
O Grupo Laces vai representar o setor da beleza do Brasil na 27ª Confer�ncia das Partes das Na��es Unidas sobre Mudan�as Clim�ticas (COP27), no Egito, que come�a hoje. Convidada para participar de tr�s pain�is, a empresa se prepara para falar sobre a��es pr�ticas de sustentabilidade em todos os seus bra�os, desde a f�brica at� os oito sal�es (um em Belo Horizonte), passando pelo e-commerce, que incentiva o consumo consciente. “Estamos com frio na barriga, mas muito orgulhosos de representar n�o s� a Laces, mas o Brasil”, comenta a cosmet�loga e especialista em cabelo Cris Dios, de 49 anos, presidente do grupo e respons�vel pela expans�o da marca.
Desde o primeiro sal�o, aberto h� 35 anos pela m�e de Cris, Mercedes, a empresa se orienta por escolhas sustent�veis, a come�ar pela produ��o de cosm�ticos naturais e sem qu�mica (mais tarde, desenvolveu a primeira colora��o 100% vegetal do pa�s). Em 2014, passou a contribuir com a neutraliza��o de carbono, reduzindo a emiss�o de gases do efeito estufa em toda a sua cadeia. Somam-se a isso iniciativas como o uso de embalagens biodegrad�veis, capta��o e tratamento da �gua da chuva e gera��o de energia solar. L� no in�cio, quando olhava para o neg�cio da fam�lia, voltado para o cuidado natural da beleza, Cris sonhava em levar isso para o mundo. Hoje ela d� um passo importante para se posicionar no mercado global.
A hist�ria do Laces come�a na Espanha, com o seu av�. Conte um pouco sobre isso.
O meu av�, Jo�o Manuel, era barbeiro naturalista na Espanha e entendia da alquimia dos cosm�ticos naturais. Cuidava do couro cabeludo dos clientes com infus�o de ervas. Ele veio para o Brasil para se casar com a minha av�, tamb�m espanhola, com quem teve sete fi- lhos. A minha m�e, Mercedes, a s�tima filha, era apaixonada pelo pai. Sempre acompanhou muito os processos e resolveu seguir carreira. Fundou a primeira unidade do Laces em 1987, no Bairro Morumbi, como um espa�o de cuidado da sa�de do cabelo. Sempre preparamos xampus e cremes � base de plantas.
Voc� sabe de onde vem a voca��o do seu av� para criar produtos naturais?
Infelizmente, n�o conheci o meu av� e, naquela �poca, a rela��o entre pai e filho era de muita aceita��o, e n�o investiga��o. Ent�o, a minha m�e n�o sabe de onde isso veio, s� aprendeu com ele. Hoje, tenho vontade de ir para a Espanha investigar se existe alguma raiz desse trabalho com mat�ria-prima natural. O que a gente sabe � que meu av� chegou ao Brasil, viu que o que tinha aqui era muito qu�mico e n�o acreditava nisso. Acabou fazendo as pr�prias f�rmulas para atender os clientes.
Em que momento voc� entra nessa hist�ria?
Trabalho desde os 15 anos no Laces, desde o in�cio ajudei a minha m�e. Na �poca de col�gio, queria ser arquiteta e cheguei a fazer dois anos do curso, mas acabei voltando para o universo da beleza. O neg�cio era extremamente familiar, s� pessoas da fam�lia atendiam os clientes e a minha m�e tinha muita preocupa��o com a qualidade do servi�o e como poderia replicar os processos. Olhava para esse cuidado natural e achava incr�vel. Pensava que, em algum momento, a gente tinha que levar isso para o mundo. A� come�ou a ideia de crescimento da empresa e t�nhamos a necessidade de regulamentar os produtos. At� ent�o, eram para uso interno, mas todo mundo queria levar para casa. Quando fomos produzir em escala maior, ningu�m queria fazer do nosso jeito, com infus�o de ervas, sem conservantes. S� existia aquela linha de produ��o convencional e, quimicamente falando, eu n�o tinha conhecimento para argumentar. Foi, ent�o, que resolvi fazer faculdade de cosmetologia.
"Quando os clientes v�o ao espa�o de beleza e consomem nossos produtos e servi�os, ou compram pelo e-commerce, t�m sua neutraliza��o de carbono feita. Trazemos para o indiv�duo o que hoje fica a cargo de empresas gigantes"
Voc�s lan�aram no mercado o conceito de hair spa. O que isso significa?
Somos um espa�o dedicado � sa�de do cabelo. Normalmente, as pessoas v�o ao sal�o quando querem cortar, retocar a raiz ou fazer penteado para uma festa. O Laces faz tudo isso, mas, antes da preocupa��o com o design, vem o cuidado com a sa�de, do couro cabeludo e dos fios. Queremos entender seu h�bitos, saber o que est� incomodando, fazer um diagn�stico do seu couro cabeludo, ensinar formas de lavar, como fazer uma escolha mais consciente de produtos. A gente fala que cabelo tratado fica bonito todos os dias, e n�o s� no dia em que voc� vai ao sal�o.
Como funciona o processo de cria��o dos produtos?
