Antes de ser da Savassi, a pra�a nobre de Belo Horizonte ora passando por uma recauchutagem sempre foi e sempre ser� Diogo de Vasconcelos. Poderia ser Diogo de Vasconcellos, sem nenhum preju�zo para o homenageado, um personagem da hist�ria de Minas Gerais, que nasceu em Mariana, em 1843, e morreu na capital, em 1927. Mas nos imensos postes de a�o escovado, chamados de totens, instalados pela prefeitura na pra�a em renascimento grafou-se Diogo Vasconcelos, sem o "de".
O equ�voco desagradou ao advogado Jos� Carlos de Melo Ribeiro, 68 anos, que conversava com o amigo Joaquim Os�rio, de 80, na tarde quente e de tr�nsito confuso, na conflu�ncia da Avenida Get�lio Vargas com Avenida Crist�v�o Colombo. "Mate o homem, mas n�o mude o nome", disse. "Se estamos homenageando algu�m, temos que respeitar a correta grafia do nome". Joaquim concorda com o amigo e aproveita a oportunidade para reclamar do tr�fego intenso na Rua Gr�o Mogol.
A grafia errada do nome do marianense, um dos incentivadores da cria��o do Arquivo P�blico Mineiro, ficou � mostra depois que os oper�rios retiraram a pel�cula que encobria as denomina��es da pra�a, das ruas Pernambuco e Para�ba e das avenidas Crist�v�o Colombo e Get�lio Vargas. As pessoas parecem indiferentes � novidade, mas numa tarde tumultuada e apressada de sexta-feira n�o h� tempo para meras aprecia��es. E h� at� quem aponte motivo maior de indigna��o.
"Olhe para aqueles quarteir�es fechados. Parecem cemit�rios", diz o arquiteto Airton Nunes, de 58 anos, sentado em uma mesa de bar no novo cal�ad�o da Rua Para�ba. Ele aponta os canteiros quadrados de m�rmore, ainda sem plantas na Pernambuco, e os bancos do mesmo material, alguns j� ensebados pelas roupas encardidas de moradores de rua. De longe, o conjunto lembra, ligeiramente, uma fileira de l�pides. "Diante desse mau gosto demasiado, um 'de' a mais ou de menos n�o significa nada."
A Secretaria Municipal Adjunta de Regula��o Urbana informou, por meio da assessoria de comunica��o da prefeitura, que vai fazer um estudo e, se comprovar erro, far� a troca. A busca da resposta ser� uma briga boa. De um lado, a prefeitura com o Diogo Vasconcelos; do outro, o Dicion�rio Biogr�fico de Minas - que cita, entre outras fontes, documentos do Legislativo mineiro, pois o cidad�o foi deputado -. um artigo publicado na Revista do Arquivo P�blico Mineiro e at� a Wilkip�dia.
O artigo, publicado na revista em 1902, grafa Diogo Lu�s de Almeida Pereira de Vasconcellos, respeitando grafia original do s�culo 19, forma tamb�m adotada na Wilkip�dia. J� o dicion�rio, obra de 1994, adota Vasconcelos em vez de Vasconcellos. Mas em nenhuma das publica��es ou na enciclop�dia eletr�nica o nome do homem perdeu o "de". At� a cidade que o homenageia, na Zona da Mata, Diogo de Vasconcelos, respeita a part�cula.
Cada um dos 12 totens da pra�a tem 15 metros de altura. Os nomes foram escritos numa chapa de cerca de tr�s metros de largura por oitenta cent�metros de largura. Duas deles ostentam o Diogo Vasconcelos. Se a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) for orientada pela Regula��o Urbana a fazer a corre��o, ter� que retirar as chapas. "N�o ser� dif�cil nem caro", diz Eduardo Beggiato, da B&L Beggiato Leal Arquitetura, empresa autora do projeto.
Quem foi
Diogo Lu�s de Almeida Pereira de Vasconcellos era filho de tradicional fam�lia mineira. No Imp�rio, foi senador e primeiro-ministro. Estudou no semin�rio de Mariana, no Mosteiro de S�o Bento (Rio de Janeiro) e na Faculdade de Direito do Largo de S�o Francisco, em S�o Paulo.
Depois da Proclama��o da Rep�blica, filiou-se ao Partido Conservador, presidiu a C�mara de Municipal de Vereadores de Mariana, elegeu-se deputado e senador. Era um cat�lico fervoroso, seguindo linha religiosa da fam�lia. Escreveu v�rios livros, entre os quais Hist�ria antiga de Minas Gerais e Hist�ria m�dia de Minas Gerais.