(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas entrevista/Adriana Magalh�es - Daniela Magalh�es - 55 anos, administradora 46 anos, advogada

Sem medo de ousar

Irm�s e s�cias ganharam respeito no setor imobili�rio pela capacita��o e compet�ncia, e acabam de fazer uma fus�o que dobrou a empresa de tamanho


29/08/2021 04:00 - atualizado 27/08/2021 15:46

(foto: Cristiano Xavier/Divulgacao.)
(foto: Cristiano Xavier/Divulgacao.)


As irm�s e s�cias Adriana e Daniela Magalh�es come�aram ainda jovens a trabalhar ao lado do pai, no setor imobili�rio. Enfrentaram preconceitos por atuar em um setor predominantemente masculino, mas se fizeram ouvir por terem se capacitado. Fizeram parte de diretoria de �rg�os de representa��o da classe, representam a cidade em associa��o nacional e colocaram a C�u-Lar em destaque, sendo pioneira em diversos t�picos, um deles de ser a primeira imobili�ria a alugar im�vel pelo cart�o de cr�dito, dispensando a figura do avalista. Com 43 anos de funda��o, a dupla dobrou o tamanho da empresa com a recente fus�o feita com a Ageville e semana passada fundiram com a Locus Im�veis.
 
Como come�ou a empresa?
Nosso pai come�ou a trabalhar muito cedo como office-boy do Banco do Com�rcio e Ind�stria, e chegou a gerente. Quando o banco foi vendido para o Banco Nacional, teve um programa de demiss�o volunt�ria e aposentadoria precoce, para “ficarem livres” das pessoas mais velhas e contratarem jovens, e papai optou pela aposentadoria. At� ent�o ele tinha o segundo grau completo, o que hoje � o ensino m�dio, e cursos t�cnicos de rela��es p�blicas e de marketing. Depois de aposentado decidiu fazer Faculdade de Direito. Apesar de parecerem �reas diferentes, estava tudo ligado ao seu objetivo de trabalhar com im�veis.
 

" Era muito estudiosa do mercado e isso fez com que eles vissem que eu n�o estava ali a passeio, n�o era a 'filhinha do papai"

Adriana

 

Ele tinha esse plano?
Daniela – N�o. Durante a faculdade ele trabalhou na imobili�ria de Silvio Ximenez, porque os clientes do banco sempre falavam com ele que queriam vender ou comprar algum im�vel. Ele aproveitou e usou essa carteira de contatos e trabalhou com ela. Ele sempre foi �timo nas rela��es pessoais, � um RP nato, sempre conversou muito, com muita gente. E as pessoas sempre falando com ele da inten��o de comprar, vender ou alugar.

Depois de formado abriu a imobili�ria?
Adriana – N�o, em 1978, ele se tornou um corretor de im�veis aut�nomo e criou o nome fantasia C�u-Lar, tomando como base os dois fundamentos de maior valor para ele na vida: Deus e a fam�lia. N�o abriu empresa, ficava em um escrit�rio pequeno. Dois anos depois, quanto eu estava com 14 anos, comecei a trabalhar com meu pai, como secret�ria, na parte da tarde – porque estudava pela manh� –, para ele poder ir ao banco, sair com clientes etc.

Quando ele abriu a empresa formalmente?
Adriana – Quando eu me formei em administra��o, em 1989, ele formou a empresa j� me colocando como s�cia. Meu irm�o ainda estudava direito e a Daniela menininha. Desde ent�o, eu me intitulada administradora da empresa, comecei a atuar diretamente no mercado.

Era o seu sonho trabalhar com im�veis, ou queria outra coisa e a vida mudou seu caminho?
Adriana – N�o, eu queria outra coisa, e nosso pai nunca nos influenciou ou pressionou para que f�ssemos seus sucessores. Meu primeiro vestibular foi para fisioterapia e terapia ocupacional, que na �poca era um curso s�. Estudei na Ci�ncias M�dicas um ano e meio. Estudava pela manh� e continuava trabalhando com meu pai � tarde. Mas entrou a �poca de est�gio na faculdade, e fui estagiar em uma cl�nica para crian�as excepcionais que tinha na Rua Gr�o Mogol, e comecei a cuidar de um menino com paralisia cerebral, mas isso me afetou muito emocionalmente, ficava muito impactada com a situa��o. Decidi trancar matr�cula e fazer algum curso mais na �rea do trabalho que eu j� fazia. Se gostasse, mudaria de �rea. Fiz vestibular para administra��o, e gostei muito do curso. E eu gostava de atender clientes. Nunca mais voltei para a fisioterapia.

