
Quem conhece Renata Pacheco se depara com uma linda mulher, alegre, simp�tica, extrovertida, segura e determinada e jamais poder� imaginar o que ela passou na inf�ncia e adolesc�ncia. Renata veio de fam�lia muito pobre e era filha de pai alco�latra, que passava meses fora de casa. Apanhou muito, sofreu amea�a de estupro, come�ou a trabalhar aos oito anos e ouvia, com frequ�ncia, que era muito feia.
Na adolesc�ncia, ganhou um alongamento capilar, com sobras de cabelo, se achou linda e ganhou o primeiro elogio por parte de seu pai. Viu que aquilo poderia mudar a vida das pessoas e encontrou o seu prop�sito. Hoje, � uma renomada profissional, com 12 anos de mercado. Tem uma unidade da Renata Pacheco Hair Clinic no Bairro Gutierrez e acaba de abrir a segunda na Mans�o dos Abras, em Lourdes. Renata transformou todo o seu sofrimento em for�a e aprendizado para vencer, e conseguiu.
Conta um pouco da sua hist�ria.
Sabe aquela vida ruim, era a minha. Sofri com pai, m�e, fui espancada, sofri tentativa de estupro, passei fome. A minha inf�ncia foi muito sofrida. Morava em periferia. Meu pai era um homem branco e minha m�e, preta, e ele tinha muito preconceito do meu cabelo, porque era curtinho, afro, mas que n�o dava molde, ruinzinho mesmo. Ele era alco�latra e sempre falava do meu cabelo. Eu tinha uma amiga, a Bruna, que tinha um cabelo lindo e meu pai olhava para ela e para mim e sempre fala, “porque Deus me deu uma filha feia com esse cabelo ruim assim”. E isso ficou na minha cabe�a. O �nico momento que eu lembro que fui feliz foi quando ganhei meu primeiro cabelo. Me senti a Bruna, e teria a aceita��o do meu pai.
Como ganhou o cabelo?
Minha m�e trabalhava em um sal�o que fazia megahair e eu ficava l� varrendo o sal�o. Eu ficava enlouquecida com os cabelos. Meu cabelo n�o cresce, ele � extremamente fino, e quando chega em um determinado tamanho, quebra. Ele n�o n�o tem peso e minha fase tel�gena (queda) � cr�nica. Hoje, ele est� assim porque j� fiz muito tratamento. Alguns pontos da cabe�a ele n�o cresce por causa da tra��o dos m�todos antigos de alongamento. Enfim, eu tinha uns 10 anos e a dona do sal�o me doou um alongamento. Na �poca era amarra��o com gominha, e como meu cabelo era muito curto, as gominhas apareciam, mas eu estava me achando linda, porque tinha cabelo. Cada cabelo era de um tamanho, porque era doa��o, estava horr�vel, mas achei lindo porque podia balan�ar de um lado para o outro. Estava linda como a minha amiga. Foi o dia mais feliz da minha vida.
O que seu pai disse quando viu?
Meu pai sumia meses por causa da bebida, s� pareceu seis meses depois que eu tinha colocado o cabelo. Eu n�o tinha dinheiro para fazer manuten��o – porque a gente passava fome mesmo –, ent�o o cabelo j� estava daquele jeito. Mesmo assim, quando ele me viu ele disse “nossa, voc� est� t�o bonita”. Foi a �nica vez que ele me fez um elogio. Ele n�o era um pai ruim, mas era muito alco�latra. Hoje sou bem resolvida, ele deu o que podia dar.
"Mulheres que tiraram os dois seios por causa do c�ncer dizem que foi pior perder o cabelo"
Como entrou no ramo de cabelo?