Gosto muito de estar nos sal�es, porque isso me inspira muito. Registramos, em todos os Laces, 50 mil atendimentos por ano, e isso � um grande aprendizado. Toda a tecnologia dos produtos sai da observa��o das necessidades das mulheres na pr�tica. Trabalham junto comigo pesquisadores, duas qu�micas, as minhas s�cias, ou seja, existe um pool de pessoas pensando em produtos. Mas desenvolvemos as f�rmulas a partir do conhecimento da necessidade do cabelo da brasileira, que � superdiverso. Temos um projeto, chamado Bioma, de convers�o de sal�es que se identificam com a filosofia do Laces. Estava ontem em Santa Catarina e a necessidade da mulher do Sul � completamente diferente da mulher de Aracaju, que fica no Nordeste. Come�amos a entender como � a pele e o tipo de cabelo em cada lugar desse Brasilz�o e isso � muito maravilhoso. A diversidade nos d� a possibilidade de criar coisas diferentes. O nosso trabalho no Laces � observar o ser humano e levar isso para dentro dos frascos em forma de produto. Temos tr�s linhas: LCS, Cris Dios Organics (com ingredientes org�nicos certificados) e Calma, que lan�amos tr�s meses antes da pandemia. Essa �ltima � uma marca vegana para drogarias e supermercados. A ideia � fomentar esse mercado vegano e torn�-lo mais acess�vel. Em 2017, lan�amos a primeira colora��o 100% vegetal do Brasil. Ficamos quatro anos pesquisando e conseguimos desenvolver essa colora��o natural � base de planta, que j� ganhou um pr�mio de inova��o e sustentabilidade. N�o utilizamos qu�mica nenhuma. S�o 10 plantas indianas que passam por um processo tecnol�gico de microniza��o, transformando-se em part�culas bem pequenas para que penetrem nos fios.
� tudo produ��o pr�pria?
Come�amos terceirizando a produ��o numa f�brica em Curitiba. Em 2014, adquirimos essa f�brica, que passou a fazer parte do Grupo Laces. � a primeira f�brica certificada como org�nica do Brasil. Falamos que o Laces � um ecossistema de beleza. Temos f�brica, temos a Escola Laces, para a forma��o de pessoas dentro da nossa metodologia, temos os sal�es, que hoje s�o oito, e temos um e-commerce de consumo consciente, o Slow Beauty, que come�ou em 2017. Vendemos os nossos produtos e de outras 50 marcas, tudo para fomentar esse mercado. � dif�cil para uma empresa pequena vender em grandes redes de drogarias e supermercados.
Como se deu o processo de expans�o da marca?
Em determinado momento, percebemos que pessoas de toda S�o Paulo iam ao Morumbi para ser atendidas e as clientes pediam Laces em outros lugares. Come�amos a desenvolver o C�digo Laces para que pud�ssemos replicar a mesma filosofia e o mesmo cuidado com o cabelo em outros espa�os. Em 2011, iniciamos o processo de expans�o, profissionaliza��o e estrutura��o financeira e administrativa. Abrimos quatro unidades em S�o Paulo, em quatro anos. Em 2017, chegamos a BH.
Por que escolheram BH para abrir a primeira unidade fora de S�o Paulo?
Sempre recebemos muitas mineiras em S�o Paulo, ent�o era um mercado que j� nos conhecia. Al�m disso, BH tem tudo a ver com a marca. O nome Laces vem de la�o de cabelo e la�o de fam�lia, e n�o tem lugar mais fam�lia do que Minas. O mineiro representa o que acreditamos sobre relacionamento, acolhimento e cuidado de beleza. Falo que somos cuidadores. Amo comida mineira, adoro o acolhimento do mineiro. Voc�s t�m um jeito de ser maravilhoso. Sempre que estou a�, chega algu�m com p�o de queijo. Sinto que � quase uma fam�lia. O espa�o em BH se chama Terra�o Laces. Acho a unidade mais bonita, parece um orquid�rio. Reestruturamos a casa toda e implementamos todo o processo de sustentabilidade: incid�ncia de luz natural para n�o ter ilumina��o artificial, plantas para usar menos ar-condicionado e purifica��o da �gua da chuva para ter uma �gua com menos qu�mica.
Existe alguma particularidade das mineiras?
A mulher mineira � muito vaidosa. Sinto que ela gosta de se cuidar e investe no cuidado.
Como surgiu o convite para participar da COP27?
Essa hist�ria � engra�ada. N�o � a ONU que convida diretamente, s�o ONGs pelo mundo que pesquisam empresas e pessoas e fazem indica��es. Recebemos uma liga��o de uma ONG inglesa e achamos que fosse trote. Quando eles mandaram a documenta��o, entendemos que era verdade. Fazemos compensa��o de carbono desde 2014. Como, em 2021, a empresa Carbon Limited entrou para o Grupo Laces e saiu essa not�cia em todo lugar, acho que isso chamou a aten��o e eles fizeram o convite.
Por que a sustentabilidade � um valor t�o forte para a marca?