N�o se arrependeu?
Adriana – N�o, me realizei na administra��o. J� na faculdade, gostei muito das disciplinas gest�o, marketing, economia. Mas o que me encanta mesmo em ser empres�ria, muito mais do que ser administradora, � o desafio do dia a dia de apagar inc�ndios. Sou muito criativa e r�pida na tomada de decis�es, eu gosto de resolver problemas. Um dos livros de que mais gosto, e indico para muita gente, � “Oba, eu tenho problemas”. Todos n�s – exceto nossa irm� mais velha –, come�amos a trabalhar na imobili�ria como sendo o primeiro emprego, para depois seguir o nosso caminho. Mas a forma como meu pai lidava com o trabalho, o amor e o prazer que sempre teve em atender os clientes eram t�o encantadores que nos tocou muito. Acredito que nos marcou e nos atraiu para a empresa. O mercado imobili�rio � muito rico, tenho 40 anos de profiss�o e todo dia aprendo alguma coisa, nenhum neg�cio � igual ao outro. Hoje, sou diretora comercial. Por�m a vida d� voltas, e atualmente ajudo como volunt�ria em um programa com crian�as portadoras de necessidades especiais.

Como foi sua trajet�ria e entrada na empresa?
Daniela – Comecei a trabalhar na empresa aos 21 anos, quando cursava direito, o que sempre quis fazer. Nasci quase junto com a imobili�ria. Nas f�rias, sempre ajudava. Assim que me formei ele me colocou como s�cia, escreveu uma linda carta me passando parte da empresa. Eu me senti muito prestigiada, honrad�ssima. Comecei de office-girl, passei por todos os setores da empresa, e hoje sou diretora administrativa e financeira. Todos n�s passamos por todos os setores. Chamamos de Servi�os Gerais. 

E o seu irm�o?
Ele � s�cio tamb�m, trabalhou um tempo no Servi�os Gerais fazendo de tudo, mas nunca atuou na gest�o, porque fez direito e atua como advogado. Ele cuida do nosso jur�dico, e � conselheiro na empresa. � professor n�vel Brasil de direito imobili�rio.

Quando seu pai se afastou da empresa?
Em 1996. At� essa �poca, ocup�vamos um im�vel do nosso pai, mas estava pequeno porque a imobili�ria tinha crescido muito, ent�o alugamos uma casa maior no Santo Agostinho, e nos dias de mudar nosso pai disse que n�o iria conosco. Foi um susto, questionamos essa fala, mas ele disse que ficaria l� e iria advogar a partir daquele momento, e que a imobili�ria ficaria nas nossas m�os. Ele literalmente abandou a imobili�ria.

Como voc�s se sentiram?
Inseguras e com medo. Chegamos a falar com ele que n�o dar�amos conta, que precis�vamos dele, mas ele disse que est�vamos mais que preparadas. E n�o mudou sua decis�o. Isso nos deu for�a, nos encorajou. Desde ent�o, estamos no comando. Quando completamos 40 anos de empresa vimos que em 20 anos estivemos os quatro juntos e nos outros 20 apenas n�s duas. Estamos com 43 anos de imobili�ria. Todas as consultorias que contratamos falam que nossos perfis s�o complementares, acreditamos que nosso pai viu isso l� atr�s, e quando a Daniela entrou, percebeu que a empresa j� estava estruturada e poderia seguir sem sua presen�a.

E como foi ser duas mulheres � frente de uma empresa em um mercado t�o masculino?
Adriana – N�s pegamos momentos diferentes. Daniela j� entrou com o mercado um pouco mais feminino, mas quando eu entrei era a �nica mulher no meio. Nosso mundo ainda � muito machista; naquela �poca, ent�o, nem se fala. Eu, muito jovem, separada, com filho pequeno e respons�vel por uma imobili�ria. O que fez ter respeito dos meus pares e dos clientes tamb�m � porque me qualifiquei muito. Todos os cursos que existiam e todos os congressos que eram feitos eu participava. Era muito estudiosa do mercado e isso fez com que eles vissem que eu n�o estava ali a passeio, n�o era a “filhinha do papai”, ou de forma superficial, mas eu tinha conte�do. O que fez valer a minha voz e a da Daniela depois foi a compet�ncia, ralamos para nos posicionar. Quando estamos em reuni�o – isso no verbo presente mesmo –, a tend�ncia � que nossa voz n�o seja ouvida. In�meras vezes falo alguma coisa e ningu�m ouve, uma hora depois, um homem fala exatamente a mesma coisa e todos concordam. E eu digo, falei isso l� no in�cio. � chocante, impressionante, mas ocorre.
Daniela – Isso independe da �poca. At� hoje nossa voz � ouvida e temos representatividade aonde vamos, porque tudo � com muito conceito, muita base e muito conte�do. Falamos com significado, com sentido. J� fui presidente do Conselho Empresarial da Mulher, na C�mara do Mercado Imobili�rio (CMI), e o objetivo da cria��o do conselho, em 2014, foi para trazer mais mulheres para este setor. Porque quando abrimos, as esposas eram s�cias, mas atuavam nos bastidores, muitas vezes tinham cargo na diretoria, mas n�o participavam dos cursos, reuni�es, eventos, que geralmente ocorriam � noite. Eles fechavam a imobili�ria, os maridos iam �s reuni�es e elas iam para casa cuidar dos filhos, da casa, etc. A Adriana atuava diretamente. Quando criamos o Conselho, lig�vamos para todas incentivando cada uma a participar, e deu certo. A C�ssia Ximenez � a primeira mulher presidente da CMI, hoje Secovi-MG (Sindicato do Mercado Imobili�rio) Regional de Minas Gerais.

