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Estado de Minas EMPREENDEDORA NATA

Mineira comanda startup que acaba de desembarcar no M�xico

Roberta Vasconcellos � cofundadora da Woba, plataforma que conecta empresas a espa�os de trabalho


16/04/2023 04:00 - atualizado 16/04/2023 09:46
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Roberta Vasconcellos, cofundadora da Woba
(foto: Gabriel Telles/Divulga��o)
Ela estava na hora certa, no lugar certo e com a ideia certa. Mas n�o tem como resumir a trajet�ria de Roberta Vasconcellos, de 34 anos, a isso. Cofundadora da plataforma Woba, que conecta empresas a espa�os de trabalho, a mineira de Belo Horizonte tem m�ltiplos talentos. � comunicativa, din�mica e inventiva. Sempre levou jeito para vendas, habilidade que herdou dos dois lados da fam�lia.


Sua hist�ria tamb�m envolve coragem. Rec�m-formada, ela foi trabalhar em uma startup sem nunca ter ouvido falar nessa palavra em ingl�s. J� empreendedora, sempre ao lado do seu irm�o e s�cio, Pedro Vasconcellos, teve flexibilidade para se adaptar ao que o mercado demandava, tanto que a plataforma � uma evolu��o de duas ideias anteriores.

H� tr�s meses, Roberta vive no M�xico para acompanhar o primeiro passo da expans�o da empresa, que quer chegar a outras capitais da Am�rica Latina, Europa e Estados Unidos em dois anos. Nesta entrevista, ela relembra o primeiro neg�cio que abriu com a m�e, fala sobre os desafios de empreender e conta sobre a mudan�a para a Cidade do M�xico, onde nascer� seu filho, Daniel.

De onde vem essa sua vontade de empreender?
Venho de uma fam�lia empreendedora pelos dois lados. Por parte de m�e, meu av� criou a Casas da Banha, a maior rede de hipermercados do Brasil da �poca. Meu av� por parte de pai teve banco, empresa de �nibus e fundou a holding que inclui a CNR e outros neg�cios da �rea de constru��o civil. Sempre tive muito exemplo de trabalho em casa e cresci em um lar de muito amor. Sou a mais velha de quatro filhos. Meus pais nos incentivaram e nos deram muita coragem para fazer o que acredit�vamos. Desde nova, sempre fui uma pessoa bem comunicativa. No primeiro dia de aula, j� levantava a m�o para contar uma hist�ria. Fiz jazz e bal� por uns 12 anos, ent�o vivia no palco. Tudo foi me ajudando a ser mais desinibida. Meu pai � um comerciante nato, super negociador, e sempre gostei muito de vendas. Com 11 anos, comecei a vender trufas no col�gio e a brincadeira virou neg�cio. Eu e minha m�e montamos uma fabriquinha em casa. Chegamos a vender para restaurantes. Aos 16 anos, tive a oportunidade de fazer interc�mbio no Canad�. Meus pais sempre me incentivaram muito nos estudos. Meu av� falava: podem tirar tudo de voc�, mas conhecimento ningu�m tira, ent�o acumule o m�ximo que conseguir ao longo da vida. Nesse tipo de interc�mbio, n�o podia trabalhar, mas acabei trabalhando em uma carrocinha de cachorro-quente. Juntei o dinheiro e comprei o meu primeiro laptop. Quando voltei, tinha mais um ano para fazer vestibular e fui dar aula de ingl�s para crian�as. Depois escolhi estudar publicidade e propaganda e direito.

Nessa �poca, voc� j� sabia o que queria da vida?
Sabia que queria ter o meu neg�cio ou trabalhar no neg�cio da fam�lia. Achei que comunica��o fosse me ajudar e sempre tive curiosidade com direto (a minha m�e � advogada e tinha um escrit�rio com a minha av�). Meu pai sempre me incentivou a aprender com os outros. N�o existia a press�o de ter que ir para os neg�cios da fam�lia, ent�o queria explorar o mundo corporativo. Durante a faculdade, trabalhei em loja de roupas. Sempre amei esse movimento, com�rcio, negocia��o, gosto de moda tamb�m. Era para ficar s� no Natal, acabei ficando mais seis meses. Depois comecei a fazer est�gio em ag�ncia de publicidade e fui estagi�ria da CNR na �rea de marketing. Seis meses antes de me formar, vi que direito era mais curiosidade como cidad�, ent�o larguei o curso e preferi fazer p�s-gradua��o.
 

