As amigas Anna Paula Costa e Cynthia Jaber tinham um sonho de abrir um neg�cio juntas, que de certa forma unisse a expertise das duas. Ana Paula � educadora, e Cynthia, representante t�xtil. Depois de anos conversando, a ideia s� surgiu em outubro de 2020, em meio � pandemia. Criar uma marca que usasse como mat�ria-prima a arte de pessoas especiais. Assim nasceu a Pim Estilo. Em 45 dias tudo estava pronto e no lan�amento toda a cole��o se esgotou. Um ano depois, a dupla lan�a a terceira cole��o e o desafio � encontrar novos artistas.
A inten��o de abrir um neg�cio juntas j� existia. Em setembro de 2020, a primeira ideia era abrir uma empresa que trabalhasse com tecido de qualidade e pre�o acess�vel (expertise de Cynthia). Anna Paula, mulher de muita personalidade, sempre foi muito decidida, com estilo bem definido e muito determinada, e como compradora sempre soube o que queria. Anna Paula � psic�loga e pedagoga, come�ou como professora na educa��o infantil, no Pit�goras, e chegou ao cargo de diretora. � autora de in�meros livros e capacitou centenas de milhares de professores em todo do pa�s. Desde crian�a, sempre teve muito contato com crian�as com s�ndrome de Down porque sua av� trabalhou com Helena Antipoff, e foi a primeira pedagoga formada no Brasil, e montou em Belo Horizonte o Instituto de Reeduca��o Santa Terezinha, para trabalhar com os portadores da s�ndrome de Down, “e todos os s�bados tinha apresenta��o das crian�as para seus pais e n�s �amos. Desde pequena convivo com essas crian�as. Elas s�o muito amorosas, algumas mais agressivas, mas me acostumei e conv�vio muito bem com elas desde os meus 4 anos. Quando Cynthia veio com a ideia sab�amos que quer�amos uma moda de qualidade, diferente, mas ainda n�o sab�amos o que era”.
No feriado de outubro de 2020, Anna Paula e a amiga Tati Mares Guia fizeram uma viagem juntas, com suas fam�lias, para Arraial d’Ajuda. Tati e o marido, Jack Corr�a, t�m dois filhos especiais, um deles, Augusto, tem s�ndrome de Down e gosta muito de desenhar. Foi nessa viagem que Anna Paula, vendo o desenho, teve o insight. Pediu � amiga se poderia transformar aquele desenho em um pan� para vender como canga, e Tati concordou. Ideia compartilhada com Cynthia, e totalmente aprovada.
Depois de muita pesquisa, encontraram a Tratti T�xtil, no Esp�rito Santo, que ajudou em todo o processo de confec��o. A ideia era fazer 120 pe�as, e a dupla vendeu 700. Aumentaram a cole��o, criaram novas pe�as e fizeram o lan�amento em 4 de dezembro de 2020, na cozinha gourmet do Bouquet Garni, para 60 pessoas. Foi um sucesso total. Venderam praticamente toda a cole��o e abriram lista de espera.
“Assim nasceu a Pim Estilo. Queremos dar voz a essas pessoas especiais, que t�m tanto talento, valoriz�-las, mostrar a elas, �s suas fam�lias e � sociedade que elas s�o capazes, que podem ser produtivas e podem ter sua renda. Esse � o prop�sito da Pim Estilo. N�o ficaremos ref�ns do calend�rio de moda, porque nossa proposta � ir al�m. Queremos lan�ar produtos �teis com estampas de pessoas portadoras de necessidades especiais, sejam elas autistas, com s�ndrome de Down, cadeirantes, cegas, mudas, n�o interessa qual o tipo de defici�ncia, o importante � o talento”, explica Anna Paula Costa, que � mais conhecida por seu apelido, Pim, que deu nome � marca.
