
Na manh� de sexta-feira, entre uma e outra p� de areia arrancada, Vandiro Carlos Alves da Silva, de46, contou que o assoreamento trouxe uma verdadeira transforma��o em sua vida e nas de outros tantos barranqueiros. “Fui pescador por mais de 20 anos. Mas os peixes do rio diminu�ram muito. Para sobreviver, tive que come�ar a tirar a areia do fundo”, relata Vandiro, que diz ganhar entre R$ 250 e R$ 300 por semana com a extra��o, ocupa��o abra�ada por muitos de seus antigos companheiros de pesca.
A areia que suga a vida do Velho Chico espelha o que sofrem seus afluentes. O Verde Grande, queabrange35munic�pios desde Bocaiuva, no Norte de Minas, a Malhada, na Bahia, est� nessa lista dos assoreados.
Muitos dos pequenos c�rregos que ante so abasteciam pararam decorrer ou foram tomados por esgoto, de acordo com o t�cnico em meio ambiente Jos� Ponciano Neto. “A abertura desenfreada de po�os tubulares, que reduz a quantidade de �gua subterr�nea, os desmatamentos clandestinos e irriga��o descontrolada provocaram o desaparecimento de mananciais, afetando bacias importantes, como a do Verde Grande”, afirma Ponciano. As consequ�ncias do assoreamento s�o vis�veis no Rio Canabrava, afluente do Rio Verde Grande, em Montes Claros.
Atalho
Enquanto caminha pelo leito praticamente seco, o produtor Bento Queiroz da Silva, de 73 anos, fala com nostalgia de um tempo que, ele sabe bem, n�o voltar�. "H� uns 30 anos, j� nadei muito neste rio”. Mas o tempo passou e muita terra foi carregada para dentro do leito", diz. O pequeno agricultor Matias Gon�alves Queiroz, de 67, manifesta tristeza semelhante ao andar pelo leito do Canabrava praticamente seco.
“Antigamente, esse rio tinha tanta �gua que a gente tinha at� medo de entrar nele”, recorda Matias. Mas o Canabrava n�o � um caso isolado. O Rio S�o Domingos, outro afluente do Verde Grande, agora s� “corre nas �guas”, como o sertanejo se refere � esta��o chuvosa. Vazio, transformou-se em estrada.Acalha que levava �gua entre as cidades agora transporta gente.
Gente triste. Pelo leito seco, o agricultor Jonnathan Cleber Alvany, de 35, vai desde S�o Domingos, na zona rural, at� o munic�pio de Francisco S�. “O homem tem que deixar a natureza sossegada. Sen�o, at� as nascentes v�o acabar”, alerta. Dirigente do Instituto Tabuas, o ge�grafo Jo�o do Carmo, o Jo�o Balaio, que atua no Rio Tabuas, um dos afluentes do Verde Grande, aponta a constru��o sem crit�rios de estradas rurais como uma das causas do assoreamento de rios no Norte de Minas. “As estradas vicinais s�o feitas de forma inadequada. Quando chove, a terra movimentada pela patrol vai toda para as nascentes e para os leitos dos rios.”