"Meus pais sempre me incentivaram muito nos estudos. Meu av� falava: podem tirar tudo de voc�, mas conhecimento ningu�m tira, ent�o acumule o m�ximo que conseguir ao longo da vida"

Roberta Vasconcellos, cofundadora da Woba

 

Como voc� foi parar no mundo das startups
Nessa �poca, estava participando de v�rios processos seletivos de trainees. Queria adquirir conhecimento para depois empreender. A� um grande amigo, que � meu mentor, trabalhava em um fundo de investimentos e falou comigo: por que voc� n�o vai trabalhar em startups? Isso era em 2009 e nunca tinha ouvido falar em startups. Ele me explicou que eram empresas com base tecnol�gica, que cresciam exponencialmente e disse que aqui tinha a Samba Tech, que � uma plataforma de v�deo. Mandei curr�culo e comecei como estagi�ria comercial. Uma vez que entrei nesse mundo, me encantei e fiquei l� por tr�s anos. A Samba Tech foi uma escola e o Gustavo Caetano, o fundador, foi um grande maestro. Tinha 21 anos na �poca, era uma pessoa super jovem que tinha que vender tecnologia e n�o era da �rea de tecnologia. N�o � como hoje em dia, que as empresas est�o procurando solu��es de startup. Na �poca, t�nhamos que fazer um trabalho muito mais educativo, bater de porta em porta, ir atr�s das empresas. Aprendi muito sobre como me relacionar com grandes empresas, sobre o valor de construir, de forma genu�na, uma rede de relacionamento.

E como se deu o salto para abrir o seu neg�cio?
Na �poca, falava com o meu irm�o Pedro, que estava se formando em engenharia civil, que esse mundo das startups era a cara dele. Ele sempre foi a pessoa da fam�lia mais interessada em tecnologia. J� estava h� tr�s anos na Samba Tech, com ideias para empreender e precisava de ajuda. Abria e fechava um neg�cio por dia nas ideias. Um amigo nos apresentou uma dupla de desenvolvedor e designer e, em 2013, n�s quatro iniciamos o Tysdo (things you should do). Era um aplicativo social em que as pessoas organizavam listas de metas e se conectavam a outras pessoas para ajud�-las a realizar seus objetivos. Todo mundo trabalhava com esse projeto nas horas vagas, at� que eu resolvi sair da Samba Tech e ficar dedicada 100% do tempo a ele. O neg�cio come�ou a ganhar volume (acabou tendo 200 mil usu�rios) e, na �poca, recebeu um investimento-anjo. Foi o nosso melhor MBA, o que nos levou ao Woba, mas o modelo n�o era sustent�vel. Estava virando mais ag�ncia de marketing do que empresa de tecnologia. Um aprendizado muito importante para o empreendedor � se atentar aos problemas reais que est� resolvendo e, se for preciso, mudar de rota. N�o pode ficar apegado ao sonho, afinal, ningu�m acerta de primeira. No mundo das startups, chamamos de pivotar, mudar a jogada. Fizemos parcerias com grandes marcas, ganhamos v�rios pr�mios, mas n�o adianta olhar para as m�tricas de vaidade, temos que olhar para as m�tricas reais. Vimos a necessidade de pivotar e esse aplicativo virou a primeira vers�o do BeerOrCoffee.