Gostava de trabalhar em sal�o, mas estava sem prop�sito na vida. Ouvi falar de um m�todo chamado microlink, que era a revolu��o. Prendia o cabelo com um anelzinho. Propus para uma amiga fazer microlink nela e ela topou. Fui � galeria do ouvidor, comprei o cabelo, aprendi l� como fazia e coloquei nela. Quando terminei – ficou p�ssimo –, mas ela achou lindo. Se olhou no espelho e o olho brilhou. Nessa hora me lembrei do que senti quando coloquei meu primeiro alongamento, e isso conectou com o que ela sentiu ali. Na hora eu entendi que esse era o meu prop�sito na vida. Eu era manicure e comecei a estudar pelo Youtube. Vi que s� aquilo n�o daria certo. Comecei a juntar dinheiro, mas a vida era muito dif�cil. Fiz o primeiro curso de coloca��o de cabelo amarrado, passei para o microlink, depois queratina.
E a� voc� j� estava trabalhando com cabelo?
J�. Colocava os cabelos, ficava lindo, mas tr�s meses depois a cliente vinha para manuten��o e quando a gente tirava a perda capilar era de 10 a 20% do cabelo, por causa do m�todo. Isso me incomodava muito.
Nos cursos eles avisavam dessa perda?
Sim, e eu falava com as clientes. Todo mundo sabia, mas eu n�o tenho forma��o acad�mica. Estudei at� a 5ª s�rie, n�o tinha instru��o para falar direito com a cliente. Dizia que ela podia perder um pouco de cabelo na retirada, mas n�o conseguia visualizar o que representava, em volume, esse percentual. Isso me incomodava demais. Depois que sa�mos do sal�o de megahair, minha m�e abriu um sal�o em uma garagem muito pequena, no Prado, onde virei manicure, aos 12 anos. Tudo l� era R$ 1,99.
O que voc� fez?
Quando surgiu o alongamento adesivado fiquei enlouquecida porque a primeira coisa que estava escrito � que n�o danificava o cabelo. Uma profissional estrangeira veio ao Rio de Janeiro dar um curso, vendi meu carro velhinho e fui. Enlouqueci. Como sempre fui ligada na sa�de, aproximei cada vez mais as duas coisas. Estudei cada vez mais sobre o tema: tricologia, terapia capilar, etc. A situa��o financeira melhorou, comecei a fazer cursos no exterior. Tudo que voc� pensar de estudo na �rea, eu fiz, at� qu�mica. Vou a congressos, enfim, tudo de sa�de capilar e alongamento eu estudo.
Voc� foi precursora desse m�todo aqui em Belo Horizonte?
Sim, e me orgulho disso. Acreditei no processo, quebrei todos os paradigmas que tinham sobre alongamento e megahair. Porque antigamente ningu�m queria saber. Lutei muito, porque as pessoas n�o acreditavam.
Hoje, o alongamento ajuda no tratamento?
Ajuda. Tenho clientes que usam alongamento por dois anos e depois n�o precisam mais porque o cabelo j� cresceu e fortaleceu o tanto que precisava.
Teve preconceito no in�cio com rela��o ao uso de cabelo de pessoas mortas?
Existia todo tipo de preconceito. O primeiro era que s� preto usava, que era sujo, de periferia, cabelo de gente morta. Conseguimos introduzir a classe AA no alongamento e preenchimento. Uma vez comprei um quilo de cabelo indiano louro. Coloquei em sete pessoas. Uma delas foi em uma amiga. Com o dinheiro eu e essa amiga fomos com nossos filhos para a praia. Comecei a receber mensagens das clientes que o cabelo estava embolando. Minha amiga foi nadar no mar e eu disse para ela fazer uma tran�a. Quando ela saiu, o cabelo tinha virado um dread. Voltamos da praia e fiquei um dia inteiro desembara�ando o cabelo. Sou muito observadora, eu vi como ela ficou com a situa��o. Foi quando decidi que s� trabalharia com cabelo brasileiro e do sul do pa�s, que � um cabelo mais fino por causa da miscigena��o europeia. Cabelo � muito caro, comprei mais um quilo de cabelo e troquei dela e de todas as clientes.
