
Antes que os policiais fizessem uma varredura de duas horas no apartamento, revirando quartos e outros c�modos sem encontrar qualquer ind�cio de participa��o do tecn�logo no crime, ele explicou para os civis que havia perdido todos os documentos em setembro de 2008 e que, na ocasi�o, registrou boletim de ocorr�ncia na �rea Integrada de Seguran�a P�blica do JK. “Mostrei o BO e contei a eles que a pessoa que encontrou os documentos usou minha carteira de identidade e CPF para adquirir linhas telef�nicas, que tive restri��es no Serasa e recebi at� amea�as do fals�rio”, disse Guilherme. Mesmo assim, ele foi levado algemado para a Delegacia de Pedro Leopoldo. Foram apreendidos o computador, o celular do acusado e at� o controle da televis�o.
Depois que o tecn�logo j� estava atr�s das grades, a verdadeira hist�ria come�ou a aparecer: dois anos e seis meses depois do registro de queixa pela perda dos documentos, o fals�rio conseguiu comprar duas passagens a�reas para Salvador, uma em nome de Guilherme e a outra para a adolescente, com partida no dia 5 e retorno em 7 de mar�o, pelo Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. A jovem havia dito � fam�lia que viajou para a Bahia em companhia de amigos. Como n�o retornou no dia previsto, os parentes come�aram a telefonar e ela informou que n�o tinha data certa para voltar. Os familiares, ent�o, suspeitaram de que a garota estava sendo orientada por algu�m que a mantinha em c�rcere privado.
Prisioneiro
A den�ncia dos parentes da jovem deu origem � sequ�ncia de equ�vocos da pol�cia e da Justi�a, que resultou na pris�o de Guilherme. Depois de ter a casa revirada e ser conduzido algemado, ele foi fichado, tirou fotos, prestou depoimento para a equipe policial de plant�o e chegou a ser encaminhado ao pres�dio de Pedro Leopoldo. “Tive que usar o uniforme vermelho (da Subsecretaria de Estado de Administra��o Penitenci�ria). N�o tinha chinelo e fiquei descal�o na cela”, disse o tecn�logo.
O advogado de Guilherme, Hudson Maldonado Gama, denuncia uma s�rie de irregularidades. Ele afirma que, ao chegar � Delegacia de Pedro Leopoldo, n�o teve acesso ao inqu�rito. “Falei para a delegada de plant�o sobre as nossas d�vidas, que a m�e da adolescente n�o registrou queixa de sequestro, mas apenas informou � pol�cia que ela foi viajar e n�o teve mais not�cia dela. Eles me falaram que procuravam uma testemunha, mas ela estava curtindo o carnaval de Salvador. N�o me deixaram ver o inqu�rito, o que contraria dispositivo expresso da Constitui��o e o estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.”
Segundo ele, a delegada informou que o inqu�rito estava com a Justi�a. “Mentira. A Justi�a n�o fica com os autos da investiga��o. Como um advogado pode fazer a defesa de algu�m, se n�o tem acesso aos autos? Fiquei na porta da delegacia, que foi fechada, e falei que s� sairia dali ap�s uma solu��o”, disse Gama, que j� foi delegado. O cliente dele s� foi liberado �s 18h de s�bado.
O advogado ressalta que, por ter bons antecedentes e domic�lio fixo, n�o haveria a necessidade de a Justi�a decretar a pris�o preventiva de Guilherme, por cinco dias. “Ao mesmo tempo que prenderam um inocente, negaram a ele o direito de defesa.” Quando os policiais civis foram ao edif�cio JK, eles j� tinham as imagens do fals�rio que comprou os bilhetes a�reos, mas n�o as cenas da pessoa que embarcou com a menor, o que, segundo eles, justificaria a pris�o do tecn�logo. S� depois � que foram buscar as imagens em Confins.
Gama dever� entrar com a��o indenizat�ria em favor de Guilherme. O delegado S�rgio Fleury Paranhos Beliz�rio, que preside o inqu�rito, informou que pris�o foi feita dentro dos preceitos legais e que o acusado foi liberado assim que a situa��o ficou esclarecida. A pol�cia descartou a possibilidade de a adolescente ter sido sequestrada. O delegado disse ainda que n�o houve cerceamento ao trabalho do advogado do tecn�logo.