
O laudo feito pelo engenheiro Luiz Mauro de Rezende, da Superintend�ncia do Iphan em Minas, mostra comprometimento da estrutura de madeira existente na capela-mor, devido � a��o de umidade do solo e infesta��o de cupins, bem como infiltra��o de �guas pluviais nas ab�badas do coro e corredores laterais. J� no arco do cruzeiro h� trincas nas cimalhas, revelando movimenta��o estrutural, enquanto na cobertura foi identificado um abatimento, sugerindo instabilidade e deteriora��o intensa. E mais: elementos como forros e pisos est�o com degrada��o da estrutura, tamb�m originada pela a��o de cupins e umidade. O comprometimento dos forros, registra o documento, abrange at� a camada pict�rica, de grande valor art�stico, com risco de forma��o de lacunas e perda da leitura dos elementos figurativos.
De acordo com a chefe do Iphan em Mariana, arquiteta Raquel Alves Ferreira, o laudo recomenda a execu��o de um projeto para restauro integral do im�vel e ainda, como medida preventiva, a interdi��o e prote��o dos elementos decorativos e integrados, “para salvaguardar este acervo de inquestion�vel valor art�stico e hist�rico”. O Conselho Municipal de Patrim�nio aprovou o uso de recursos do Fundo Municipal de Preserva��o para contratar um projeto de restaura��o, com licita��o a cargo da prefeitura local.
Diante da necessidade urgente dos servi�os, Walk�ria explica que uma arquiteta vai elaborar o projeto de restauro, o qual ser� bancado pela prefeitura. Todo o servi�o de recupera��o tamb�m ficar� a cargo da municipalidade, adianta a secret�ria, explicando que, por enquanto os custos da obra n�o est�o or�ados, muito menos estipulado o prazo que a igreja, a segunda mais visitada de Mariana – a primeira � a Catedral da S�, na Pra�a da S� – ficar� fechada.
Antes resistente ao fechamento do templo barroco, a Ordem Terceira de S�o Francisco de Assis v� agora a necessidade urgente de obras. O presidente ou ministro da associa��o centen�ria, professor Jo�o Vicente de Souza, destaca a interdi��o como fundamental e que o problema maior est� no deslocamento da cimalha (arremate superior da parede). “Depois da primeira interdi��o, n�o fizeram nada. Agora estamos confiantes que o servi�o vai sair”, afirma Jo�o Vicente. O bem cultural e religioso, constru�do entre 1763 e 1789, � tombado pelo Iphan desde 1938. No s�bado, v�spera da Festa do Divino Esp�rito Santo, dava gosto ver as guardas de congado dan�ando em frente � igreja, mas a tristeza era evidente ao olhar para o templo e v�-lo com as portas trancadas. No passado, segundo testemunhas, um peda�o de madeira ca�do do teto teria machucado uma pessoa, que foi levada para o hospital.
O promotor da comarca, Ant�nio Carlos de Oliveira, j� pediu � Justi�a, com base em outro laudo do Iphan, a interdi��o da Casa do Conde de Assumar, localizada atr�s da Igreja de S�o Francisco e pertencente � irmandade. O local abriga um com�rcio e, de acordo com o promotor, tamb�m oferece riscos. Segundo o superintendente do Iphan em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, a interdi��o busca, al�m da preserva��o do patrim�nio, garantir a seguran�a dos devotos e visitantes.
Primeira interdi��o
Em mar�o de 2009, a Igreja de S�o Francisco de Assis teve as portas lacradas, com proibi��o de atividades religiosas e visita��o p�blica, at� que fossem executadas obras para garantir a estabilidade da estrutura e a seguran�a dos visitantes, conforme determinou a ju�za L�cia de F�tima Magalh�es Albuquerque Silva. Na �poca, o pedido de interdi��o partiu do Minist�rio P�blico estadual, por solicita��o do escrit�rio regional do Iphan. Relat�rio do instituto federal revelou que os danos eram consequ�ncia do excesso de umidade proveniente de infiltra��es e do ataque intenso de cupins. Destacando que o perigo era “desabar e matar algu�m”, o promotor de Justi�a Ant�nio Carlos de Oliveira, na a��o proposta, citou o boletim de ocorr�ncia do Corpo de Bombeiros Militar, datado de 5 de janeiro de 2009, que constatou agress�es �s pinturas do Mestre Ata�de, que foi sepultado na igreja.
Em abril, o templo foi reaberto � visita��o, com base no laudo de um perito, embora o ent�o juiz da comarca, Ant�nio Carlos Braga, n�o tenha afastado eventuais problemas na estrutura e de prote��o do acervo, que precisavam ser resolvidos: “Apenas estou reconhecendo que, conforme conclus�o do perito, ‘inexiste risco de desabamento total ou parcial’, fato que, entendo, justifica a revoga��o da liminar.”
Arte do Mestre Ata�de
Em 5 de julho de 1761, a Vener�vel Ordem Terceira de S�o Francisco da Penit�ncia decidiu edificar sua igreja e recebeu autoriza��o do bispo diocesano dom Frei Manuel da Cruz. Inicialmente, a escolha foi pelo projeto do padre Jos� Lopes Ferreira da Rocha e execu��o do arquiteto Jos� Pereira dos Santos . Mas outro foi proposto pelo arquiteto Jos� Pereira Arouca, que arrematou a “obra de pedra e cal da igreja”. Dois anos depois, em 15 de agosto, a pedra fundamental foi lan�ada. Ao lado de Arouca, tamb�m enterrado na igreja, trabalharam o marceneiro Manuel Duarte de Oliveira, o carpinteiro Manuel da Silva Benevente e o entalhador Luiz Pinheiro.
A primeira missa foi celebrada em dezembro de 1777, quando come�ou uma s�rie de interven��es. Em 1794, a igreja foi entregue conclu�da pelo irm�o Miguel Teixeira Guimar�es, administrador da obra. No per�odo de 1791 a 1825, entre os oficiais que edificaram e ornamentaram a igreja estava o pintor Manuel da Costa Ata�de, figura not�vel do barroco mineiro e respons�vel pelo douramento do ret�bulo do altar-mor, do trono, do tabern�culo e do altar de Santa Isabel . Os pain�is do forro da sacristia e do teto do corpo da igreja s�o de autoria desconhecida, embora haja dados a respeito de um pagamento efetuado em 1816-1817 pelas pinturas da sacristia . Diferentes pintores contribu�ram na execu��o das obras , como Francisco Xavier Carneiro, professor que examinou as obras de Ata�de, Jo�o Lopes Maciel, Jos� Lu�s de Brito, Jos� Joaquim do Couto, Francisco Moreira de Oliveira e Jo�o Nepomuceno Correa e Castro.
Outro artista renomado que trabalhou na capela de S�o Francisco foi Francisco Vieira Servas, considerado um dos mais importantes da fase �urea dos ret�bulos e imagens religiosas da Capitania de Minas. Servas recebeu pelo trabalho do novo trono do altar-mor, no in�cio do s�culo 19. Os ferreiros tamb�m contribu�ram para a edifica��o.