Adriana, voc� chegou a participar da diretoria de algum desses �rg�os?
Fui de v�rias diretorias da CMI – criada com total apoio do jornal Estado de Minas – e cheguei v�rias vezes a ser vice-presidente, e j� fui da diretoria do Secovi tamb�m. Fui jurada, a convite do jornal, da primeira edi��o do pr�mio PQEX – Programa de Qualidade e Excel�ncia Empresarial, dado em tr�s categorias e criado pela CMI em 2005, quando eu erada diretoria e o Ariano Cavalcanti era o presidente. O Estado de Minas foi o grande patrocinador por muitos anos. Depois, por eu ser de uma imobili�ria, sai do j�ri, para n�o gerar questionamentos com rela��o � isen��o na vota��o e n�o prejudicar a participa��o da empresa, e ganhamos todos os anos em diversas categorias. Tamb�m fui colunista do jornal or muitos anos, rpresentando a CMI.

Houve uma grande mudan�a na forma de atuar no mercado com a entrada forte da internet. Como foi isso para voc�s?
Apesar de a C�u-Lar ter 43 anos, ela � jovial, fazemos de tudo para que a empresa esteja dentro do formato mais moderno. N�o paramos no tempo. Somos pioneiros, e para ser pioneira a bandeira � pesada, porque tem que continuar. Somos incans�veis e procuramos trazer tudo o que vemos de novo para a nossa empresa. N�s fomos a primeira imobili�ria a fazer laudo de vistoria fotogr�fico. Antes era um laudo descritivo, e decidimos fotografar porque assim ningu�m tem como contestar. Ainda na �poca de m�quina fotogr�fica com filme. Revel�vamos e mand�vamos encadernar. Hoje est� tudo digitalizado. Fomos convidadas a participar da Associa��o Brasileira do Mercado Imobili�rio (ABMI) representando Belo Horizonte, e com isso vemos o cen�rio nacional do setor, tudo que tem de novo, o que deu certo e o que n�o deu. Quando fizemos 40 anos, trouxemos muitas coisas que t�m a pegada da internet, como por exemplo alugar im�vel com cart�o de cr�dito sem fiador. Viramos case. Tudo que achamos bom, implantamos aqui. H� sete anos, j� t�nhamos toda nossa carteira de clientes e todos os im�veis digitalizados, os contratos s�o com assinaturas digitais, desburocratizamos ao m�ximo. Nossos clientes n�o precisam mais reconhecer firma em cart�rio. Em 2005, fomos convidadas a nos associar � rede Net-im�veis. Hoje est� em n�vel nacional, mas quando ela foi criada, em 1995, o objetivo era criar uma rede onde todas as imobili�rias pudessem ver tudo o que estava dispon�vel no mercado, para atender melhor o cliente. Antes, se precisasse de um im�vel que n�o tinha na minha imobili�ria, precisava mandar fax para todas as imobili�rias para ach�-lo, para n�o perder o cliente, e fazia parceria. Isso demandava tempo. Com a rede, fica uma base �nica de im�veis, o que agiliza o processo.

Voc�s acabaram de fazer uma fus�o com a Ageville. Como foi isso?
O Sr. Am�rico Renn� Giannetti faleceu, os filhos t�m seus pr�prios neg�cios e n�o pretendiam assumir a imobili�ria do pai. Por incr�vel que pare�a, a Ageville era da mesma idade e do mesmo tamanho da C�u-Lar em termos de carteira de clientes, e com um perfil muito similar. Por isso a fus�o seria bem-sucedida. Fizemos a fus�o em julho e com isso a C�u-Lar dobrou de tamanho, e toda a carteira j� est� unificada e no nosso sistema digital. Alguns funcion�rios da Ageville vieram trabalhar conosco. Para os clientes, foi como se tivesse havido uma troca de endere�os apenas. A reuni�o que fizemos com Elaene Giannetti e as filhas J�nia e Jacqueline foi de grande emo��o, eu e as meninas chegamos a chorar. Ela disse que s� deixaria sair da fam�lia para entrar em outra fam�lia, e saber que os clientes seriam bem cuidados. Foi uma honra ela confiar em n�s para passar o legado de uma vida e depositar em nossas m�os.