A empresa ganhou um apoio de peso no primeiro lan�amento. A empres�ria mineira �rika Mares Guia, que reside em S�o Paulo h� anos, colocou as pe�as na sua loja CJ Mares. Em uma produ��o que fez, colocou uma canga na bolsa de algumas top models com a tag explicando a proposta da nova label e todas postaram fotos com o pan�, como Alessandra Ambr�sio e Renata Kuerten, o que ajudou a divulgar o trabalho, mas as vendas aumentam mesmo quando pessoas comuns d�o seus depoimentos e fazem seus posts.
A Pim Estilo � a primeira marca no pa�s de moda inclusiva. Outras grifes j� fizeram a��es espor�dicas, mas a empresa, que tem como DNA esta causa, � a das mineiras Anna Paula Costa e Cynthia Jaber, as precursoras. Como os portadores de necessidades especiais s�o considerados, legalmente, incapazes, � preciso ter um respons�vel legal. No caso do Augusto Corr�a, � sua m�e, Tati. Ela � consultada para aprova��o de cada interfer�ncia que querem fazer nos desenhos.
O artista Augusto Corr�a tem 21 anos, e seus desenhos s�o sequ�ncia de pequenos quadrados. A combina��o e mudan�a de cores d�o o movimento e criam desenhos que emocionam. A primeira cole��o da Pim foi com os quadrados; a segunda foi com as bolas, e as s�cias fizeram algumas interfer�ncias, inserindo imagens de animais, como on�a, tigre, borboletas, dando um toque animal print.
A cole��o para o ver�o 2022 veio carregada de for�a, e como interfer�ncia entrou o drag�o, um dos animais preferidos do artista. Al�m de pan�s, camisas, chemises, vestidos, len�os, saias, blusas, batas, pare�s, cafet�s introduziram os quimonos, bolsas com forro estampado, n�cessaire e jogo americano.
O artista ganha um percentual sobre cada pe�a vendida. O primeiro valor a educadora fez quest�o de levar em esp�cie, para que Augusto sentisse e entendesse que se tratava do valor do seu trabalho, uma remunera��o para ele comprar coisas de que precisasse. A partir da�, a m�e abriu uma previd�ncia privada para ele, pois PNEs n�o podem ter conta banc�ria. Augusto se emocionou muito quando viu seu desenho em uma canga. E mais ainda quando viu o chemise que sua m�e usaria no lan�amento.
Uma das cenas marcantes foi a fam�lia Corr�a no aeroporto. Acostumados a atra�rem o olhar das pessoas por terem dois filhos especiais, em uma das viagens, por�m, enquanto os pais faziam o chek-in, Augusto ficou um pouco para tr�s e foi abordado por uma mulher. O pai correu ao seu encontro. Augusto tem dificuldade de fala, mas entende o que as pessoas falam. E ela estava perguntando se ele era o artista Augusto Corr�a, e dizendo que tinha comprado toda a cole��o dele e dando parab�ns pela beleza de seu trabalho.
“Esse � o nosso objetivo, que essas pessoas sejam valorizadas, reconhecidas n�o pelas suas limita��es, mas pelo seu talento. Isso serviu para comprovar que estamos no caminho certo. Queremos que grandes empresas abracem nossa causa. Queremos colocar o trabalho de todos eles em sacolas retorn�veis de supermercados, em caixas de produtos, em uniformes de empresas”, explicam.
Segundo o IBGE, existem 45 milh�es de portadores de necessidades especiais no pa�s e apenas 16 milh�es est�o empregados. “Esse � o nosso desfio, encontrar esses talentos, porque muitos n�o s�o valorizados pela pr�pria fam�lia. O mais dif�cil � fazer essa curadoria. Nosso pr�ximo artista � um menino de 11 anos, de Esperantina, no Piau�. Ele faz um trabalho completamente diferente, � uma pintura abstrata, mas com uma combina��o de cores maravilhosa. Seu nome � Jo�o Elyo, e ele foi convidado para expor suas obras no Carrossel do Louvre, em Paris, em abril do pr�ximo ano.”
Outro grande desfio das empres�rias � encontrar lojas para revenderem as pe�as. Por enquanto, as vendas est�o sendo feitas pelo Instagram da marca @pimestilo.