Em Minas Gerais, 4.194 casos de pessoas picadas foram registrados em 2006, com seis mortes, segundo a Ger�ncia de Vigil�ncia Ambiental da Secretaria de Estado da Sa�de. Este ano j� houve 1.939 ocorr�ncias, sem nenhuma morte. No Brasil, uma m�dia de 22 mil pessoas s�o picadas por ano e estima-se que 0,5% desse total (110 pessoas) morra por envenenamento, segundo n�meros do Minist�rio da Sa�de. Jararaca, jararacu�u, jararaca-do-rabo-branco e urutu-cruzeiro, serpentes do g�nero Bothrops, s�o respons�veis por cerca de 90% dos casos. O total brasileiro � at� pequeno se comparado com alguns pa�ses da �sia, como �ndia, Birm�nia e Paquist�o. Os tr�s, juntos, somam 35 mil mortes por ano, para centenas de milhares de pessoas picadas.
Ricardo Maciel, coordenador da Divis�o de Imunobiol�gicos da Funda��o Ezequiel Dias, j� sofreu um acidente de trabalho. Num momento de distra��o, foi picado por uma coral, o que lhe rendeu “dores insuport�veis” e atrofia em dois dedos. Ele explica que a aplica��o do soro deve ser feita em hospital, pois o medicamento pode causar choque no paciente.
A funda��o mant�m um serpent�rio, com v�rias esp�cies, para coletar veneno, inocul�-los em cavalos, retirar o sangue dos animais, transform�-lo em plasma e, da�, partir para a fabrica��o do ant�doto. A farmac�utica industrial Luciana Maria Bittencourt trabalha na produ��o dos diversos soros (tamb�m para picadas de aranhas e escorpi�es) e diz que 232 mil ampolas devem ser produzidas em 2007. No Brasil, somente o Ezequiel Dias, a Funda��o Butant� (S�o Paulo) e o Vital Brasil (Rio de Janeiro) produzem soros. “O Paran� est� come�ando agora”, afirma.
Para o presidente da Funed, Carlos Alberto Pereira Gomes, os ca�adores de cobras s�o mais que volunt�rios. “Eles s�o nossos parceiros”, explica.
No caso brasileiro � prudente lembrar que o n�mero de picadas representa apenas a contagem oficial (casos notificados). Muitos pessoas preferem tratamentos alternativos � aplica��o do soro ou simplesmente n�o t�m meios ou tempo suficientes para se deslocar at� um hospital. � a� que entra o benzedor, figura folcl�rica, abundante no interior de Minas e do Brasil, quando o assunto � cobra e seu comportamento. As lendas e ‘causos’ d�o para preencher uma enciclop�dia.
Oswaldo Al�pio Fugueiredo, de 68 anos, sempre morou em Curvelo e trabalhou na ro�a. Cedo, aprendeu o of�cio de benzedor e ficou conhecido na regi�o. Sua especialidade � benzer animais feridos por picadas de cobra, mas j� fez o mesmo com pessoas. Ele conta casos incr�veis e diz que pode benzer at� a dist�ncia, se n�o for poss�vel chegar a tempo. Oswaldo diz que a arte de benzer, as palavras ditas em voz baixa, s�o passadas de uma pessoa para outra. “O benzedor s� pode ensinar as palavras para uma �nica pessoa. E essa, por sua vez, s� pode passar para uma outra. Eu ensinei ao J�lio (J�lio Terra), que agora vai ensinar a algu�m”, revela.