Existe um la�o emocional no trabalho de voc�s?
O im�vel carrega uma hist�ria, at� no im�vel comercial, quantos sonhos est�o l� dentro. Damos muito valor e sentimos isso. J� fizemos reuni�o de venda com cerca de 14 pessoas de um lado da mesa e uns dez do outro lado, assinando. Herdeiros vendendo e fam�lia comprando. Na reuni�o, cada um conta uma hist�ria, � um momento no qual a mem�ria aflora, o saudosismo aflora. Imposs�vel ficar indiferente a essas situa��es. � gratificante participar desses momentos. Lidamos com gente, com suas vidas, hist�rias, sonhos. Criamos la�os com nossos clientes. Anos depois, quando nos reencontramos, eles relembram com alegria essas situa��es.

Como ficou o mercado na pandemia?
Em mar�o de 2020, parou tudo. Todo mundo com medo, sem saber o que viria pela frente. Mas, na verdade, o mercado imobili�rio estava estagnado h� mais de cinco anos, antes de a pandemia come�ar. Superofertado e os pre�os parados, tanto no im�vel comercial quanto no residencial. As construtoras estavam se movimentando, mas extremamente temerosas, por causa da lei de ocupa��o do solo. E com estoque cheio. Um dos setores que reagiram primeiro foi o imobili�rio, porque todo mundo ficou trancado em casa, local onde normalmente s� iam para dormir. A casa passou a ser local de lazer, prazer, refei��o, estudo, trabalho. Com isso as pessoas resolveram reformar ou mudar. E a taxa de juros foi a menor da hist�ria do pa�s. O governo tinha que dar esse incentivo para as pessoas voltarem a consumir, porque fora farm�cia e supermercado, as pessoas n�o compravam nada. Com isso ficou muito atraente, juntou a fome com a vontade de comer: estoque dispon�vel e pre�o atraente. A procura maior foi por casa, lote, apartamento de cobertura, com �rea privativa ou com varanda, para ter contato com a natureza, ter um respiro de alguma forma. Essa foi a maior demanda. Acreditamos que agora entraremos em um formato de trabalho h�brido, alguns dias em home office e alguns dias em escrit�rio, porque a procura por im�veis comerciais tamb�m cresceu bastante e tem aumentado.

Voc� disse que faz trabalho volunt�rio. Fale um pouco sobre ele.
Sempre gostei e acreditei muito no voluntariado. Hoje, atuo em dois projetos sociais. O primeiro � em Contagem, em uma institui��o chamada Cais – Centro de Atendimento e Inclus�o Social, crian�as com defici�ncia, a maioria autista, e fazemos atendimento pelo SUS de fisioterapia, terapia ocupacional, pediatria, enfim, tudo o que eles precisam e tem outras atividades mais l�dicas como m�sica, arte etc. S�o cerca de 500 atendimentos por m�s. Recebemos dinheiro do SUS e mais doa��es. O segundo veio mais com o cora��o. Fiquei conhecendo a Dinor� na pastoral do Belvedere. Ela � moradora da Vila S�o Jo�o, no Bairro Pilar, e h� 11 anos ela ficou desempregada, e viu da janela de sua casa duas crian�as sendo usadas de avi�ozinho para entrega de droga. Ela n�o conseguiu ficar impass�vel diante daquela cena e chamou os dois para dentro de sua casa e ficou brincando, jogando, desenhando com eles. Come�ou com esses dois e hoje s�o 120 crian�as. Ela fica com as crian�as depois da escola at� os pais retornarem do trabalho, para eles n�o ficarem na rua. Conheci o trabalho quando doamos pertences de um cliente que estava viajando e precisava desocupar o apartamento que tinha sido vendido. Levei as coisas para ela e conheci o trabalho. Fiquei encantada e me envolvi completamente, porque ela tinha muita vontade e for�a de trabalho, mas faltava organiza��o. Entrei de cabe�a, j� organizamos tudo e ela abriu oficialmente a institui��o, que se chama Programa Social Pequeninos do Amor. Chamei algumas amigas e assumimos alguns cargos da diretoria para ajud�-la. � muito compensador. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)