
Numa busca desenfreada por seguran�a, moradores de bairros mais ricos de Belo Horizonte, nas regi�es da Pampulha e Centro-Sul, avan�aram sobre os passeios e vias p�blicas com guaritas de seguran�a privada, cancelas e muros, como se fossem �rea particular. O Estado de Minas mostrou na edi��o dessa quarta-feira que a necessidade de se proteger de assaltos, furtos e sequestros rel�mpagos est� aumentando a procura pelo Olho Vivo, sistema de vigil�ncia com c�meras nas ruas operado pela Pol�cia Militar, enquanto regi�es com maior �ndice de criminalidade, mas de recursos escassos, continuam sem os aparatos eletr�nicos.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) deveria coibir as instala��es de guaritas, pois elas ferem seu C�digo de Posturas, mas a administra��o municipal n�o soube informar nessa quarta-feira, por meio da Secretaria de Regula��o Urbana ou da Procuradoria do Munic�pio, se os aparatos de seguran�a privada s�o ilegais. Enquanto isso, as cabines se alastram. Em 2007, quando defendia a instala��o de guaritas de seguran�a privada, o deputado estadual Fred Costa (PHS) contou 600 unidades espalhadas pela cidade. De acordo com fontes da Pol�cia Militar, esse n�mero cresceu mais de 50% desde ent�o, chegando a quase mil unidades sobre os passeios. “A sociedade tem o direito de providenciar a pr�pria seguran�a, quando o estado n�o a prov�m”, defende o parlamentar.
De acordo com o comandante do Policiamento da Capital, coronel Jos� Geraldo Azevedo, a atividade dos vigilantes � perigosa. “Os homens que trabalham nas guaritas n�o s�o regulamentados nem treinados. Quem garante que n�o informam aos bandidos sobre a movimenta��o nas casas? Al�m do mais, j� houve registros de m�fias de seguran�a que provocavam crimes em �reas n�o vigiadas pelas guaritas, para que as empresas pudessem instalar esse servi�o l�”, afirma o militar.
Situa��es assim podem ser percebidas na Pampulha. No Bairro S�o Luiz, a Alameda dos Jacarand�s � uma ilha de tranquilidade. Pelo menos no trecho de 200 metros onde 10 moradores pagam por uma guarita . “Aqui n�o tivemos problemas depois que instalaram a guarita. Houve uma �poca que a prefeitura cogitou remov�-las, mas a PM n�o consegue nos dar seguran�a. Prefiro tirar do nosso pr�prio bolso e ter sossego. Aqui em volta a gente s� ouve falar de sequestros rel�mpago e roubo de bolsas”, diz a dona de casa Cristina Santos, de 45 anos, que fornece energia para a guarita.
Um pouco mais abaixo na rua, a tamb�m dona de casa Sandra Camarota, de 54, lembra que a cunhada, que mora na casa ao lado, chegou a ter a casa assaltada e se mudou, quando a guarita n�o existia, h� quatro anos.
Cerco a suspeitos
O vigia Daniel Magno, de 33, nem parece preocupado com os casos crescentes de assaltos em volta da rua. Passa os dias tranquilo, sentado num banquinho lendo revistas dentro da guarita de fibra de vidro, onde tem filtro d’�gua, televis�o, r�dio e at� banheiro. “Se vejo um suspeito, tento me aproximar, perguntar se precisa de informa��o, mas nunca precisou”, disse.
Fora dali, as hist�rias de assaltos proliferam. Na mesma rua, al�m dos 200 metros protegidos, a aposentada Dalva Maria de Jesus, de 70 anos, diz ter vivido o pior momento da vida dela. “Tr�s homens e uma mulher chegaram me pedindo informa��es e me dominaram com rev�lveres na m�o. Levei-os ao escrit�rio, pedi para o advogado R$ 5 mil e entreguei a eles. Me abandonaram numa favela. A regi�o est� muito perigosa”, disse.
Pouco mais � frente, perto do col�gio particular Santa Marcelina, os assaltos se tornaram frequentes. “Deixo e busco minha neta na escola, mas morro de medo de assaltos. Nessa quarta-feira(quarta-feira), uma senhora que passou de carro foi abordada por motoqueiros que rasgaram a roupa dela para levar a bolsa”, conta a dona de casa Vera L�cia Passos Gomes Ara�jo, 55 anos.
Numa outra rua da Pampulha, uma cancela que existe h� 17 anos intimida a entrada de carros para manobrar ou at� a meninada que tenta andar de bicicleta ou skate por l�. Al�m da cancela, h� um quebra-molas e uma pintura de “Pare” nos dois sentidos. A guarita, que tem monitoramento de c�meras, �gua, banheiro e celular, aciona luzes e fecha a cancela a partir das 18h. A situa��o ficou assim h� tanto tempo, que os desmandos s� aumentaram. Cada morador come�ou a se apropriar da cal�ada. Um ergueu um muro no meio dela e outro colocou um cavalete no passeio para impedir que carros manobrem ali e quebrem seu piso de pedras S�o Tom�, de R$ 90 a unidade.
De acordo com o comandante da PM na capital, a corpora��o j� tem monitorados os pontos onde est�o as guaritas e far� uma a��o conjunta com a Pol�cia Civil e a prefeitura. “Eles est�o incorrendo em crime de usurpa��o de fun��o p�blica, por policiarem as ruas, numa fun��o que � nossa. A prefeitura vai remover as cabines devido ao C�digo de Posturas, que as pro�be”, disse o coronel Azevedo. A PM informou que vai aumentar o policiamento no Col�gio Santa Marcelina.
Entenda o caso
Guaritas e cancelas nas ruas: Na vota��o do C�digo de Posturas, em 2009, a proibi��o espec�fica da instala��o de guaritas sobre as cal�adas de Belo Horizonte foi retirada da vota��o na C�mara Municipal. A medida abriria caminho para que os equipamentos de seguran�a privada pudessem ser usados.
Naquele mesmo ano, entretanto, quando a C�mara Municipal votou a regulamenta��o das guaritas, seu padr�o construtivo, os locais espec�ficos onde podem ser usadas e como o servi�o deveria ser prestado, essa quest�o foi derrotada.
Hoje, apenas pontos de �nibus e t�xis podem ter guaritas instaladas em passeios, observando uma dist�ncia m�nima e corredor de passagem de pedestres. Cancelas e muros sobre os passeios ainda s�o vedados pelo artigo 17 do C�digo de Posturas.
Fonte: C�mara Municipal