sempre acabava frustrada. Os lojistas escolhiam os sapatos mais b�sicos, e os diferent�es, que eram os que mais amava fazer, ficavam encalhados. Depois de muitas tentativas, ela decidiu abrir a sua pr�pria loja para vender o que queria e, enfim, encontrou o seu p�blico. Hoje a criativa e destemida sapateira exibe, satisfeita, as mais ousadas ideias. Desta vez, na primeira cole��o p�s-pandemia, leva para os p�s reflex�es sobre o que estamos vivendo.

Para criar a cole��o Sombras l�quidas, Virg�nia pensou muito em “O mito da caverna”, de Plat�o, em que a realidade de homens aprisionados em uma caverna se resumia �s sombras nas paredes. A designer tamb�m buscou refer�ncias no conceito de modernidade l�quida, proposto por Zygmunt Bauman. “Esta � uma met�fora do que estamos vivendo. Nos tempos l�quidos, nada � certo e definitivo. Tudo vai mudando e voc� tem que se adaptar.”

O tema aparece, literalmente, nas estampas dos sapatos. Virg�nia montou em casa uma instala��o com objetos aleat�rios, como boneca e massageador de cabe�a, e fotografou a sombra dela na parede. As dobraduras e os recortes tamb�m se conectam com a caverna de Plat�o. “Voc� nunca v� a realidade como um todo e, dependendo de onde est�, enxerga uma parte diferente. Isso tem a ver tamb�m com o que estamos vivendo hoje, a intoler�ncia com o pensamento do outro.”
 
(foto: Romi Diaz/Divulgação)
(foto: Romi Diaz/Divulga��o)
 
Usando desenhos do artista mineiro Binho Barreto, a designer cria uma estampa intrigante, que tamb�m brinca com a quest�o da perspectiva. Cada p� tem uma parte de um bicho diferente. Quem olhar apenas o esquerdo vai enxergar um p�ssaro. Mas do outro lado vemos um rabo de peixe. Com isso, os desenhos se complementam de forma inesperada e surpreendente.
 
Para representar a ideia da modernidade l�quida, ela pintou em um sapato branco linhas pretas que parecem um l�quido escorrendo. Seguindo o mesmo conceito, fez uma estampa com m�os que est�o pr�ximas, mas n�o se tocam. � um jeito de mostrar como a conex�o entre as pessoas � fr�gil. “Bauman fala isso: o maior atrativo da amizade de Facebook � a facilidade de conectar e desconectar. Quando algu�m quer terminar um relacionamento, � s� bloquear e acabou, n�o tem que conversar.”
 

Sapatos atemporais

Nesta cole��o, Virg�nia reeditou sapatos antigos, mas que considera atemporais. Reconhecendo sua ousadia, ela brinca que eles nunca entraram e nem sa�ram de moda. Por exemplo, a forma de Aladim, com o bico virado para cima, que deve cerca de 15 anos. A modelagem quadrada � outro cl�ssico da marca. “Queria fazer as pessoas andarem dentro de uma caixinha. Quando levei a ideia para a modelista, ela achou que eu estava louca. Isso tem uns nove anos. Mas nunca parei de fazer.”

A designer investiu bastante em botas. Algumas s�o de cano baixo e podem ter salto plataforma tratorado ou salto blocado. Outras, no meio da canela, transitam entre v�rios estilos. Entre estas, os coturnos, incluindo o modelo desenvolvido para a cantora Fernanda Takai usar no show do �lbum “M�sica de brinquedo”. Nesse mesmo comprimento encontramos botas com amarra��o de cima a baixo (s� de enfeite, porque ela se abre com um z�per na lateral, tudo para ficar bem confort�vel).
 
(foto: Romi Diaz/Divulgação)
(foto: Romi Diaz/Divulga��o)
 
A cole��o tem 30 modelos, que est�o sendo lan�ados aos poucos. Virg�nia n�o quer perder sua ess�ncia artesanal, do feito a m�o. Enquanto ela produz de 20 a 30 pares por dia, uma f�brica de m�dio porte chega a fazer mil pares por semana. “N�o tenho assistente de estilo para sapato, fa�o sozinha, no m�ximo meu modelista me d� ideias. Eu mesma gosto de modelar na f�rma. Acho que n�o posso abrir m�o disso, de fazer um produto totalmente autoral, de ser uma sapateira.

Com as roupas, a hist�ria � diferente. Ela n�o tem compromisso de ser autoral. Virg�nia come�ou reproduzindo achados de viagem e n�o parou mais. Um dos vestidos mais vendidos se chama Istambul, porque veio da Turquia. A cal�a Roma segue a mesma l�gica. “N�o estou inventando nada. Fa�o uma roupa do mundo, minimalista e sem estampa, que � o que gosto de usar”, esclarece. Agora lan�ou um casaco de moletom inspirado no quimono japon�s. � trespassado e n�o tem fechamento.

Virg�nia est� com novidades em S�o Paulo. Durante a pandemia, mudou-se para o Bairro Pinheiros e passou a chamar a loja de casa. “Senti que neste momento, para sair de casa, as pessoas precisam ter uma experi�ncia legal e pensei em outro formato de neg�cio. Queria um lugar onde pudesse agregar outros artistas”, explica a designer, que agora recebe convidados escolhidos a partir de uma curadoria bem pessoal, abrindo espa�o para diferentes artes.
 
(foto: Romi Diaz/Divulgação)
(foto: Romi Diaz/Divulga��o)

O projeto come�ou com uma turma de Minas. Quem visita a loja pode conhecer, al�m dos sapatos e roupas de Virg�nia, os objetos de mesa em pedra da Marble Design, os acess�rios de Carlos Penna, a cer�mica da fot�grafa Romi Diaz e a arte da stylist Bianca Perdig�o, que escreve poesias em cupons fiscais e as transforma em quadros, entre outros achados. De dois em dois meses, os criadores mudam. Na pr�xima edi��o, a casa receber� um grupo de cariocas.
 
Em Belo Horizonte, a marca continua com a loja da Savassi. � pequena, mas Virg�nia ama o ponto e n�o pensa em sair de l�. Inaugurado no meio da pandemia, o outlet fica no Mercado Novo, lugar pelo qual a designer se apaixonou. Em outras cidades, como Bras�lia e Rio de Janeiro, onde ela tem um p�blico fiel, a ideia � trabalhar com lojas tempor�rias.


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