Como funcionava esse segundo aplicativo?
Vimos que o que gerava maior engajamento no Tysdo era a conex�o entre as pessoas. Ent�o, transformamos isso em um aplicativo, como se fosse o Tinder de neg�cios. Isso foi em 2016. Voc� se conectava com pessoas que falavam de assuntos que te interessavam e marcava uma cerveja ou um caf�. As pessoas se encontravam e faziam neg�cios. O BeerOrCoffee era uma rede que s� crescia atrav�s de convites e, no primeiro ano, geramos 30 mil conex�es. At� que percebemos que as melhores conex�es come�avam em ambientes de coworking. Outros coworkings come�aram a pedir para participar do aplicativo, querendo vender espa�o para os usu�rios. A� come�amos a estudar esse mercado de coworking e entender que, assim como existe Airbnb e Uber, poderia existir um marketplace global que conectasse pessoas a escrit�rios. A gente estava sentindo essa dor, sendo uma empresa remota, que aceitava o modelo h�brido, e acreditava que a tend�ncia seria ter tudo compartilhado e n�o ser dono de nada. Mais uma vez, olhando para os n�meros, pivotamos e come�amos a cadastrar espa�os de coworking e levar as pessoas para esses espa�os. Depois passamos a vender planos no site. No in�cio, vend�amos muito para empreendedores, n�mades digitais, profissionais aut�nomos, at� que come�amos a vender para empresas.

Em que momento o BeerOrCoffe virou Woba?
Foi no in�cio de 2018. Fizemos o movimento de vender s� para as empresas e foi o momento em que mais crescemos, porque acertamos o modelo de neg�cio. Na �poca, vendemos a ideia para o Banco Inter, que tinha escrit�rio em BH, mas estava abrindo rapidamente regionais no Brasil. As pessoas precisavam se mover, mas paravam de tempos em tempos. Em vez de ter uma sala tradicional, com secret�ria e tudo, que ia ficar parada muito tempo, o banco tinha v�rios escrit�rios pelo pa�s. Era uma forma mais eficiente e inteligente de ter um espa�o. Ajudamos o Inter a economizar mais de R$ 1 milh�o por ano. Outra vantagem � ter um contrato muito mais flex�vel. Voc� pode pagar um espa�o por m�s. Hoje reunimos coworkings, escrit�rios ociosos de outras empresas e at� construtoras que montam escrit�rios sob demanda para as empresas. O cliente fica feliz porque, al�m de ter um escrit�rio no formato certo, pode usar toda a nossa rede quando precisar. No in�cio de 2019, recebemos um investimento-semente de R$ 8 milh�es do fundador do Booking.com, um holand�s, que at� hoje � nosso s�cio. O nome BeerOrCoffee j� n�o comunicava mais o que faz�amos e, em novembro do ano passado, mudamos para Woba. Woba deriva do termo “work-life balance” (equil�brio entre vidas pessoal e profissional), que � o nosso prop�sito.

Como a pandemia impactou o neg�cio?
Est�vamos em um excelente momento quando veio a pandemia, t�nhamos fechado o melhor trimestre. Sab�amos que est�vamos antecipando a tend�ncia de trabalho h�brido, mas, num primeiro momento, os espa�os f�sicos estavam fechados. Ajudamos a nossa rede e flexibilizamos contratos. Como �ramos uma empresa muito “leve”, com 40 pessoas no time, e t�nhamos dinheiro no caixa, conseguimos passar pela pandemia. Logo depois que passou o primeiro per�odo de lockdown, come�amos a ajudar as empresas a ter escrit�rios com mais efici�ncia. No fim de 2021, recebemos R$ 10 milh�es de d�lares de dois fundos de investimentos, um argentino (dos fundadores do Mercado Livre) e outro norte-americano, os maiores da Am�rica Latina. � muito bom estar rodeado de pessoas como eles, com muito mais experi�ncia que a gente, nos apoiando para conseguirmos crescer mais rapidamente. O conhecimento que eles trazem pra gente � incr�vel. Hoje somos uma rede com 140 colaboradores, mais de dois mil espa�os de trabalho em 240 cidades e mais de 500 clientes.