Como � o processo para coloca��o de um alongamento?
Primeiro precisamos fazer uma avalia��o do cabelo da cliente. Quanto cabelo natural ela tem, a qualidade do fio, para ver se aguenta receber o alongamento, e de que comprimento pode ser. A maioria pode. �s vezes, temos de reduzir um pouco no comprimento desejado. Essa avalia��o � feita por mim e pela tricologista. Nossa primeira preocupa��o � com a sa�de do cabelo. Aqui n�s temos como premissa a sa�de capilar e se alguma coisa vai prejudicar o cabelo, n�o fazemos. Na avalia��o estudo ondula��o, cor e textura etc. Fa�o o diagn�stico e em cima dele escolho a quantidade do cabelo que ser� colocado, a textura mais pr�xima do cabelo da cliente, a cor. Cor � essencial, estudei cor por cinco anos. Quando olho o cabelo de algu�m sei direitinho onde est� o cabelo da pessoa e onde � alongamento por causa da cor. Quando precisa, troco a cor. Tudo isso para ficar o mais parecido com o cabelo real da cliente.
Quanto tempo dura a avalia��o?
Depende, no m�nimo 40 minutos e pode durar at� duas horas. � na primeira avalia��o que entendo o cliente. Tanto do cabelo quanto do perfil. A primeira conversa � a mais importante. Trazemos muitos cabelos, mostramos todos, cores pr�ximas, variedade de comprimentos, a pessoa fala o que ela quer, o que sente, conta a hist�ria da vida dela com o cabelo. Para n�s, o hist�rico � muito importante. Assim, a chance de errar � m�nima.
A cliente tem que vir com o cabelo ao natural?
� o ideal. Ela lava em casa, deixar secar ao natural e vem, ou ent�o traz uma foto. Se n�o, lavamos e esperamos secar. Mas isso depende muito da rotina da pessoa. Se a pessoa lava e escova o cabelo dia sim dia n�o, e nunca sai dessa rotina, est� apta a receber qualquer tipo de cabelo porque sempre estar� arrumada. Mas se ela costuma sair com o cabelo ao natural, tem que ser o mais pr�ximo poss�vel do dela, para n�o dar diferen�a, se n�o, vira escrava do cabelo.
A primeira entrevista acaba sendo uma experi�ncia de autoconhecimento?
Falo sempre que nosso cabelo � nossa coroa. Ele � muito importante para a mulher. A maioria das mulheres, quando chegam aqui est�o sofridas, com problemas de autoestima por causa do cabelo, ou da falta dele. O primeiro encontro � o momento do acolhimento. Quando lidamos com cabelo, estamos lidando com sentimento, e quando � a primeira vez, existe muita inseguran�a, porque est� mexendo na imagem da pessoa. Fizemos todo um estudo para que a cliente se sinta extremamente acolhida neste momento, porque ele � �nico. � s� voc� e a cliente. A manuten��o pode ser feita no sal�o grande, mas os primeiros atendimentos s�o feitos em salas reservadas para captar o que ela quer.
Voc� disse que a cliente fica insegura. Elas sabem de fato o que querem?
Sim, mas existe a inseguran�a que tira um pouco a coragem do desejo real. Muitas vezes a cliente diz que quer cabelo curto, mas, na verdade, quer longo.
Como percebem isso?
Prestamos muita aten��o na linguagem corporal. Eu tenho 18 cabelos, troco de cabelo igual troco de roupa. No dia que compro um cabelo novo eu n�o consigo dormir de noite porque fico ansiosa com a coloca��o no dia seguinte. E eu uso alongamento a vida toda. Depois de tudo decidido, colocamos o cabelo. Ap�s tr�s dias a cliente volta para sabermos como ela est� se sentindo, se gostou do cabelo e do visual. Se sentiu que o cabelo � dela. Se n�o estiver satisfeita, trocamos. Se gostou, ensinamos como lavar e cuidar dos cabelos em casa.
