De pai para filho, neto e bisneto. H� pelo menos seis gera��es, o cl� Sim�es faz do picadeiro o palco de sua arte, que est� entre as mais populares do mundo. N�o � mera coincid�ncia a semelhan�a entre a trama de O palha�o, filme escrito, dirigido e protagonizado por Selton Mello, com a hist�ria dessa fam�lia. A exemplo de Pangar�, interpretado por Selton e filho de Puro Sangue (Paulo Jos�), o adolescente Yahn, de 12 anos, foi praticamente criado no picadeiro do Circo Irm�os Sim�es. Al�m do pai, Reginaldo, de 39, ele costuma contracenar com os tios M�rcio, de 37, Lalado, de 42, e Lindomar Sim�es, de 46.

Criado no Rio de Janeiro, o Circo Irm�os Sim�es chegou a Minas Gerais nos anos 1970. Estabeleceu-se em Juiz de Fora, na Zona da Mata, mas na d�cada seguinte desembarcou em BH. Com base fixa na capital, a trupe monta sua lona em toda Minas Gerais. “N�o tem jeito, a gente j� nasce no clima”, explica Lindomar Sim�es, o palha�o Fofoca, que estreou no picadeiro aos 5 anos. Bisneto de Jo�o, neto de Pl�cido e filho de Francisco Sim�es, ele vem de uma fam�lia de 13 irm�os. Todos profissionais do picadeiro.
Lindomar, diretor art�stico da companhia, conta que as temporadas duram em m�dia 15 dias, sob o comando dos palha�os Fofoca, Fofura, Calhambeque e Fofinho – ou seja, ele e os irm�os M�rcio, Lalado e Reginaldo. O sobrinho Yahn incorpora Pedacinho. “Ser palha�o � tudo de bom”, resume Lindomar, atribuindo o prazer da profiss�o ao contato direto com a plateia. “Nossa fun��o � fazer o p�blico sorrir”, garante ele.
A arte est� no sangue. “O verdadeiro palha�o tem o dom, sen�o perde o encantamento”, diz Fofoca. Escolas de circo, pondera Lindomar Sim�es, n�o s�o a garantia de aprendizagem. “� preciso ter a viv�ncia do circo, essa � a grande escola. Apesar da necessidade de contato f�sico com a lona, h� todo um mist�rio envolvendo a profiss�o”, acredita.
Magia, malabarismo, acrobacia e equilibrismo s�o algumas das fun��es do palha�o, que tamb�m pratica malabares e trap�zio. Enquanto o Pangar� de Selton Mello pensa em abandonar a lona em busca de outro destino, o cl� Sim�es segue firme no of�cio. “� muito gratificante ter um filho palha�o”, afirma Reginaldo Sim�es. Malabarista, equilibrista e conhecido como palha�o Tony ou Suar�, ele entra no picadeiro somente nos intervalos dos n�meros.
M�rcio Sim�es encarna Fof�o, o personagem de cena conhecido como pastel�o. Para ele, o melhor da profiss�o � “abrir a cortina, chegar ao picadeiro e fazer as pessoas felizes”. Lalado Sim�es (Calhambeque), por sua vez, dedica-se � m�mica e � pantomima. Al�m do filho Ka�que, de 12 anos, palha�o acrobata, ele tem Luan, de 20, malabarista e m�gico. “Tudo o que � nosso veio do circo”, comenta M�rcio.
Entretanto, os irm�os Sim�es advertem: a grande amea�a a essa antiga arte vem da aus�ncia de espa�os f�sicos para a montagem das lonas nas cidades, al�m da eterna burocracia brasileira.
Linha do tempo
1770: Philip Astley inaugura o primeiro circo europeu moderno, o Astley’s Amphitheatre, em Londres
1792: O circo chega aos Estados Unidos, levado pelo ingl�s John Bill Ricketts
1869: Nos EUA, William Cameron Coup � o primeiro a promover espet�culo circense de grandes dimens�es, para cerca de 1 mil pessoas
Anos 1800: Registra-se no Brasil a presen�a de circos itinerantes, que funcionam em moldes semelhantes aos atuais
1897: Em Ribeir�o Preto, interior de S�o Paulo, nasce Abelardo Pinto, o mitol�gico palha�o Piolim
1915: Nasce em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, George Savalla Gomes, o Carequinha, famoso palha�o brasileiro
1977: Em S�o Paulo, � criada a primeira escola de circo no Brasil. Chama-se Piolin, em homenagem ao palha�o paulista
1982: Surge a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro
Moleza & Dureza
Entre as fam�lias circenses mais conhecidas de Minas est� a do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo. Filho de Ant�nio Cerezo, o Carlito, sucesso na extinta TV Itacolomi como palha�o Moleza (foto), e da atriz Helena Robattini Cerezo, o ex-atleta dividiu o picadeiro com o pai na pele do pequeno Dureza. Em Belo Horizonte, eles ficaram conhecidos como a dupla Moleza e Dureza.
Mmem�ria: Trupes ambulantes
Minas Gerais e S�o Paulo s�o os estados que mais receberam as chamadas fam�lias ambulantes, vindas da Europa por volta de 1830. “S�o Jo�o del-Rei � uma das poucas cidades a terem o registro de todas as fam�lias circenses que passaram por l�”, afirma Sula Mavrudis, presidente da Rede de Apoio ao Circo. “Sempre � margem, esses artistas continuam itinerando at� hoje”, constata ela.
O circo chegou ao Brasil por meio de imigrantes italianos e de ciganos vindos da Rom�nia e da Iugosl�via. Entre os cl�s circenses de Minas Gerais se destacam os Stancovichs, os Stevanovichs e os Wassinovichs, do Leste Europeu, e os italianos Robattinis. Especializada em circo-teatro, a fam�lia Freitas ficou em Concei��o de Aparecida, enquanto os Gon�alves foram para Caxambu (ambas cidades do Sul de Minas) e, posteriormente, para Guarani, na Zona da Mata. O famoso palha�o Pardal pertence ao cl� Gon�alves, cujo Circo-Teatro Caxambu faz sucesso ainda hoje.