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Estado de Minas

Galeria do Ouvidor far� revitaliza��o para a Copa

Marco hist�rico de novos comportamentos, primeiro centro de compras da capital mant�m tradi��es da d�cada de 1960 e, �s v�speras dos 50 anos, prepara mudan�as


postado em 01/06/2012 06:00 / atualizado em 01/06/2012 06:45

Nas décadas de 1960 e 1970, muita gente vinha do interior de Minas para passear nas escadas rolantes e fazer compras nos seis andares do prédio(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Nas d�cadas de 1960 e 1970, muita gente vinha do interior de Minas para passear nas escadas rolantes e fazer compras nos seis andares do pr�dio (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)


O documento de compra amarelado, pu�do nas bordas, datado de 10 de abril de 1963, � uma das preciosidades guardadas com carinho pelo colecionador Sebasti�o Ribeiro, de 85 anos, da Filat�lica Globo. Recorda��o particular entre milhares de selos de todo o mundo. Marco hist�rico do neg�cio que h� meio s�culo mudou a vida do filho da italiana Aida Sequine e de dezenas de muitos comerciantes de Belo Horizonte. A linha do tempo do filatelista, nascido em Tr�s Cora��es, no Sul de Minas, teve ponto alto com a inaugura��o da Galeria Ouvidor, em 1964, primeiro grande centro lojista da capital – endere�o emblem�tico da Regi�o Central. Foi quando Sebasti�o apostou no futuro f�sico do com�rcio: o shopping center. “Foi um acontecimento. A cidade inteira vinha passear na galeria. As pessoas vinham do interior, com toda a fam�lia, s� para andar de escada rolante”, relembra, saudoso. �s vesperas de completar 50 anos, um dos pontos comerciais mais queridos dos mineiros, envelhecido, se movimenta em busca de apoio para ser revitalizado at� a Copa do Mundo de 2014.

Sebastião deixou a vida de caixeiro e em 1964 abriu negócio na galeria(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Sebasti�o deixou a vida de caixeiro e em 1964 abriu neg�cio na galeria (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Na �poca, com os tr�s filhos pequenos, de colo, Sebasti�o Ribeiro entendeu que era hora de deixar a vida de caixeiro viajante para fixar ra�zes e cuidar dos descendentes. Elegante com seu palet� xadrez, de humor e lucidez contagiantes, o comerciante demonstra a boa amizade conquistada ali, no segundo andar. Gilmar de Souza Oliveira, de 50, vizinho balconista, faz visita de cortesia. “O melhor aqui s�o as amizades sinceras”, diz o colega, desde 2002 na galeria. “Se quiser ouvir uma carioca bonita � s� conversar com aquela mo�a ali.” O filatelista aponta para J�ssica Ferreira de Souza, de 22, nascida na Baixada Fluminense, em Senador Camar�, atualmente morando em Vespasiano, na Grande BH. “Aqui, todo mundo � amigo de todo mundo. Somos uma fam�lia”, confirma a bela e sorridente carioca. Para o encarregado de servi�os gerais Jos� de Oliveira, funcion�rio mais antigo do condom�nio, ali “h� uma fam�lia que se ampara”.

Deotínio Amaral comandou por 22 anos a administração do complexo(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Deot�nio Amaral comandou por 22 anos a administra��o do complexo (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
No turno da noite, das 23h �s 7h, desde 29 de agosto de 1985, Jos� destaca o respeito m�tuo entre todos da fam�lia Ouvidor. “Uma cidade dentro da nossa cidade”, diz o slogan criado h� 10 anos pelo administrador Deot�nio Amaral, de 76, presidente do conselho fiscal e consultivo. “A frase veio de uma conversa com o prefeito C�lio de Castro. Representa bem a riqueza e a diversidade que temos aqui”, considera. E tamb�m as dificuldades. Deot�nio, que por 22 anos esteve � frente da administra��o do complexo, reconhece: “O maior problema, a maior dificuldade, � lidar com alguns interesses pessoais”. No entanto, a paix�o pelo lugar, desde 1968, n�o deixa espa�o para aborrecimentos. Deotinio cita com admira��o as fam�lias Kubitschek, Mancini e Mohamed, Hardi, Farah, Morici, de Marco, Xavier, Moura e Machado Mour�o, respons�veis pela edifica��o da galeria, com acesso pelas ruas S�o Paulo e Curitiba.

Bem perto de comemorar 50 anos, os desafios da Galeria do Ouvidor s�o grandes. Para o s�ndico Valter Faustino da Silva, de 56, Belo Horizonte cresceu e o pr�dio precisa acompanhar os avan�os da capital. Os dois elevadores e as quatro escadas rolantes n�o atendem bem os cerca de 40 mil clientes por dia que circulam pelos seis andares do endere�o. “Nossa principal meta � a revitaliza��o. Estamos trabalhando em busca de parceiros com recursos para uma ampla reforma em toda a �rea comum da galeria”, anuncia. Valter, na companhia da encarregada administrativa Cristiane Gisele Siqueira, de 27, explica projeto sob a responsabilidade da arquiteta D�bora Mendes. O s�ndico acredita que, com o enorme potencial do ponto, n�o vai ser dif�cil agregar empres�rios de vis�o e sensibilidade para a empreitada.