Sempre levamos a sustentabilidade para tudo o que fazemos. N�o temos uma divis�o de sustentabilidade dentro do grupo, mas sempre fizemos escolhas sustent�veis. H� 35 anos, batemos nessa mesma tecla. Quando a minha m�e come�ou, as pessoas n�o entendiam muito bem a filosofia. T�nhamos que gastar muito mais saliva para explicar. Hoje isso faz muito mais sentido para a maioria das pessoas. Desde 2014, falamos sobre ESG (em portugu�s, meio ambiente, social e governan�a). Entendemos que, se o meio ambiente n�o for respeitado, como vamos ter mat�ria-prima para os cosm�ticos? Temos que cuidar tamb�m do lado social, registrar os funcion�rios (isso � raro no ramo da beleza), assim como vender tudo com nota fiscal e ter todas as quest�es internas organizadas. Acreditamos na devolu��o para a sociedade atrav�s de projetos sociais. Temos a��es com ind�genas no Xingu, com mulheres que sofrem viol�ncia dom�stica em S�o Paulo e com o Ballet Parais�polis. Fazemos tudo isso voluntariamente. Somos uma empresa m�dia, n�o somos gigantes que t�m isso como necessidade jur�dica.
Como ser� a participa��o da Laces na COP27?
Vamos fazer tr�s palestras contando o que fazemos na pr�tica de sustentabilidade. Por exemplo, o nosso frasco � 100% de pl�stico de re�so, � recicl�vel e ainda tem enzimas que fazem com que demo- re cinco anos para se decompor. � muito menos lixo para o meio ambiente. Estamos com frio na barriga, mas muito orgulhosos de representar n�o s� a Laces, mas o Brasil. Vamos representar a beleza do Brasil. Mostrar que n�o somos s� desmatamento e destrui��o, que existem empresas com atitude e que querem levar a semente do bem e da sustentabilidade para outros lugares. Queremos mostrar como uma empresa pode atuar no micro e isso se transformar em uma a��o macro. Muitas empresas gigantes atuam, e � muito importante que sejam cobradas, mas tamb�m tem um lado que parece distante para o indiv�duo. Esse � um gancho legal para o Grupo Laces, porque estamos atuando na pr�tica. Quando os clientes v�o ao espa�o de beleza e consomem nossos produtos e servi�os, ou compram pelo e-commerce, t�m sua neutraliza��o de carbono feita. Trazemos para o indiv�duo o que hoje fica a cargo de empresas gigantes.
Em eventos como a COP27, os pa�ses se comprometem com metas. Quais s�o as metas do Grupo Laces para os pr�ximos anos?
Para voc� ter uma ideia, cada cadeira do sal�o gera hoje um consumo de 250 quilos de CO2 por ano. Esse c�lculo, regulamentado por um �rg�o americano, leva em conta o transporte do cliente e do colaborador, lixo gerado e quantidade de energia el�trica consumida. Queremos baixar esse n�mero para 200 quilos por ano. A meta � dif�cil, porque j� fazemos log�stica reversa, mas queremos chegar a esse objetivo. Para isso, planejamos engajar mais ainda fornecedores, clientes e colaboradores na quest�o da compensa��o de carbono. Queremos criar formas de os clientes presentearem pessoas com neutraliza��o de carbono e empresas receberem parte do pagamento em cr�dito de carbono. Isso � um projeto para 10 anos, mas n�o importa. O pouco que vamos engajando as pessoas j� avan�amos na neutraliza��o. A meta � pensar a compensa��o de forma palp�vel e acess�vel para as pessoas.
Voc�s nasceram como um neg�cio sustent�vel e pensavam em sustentabilidade numa �poca em que n�o se fala tanto nisso. Acredita que a empresa est� sempre � frente do tempo?
Acredito que sim. O Laces lan�ou a categoria de hair spa. N�o somos uma cl�nica que tem m�dico, mas tamb�m n�o somos um sal�o que tem cabeleireiro. Estamos no meio do caminho, com um conceito que envolve bem-estar, sa�de e beleza. Acredito que somos refer�ncia nesse mercado, falando em clean beauty, de trazer um olhar diferenciado para a beleza.
H� planos de abrir unidades em outros lugares do Brasil?
Depois de BH, abrimos duas unidades no Rio de Janeiro e t�nhamos um plano, at� arrojado, de abrir duas lojas por ano. Mas, com a pandemia, tivemos que dar 10 passos para tr�s. Somos uma empresa de pessoas: o nosso faturamento vem 80% de servi�o e 20% de produto. Agora estamos mais focados no projeto de convers�o de sal�es, que exige um investimento menor. A pandemia n�o foi f�cil, mas logo mais vamos voltar com for�a total.
O que faz voc� levantar todos os dias e trabalhar?
Primeiro, a responsabilidade. Temos 300 fam�lias que dependem do Laces diretamente. Depois, o sonho de que as pessoas vejam a beleza de forma mais natural. Vejo a beleza como um momento de reconex�o com voc� mesmo. Falo sobre buscar a sua melhor vers�o. N�o � copiar padr�es externos, mas buscar o que faz sentido para voc�. Penso em cosm�tico como um momento de bem-estar e de conex�o com o meio ambiente. Tenho vontade de reconectar o ser humano com a natureza.