O que faz com o cabelo que voc� retira porque a cliente n�o gostou?
O percentual de insatisfa��o � m�nimo, porque somos muito assertivas, mas quando ocorre, retiramos, higienizamos e doamos o cabelo para algu�m que deseja muito e n�o tem condi��es de fazer.
Como faz quando a cliente tem uma alop�cia muito extensa?
A gente tenta intercalar. Agora estou trazendo uma profissional de Israel que trabalha com pr�tese para come�armos esse trabalho, porque tem casos que infelizmente a fita n�o resolve mais. Tem mulheres que retiram os dois seios por causa do c�ncer e dizem que o mais dif�cil foi perder o cabelo.
Pode guardar o cabelo do alongamento?
Sim. A maioria das minhas clientes tem mais de um cabelo. A gente tira, faz a higieniza��o, guarda no estojo, ela leva para casa e colocamos outro. Dura uma vida. Tenho cabelo de nove anos. O cabelo louro � mais complicado porque ele quebra muito por causa da qu�mica, mas a durabilidade � muito grande.
Qual o valor para colocar um alongamento?
Cabelo � caro. Vai de R$ 3 mil a R$ 25 mil. A m�o de obra, que � a coloca��o em si, n�o � cara. Mas fazemos parcelamento e agora estamos fechando uma parceria com um banco para um empr�stimo e cart�o de cr�dito com benef�cios s� para a Renata Pacheco, para viabilizar para pessoas que precisam, assim o juros fica mais em conta.
Hoje voc� tem produtos de tratamento capilar. Por que desenvolveu essa linha?
Todos os produtos de f�bricas internacionais s�o feitos para cabelos americanos ou europeus. Outra quest�o � que o alongamento adesivado usa uma colinha que sai com �leo e �lcool que est�o presentes na maioria dos xampus que existem. Condicionador e m�scara n�o t�m problema. Para lavar a raiz, precisa ser um xampu especial, sem esses ingredientes para n�o melar e nem soltar a fita. Outra coisa, nosso cabelo quando cai est� morto porque n�o tem mais c�lula, mas temos as gl�ndulas seb�ceas que trazem �leo que nutre. O cabelo do alongamento n�o tem isso mais. Eu precisava de uma m�scara que fosse regeneradora para os fios do alongamento que n�o tem mais esse tratamento oleoso. A minha linha � s� para quem tem alongamento. Quem n�o tem, pode usar tamb�m porque ela � maravilhosa. Foi toda desenvolvida por mim, por uma dermatologista e por um qu�mico. Testamos por dois anos.
O que sente quando para e v� toda sua vida?
Tenho uma gratid�o enorme pelo que eu passei na minha vida, porque se n�o fosse o que eu passei na minha inf�ncia, eu n�o seria a Renata Pacheco. Foi tudo isso que me fez ser a profissional que sou hoje, com a minha sensibilidade, determina��o e certeza da import�ncia do meu trabalho para a felicidade de outra pessoa. Sou grata �s minhas clientes, porque eu falava tudo errado, elas me ensinaram a falar. Sempre tiveram muito carinho comigo. Tenho que ter muita gratid�o e orgulho de ter conseguido.
Como foi abrir uma segunda unidade em uma mans�o em Lourdes?
Os outros profissionais do meu setor s�o muito distantes. N�o somos uma categoria unida, se fossemos, talves j� tiv�ssemos conseguido mais coisas. Ter um espa�o que faz alongamento dentro de uma cl�nica m�dica, � algo que nenhum de n�s poderia imaginar. Fiquei muito lisonjeada e feliz quando o dr. Gustavo Aquino me fez o convite. Quem falou de mim para ele, foi uma cliente em comum. Tem v�rios m�dicos que me indicam para suas clientes. Essa � a conquista dessa luta pela sa�de que eu me propus a fazer. O alongamento � muito mais que beleza, � sa�de tamb�m.