Na primeira fase – que a administra��o espera ver conclu�da at� o ano que vem –, est�o previstas obras de implanta��o de duas escadas rolantes, ao custo aproximado de R$ 500 mil. O s�ndico ressalta os cuidados com a seguran�a estrutural do edif�cio para a reforma e pontua detalhes do planejamento. Segundo ele, c�lculo feito por especialistas tra�a as vantagens matem�ticas das escadas rolantes em rela��o aos elevadores. Uma escada de um metro de largura pode transportar at� 9 mil pessoas por hora, enquanto um elevador, com capacidade para 700kg, d� conta de apenas 600 usu�rios. “Sem falar nas vantagens comerciais, j� que na escada rolante o consumidor tem acesso visual �s lojas e acaba se lembrando de algo que ele gostaria de comprar”, diz Valter Faustino.


Novos costumes

Ao longo dos tempos, a Galeria do Ouvidor testemunhou transforma��es na moda e nos costumes da fam�lia mineira. Em quase 50 anos, acompanhou dias de gl�ria para confec��es, artesanatos em couro, prata e ouro, jeans e bijuterias, e hoje v� crescer ainda mais a for�a dos produtos para a fabrica��o de bijuterias e artesanatos. O primeiro sal�o unissex da capital marcou o fim dos anos 1960 no c�lebre endere�o entre as ruas S�o Paulo e Curitiba. Nero Almeida, de 65, cabeleireiro desde os 20 anos, apostou na diferen�a, venceu preconceitos e foi reconhecido cidad�o honor�rio de Belo Horizonte. “Fui o primeiro homossexual a receber esse t�tulo numa cidade brasileira”, conta.

“Aqui no sal�o, de melhor, a educa��o, o capricho… tudo. O Nero � excelente profissional. H� 20 anos sou freguesa dele”, elogia, satisfeita com o novo trato no cabelo, Concei��o Rodrigues, de 63, moradora de S�o Sebasti�o das �guas Claras, em Nova Lima. A cada dois meses, ao menos, a cozinheira do Bar do Marcinho corta a cidade pela hora marcada com o mo�o que levou os homens �s salas de beleza de Minas. A metros do sal�o do Nero, casal maduro, abra�ado, olha vitrine picante. O homem de bigode cochicha algo no ouvido da mulher, que acha gra�a e d�-lhe tapinha nas costas. Abordados, esquivam-se serelepes: “A gente est� s� olhando”. Deixam a cena a passos apressados.

No balc�o do �xtase Sex Shop, Maria Jos� Soares, de 58, comenta que, apesar dos mais “avergonhados”, os casais de Belo Horizonte “est�o com a cabe�a mais aberta”. Conta que todos os produtos t�m boa sa�da. Das roupinhas especiais aos acess�rios mais indecentes, vale tudo para “n�o deixar esfriar o amor”. “� um incremento que eles d�o ao relacionamento para sair da rotina”, considera. “O neg�cio j� foi muito bom, mas com a concorr�ncia enfraqueceu um pouco”, diz Maria Jos�, h� 30 anos no pr�dio comercial, dez deles dedicados na loja de sex shop da filha. “‘Nunca entrei numa loja dessas, n�o… vim s� pra conhecer, viu!?’; ‘Ah, vim comprar pra uma amiga’ e ‘Um amigo pediu pra eu olhar o pre�o…’ � o que a gente mais escuta aqui”, diverte-se. Do g�nero, s�o dez as lojas especializadas na Galeria do Ouvidor.

(foto: Gilvando Soares/EM/D.A Press -12/7/95)
(foto: Gilvando Soares/EM/D.A Press -12/7/95)

OUTROS TEMPOS: LP, boca de sino, pastel e escada rolante

O Centro da cidade, mais do que refer�ncia, era obriga��o para os garotos que estudavam no velho Col�gio Anchieta. A Galeria do Ouvidor, poderia-se dizer, refer�ncia obrigat�ria. Se sobrava uma graninha para comprar um LP, o estreito pr�dio com entradas pelas ruas S�o Paulo e Curitiba estava ali na m�o (Raul, o goleiro e �dolo do Cruzeiro, j� n�o tinha mais loja de discos no peda�o). Dezenas de alfaiates estabelecidos no local transformavam em cal�as bocas de sino os tecidos que lhes apresentavam �s centenas. O tradicional pastel na diminuta lanchonete era de lei. Mesmo porque a palavra colesterol estava entre as menos procuradas nos dicion�rios. At� hoje, em espa�o ampliado, a iguaria est� l� a convidar os saudosistas. O Nero cabeleireiro era atra��o naquele in�cio dos anos 1970, pela vasta cabeleira e pelos trejeitos – � �poca, acreditem, era um tipo incomum. Relojoarias, livrarias, papelarias, casas de bijuterias compunham aquele simp�tico precursor dos shoppings populares. Bons tempos em que at� escada rolante fazia sucesso! Afinal, havia poucas em Belo Horizonte. E a Ouvidor tinha logo duas! (Cl�udio Arreguy)
 


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