Voc�s acabaram de abrir uma opera��o no M�xico. Por que foram para l� e quais s�o os planos de expans�o?
H� tr�s meses, fui morar na Cidade do M�xico com o meu marido, que � um empreendedor da Guatemala. Conheci o Manuel em um coworking em S�o Paulo, sou case do meu pr�prio produto. O neg�cio dele � maior l� e o nosso filho vai ser mexicano. Depois do Brasil, o M�xico � o melhor mercado da Am�rica Latina para estarmos. A Woba tem uma vis�o global, atende muitas empresas multinacionais e a nossa grande proposta de valor � centralizar tudo na mesma plataforma. Vimos clientes do Brasil precisando de escrit�rio no M�xico. A Cidade do M�xico tem 25 milh�es de habitantes e as mesmas caracter�sticas de S�o Paulo, longas dist�ncias e tr�nsito ca�tico. Em tr�s meses, temos mais de 80 espa�os cadastrados e agora estamos come�ando a capta��o de clientes mexicanos (j� temos clientes do Brasil). Esse � o primeiro passo da expans�o. O nosso plano, nos pr�ximos dois anos, � continuar crescendo no M�xico, chegar a outras capitais da Am�rica Latina, como Santiago, Lima e Bogot�, para depois irmos para Europa (j� temos uma opera��o bem pequena em Lisboa) e Estados Unidos.

Como � para voc� poder oferecer solu��es para grandes empresas e no mundo todo?
� muito gratificante. Por natureza, o empreendedor gosta de resolver problemas, � isso que me move todos os dias. Quando vejo os depoimentos dos nossos parceiros, entendo o impacto que geramos na vida deles. Fa�o o que fa�o porque tem sentido e prop�sito. Vivo muitos desafios todo dia, a minha vida � uma montanha-russa, mas no fim do dia � isso que me move, que me faz seguir em frente.

O que significou para voc� entrar, em 2015, na lista da Forbes Brasil de pessoas influentes com menos de 30 anos?
Foi uma grata surpresa. �s vezes, tenho a s�ndrome da impostora, de achar que tem um monte de empreendedores fazendo muito mais do que eu. Mas fiquei muito feliz. Estava ali representando toda uma hist�ria, o sonho de v�rias pessoas. Claro que isso traz muita visibilidade e renome para a marca, abriu muitas portas, mas, no fim do dia, o mais importante � ver os n�meros crescendo e os clientes felizes. Esse � um ponto na minha carreira, mas n�o o mais importante.

Como � a sua rotina? Voc� � workaholic?
J� fui e n�o recomendo. Gostava tanto do que estava fazendo que nem percebia, mas hoje me policio. Chega uma hora em que a gente precisa ter equil�brio. Hoje priorizo de outra forma o meu dia a dia. Tenho hor�rio para fazer exerc�cio, tenho mais tempo para ficar com a fam�lia e os amigos. Ainda mais agora que estou gr�vida, vou ser m�e. Isso vai me tornar uma profissional melhor.

A Woba � o neg�cio da sua vida?
Pelos pr�ximos anos, sim. Temos a mentalidade de principiante: ainda falta muito para fazer.

Ser mulher faz diferen�a nesse mercado de startups?
Quando comecei l� na Samba Tech, eram eu e mais duas mulheres. O mercado evolui muito, existem mais mulheres fundadoras de startups e em cargos de lideran�a e fico muito feliz de ver isso. N�o sei se foi pela forma como fui criada, mas nunca me senti diferente ou inferior. Sempre tive incentivo dentro de casa para seguir o que queria.

O que voc� falaria para os jovens que querem seguir o seu exemplo?
Antes de mais nada, procure conhecimento com pessoas ou na internet. Comece pequeno, mesmo sonhando grande, e valide sua ideia. Isso vai te ajudar a n�o desperdi�ar tempo e dinheiro. Use a tecnologia a seu favor. Existem muitas ferramentas que ajudam a saber se voc� est� no caminho certo. Conecte-se com outras pessoas. Fa�a o b�sico bem-feito, n�o fique deslumbrado e construa um modelo para ser sustent�vel. Tenha coragem.


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