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Estado de Minas

Sem sinal de recep��o da TV aberta, moradores de Papagaios protestam

Popula��o se revolta com a falta de di�logo da Anatel, que lacrou transmissores e privou popula��o do lazer


postado em 18/07/2012 06:00 / atualizado em 18/07/2012 09:09

Na falta da TV aberta, famílias investem R$ 450 na compra de antena parabólica. Hoje são vendidos até 25 equipamentos por dia na cidade de 15 mil habitantes(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Na falta da TV aberta, fam�lias investem R$ 450 na compra de antena parab�lica. Hoje s�o vendidos at� 25 equipamentos por dia na cidade de 15 mil habitantes (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Papagaios – Interferir abruptamente nos costumes de um povo � tocar fundo no seu orgulho. Os europeus abusaram dessa invas�o, por motivos econ�micos e de expans�o territorial, principalmente a partir do s�culo 16, por meio de expedi��es mar�timas, na �frica, Am�rica e Oceania. Mais do que perder bens e territ�rios � sentir a alma ferida. Essa recorr�ncia hist�rica explica um pouco o sentimento dos moradores de Papagaios, Regi�o Central de Minas, e de outros munic�pios que se viram, de repente, privados do sinal de recep��o de TV aberta pela Ag�ncia Nacional de Telecomunica��es (Anatel), sob a alega��o de que os equipamentos de transmiss�o s�o irregulares, ou seja, instalados sem autoriza��o do Minist�rio das Comunica��es.

Silenciosamente, ao contr�rio das ruidosas invas�es europeias, a Anatel, subordinada ao minist�rio, subiu o morro no qual Papagaios instalou suas torres de recep��o de sinais de TV aberta e desligou os aparelhos. Deixou 15 mil cidad�os indignados com a indelicadeza e a interfer�ncia no seu h�bito di�rio de acompanhar as not�cias de Minas, notadamente do futebol, o romantismo e as tramas sequenciais das novelas. E as crian�as, em f�rias, sem os programas infantis e os desenhos animados.

O mesmo sentimento � compartilhado pelos 5,5 mil moradores de Maravilhas, os 6 mil de Jeceaba tantos outros mineiros, pois o representante da Anatel no estado, Jos� Dias Neto, disse em reuni�o com os emiss�rios das TVs que a ordem veio de Bras�lia: fiscalizar as torres de 440 munic�pios do estado e lacrar os sinais que considerar irregulares. Os cidad�os n�o entram nessa quest�o legal, mas sim a forma truculenta como come�ou a ser feita, sem aviso �s emissoras e �s prefeituras, de forma ditatorial.

Como explicar ao pequeno V�tor, de 7 anos, quando, diante da casa do pai, Joadir Brito Lopes, de 42, em Papagaios: “Cad� o programa do Chaves? A TV sumiu de repente”. O irm�o, o cruzeirense Carlos Miguel, de 12, est� h� mais de uma semana sem ver o Alterosa no Ataque, porque � f� da apresentadora, a ex-�britra de futebol Ana Paula Oliveira. A m�e, Fabiana, est� perdendo o desenrolar da novela Carrossel. “No dia em que o Adriano (personagem da trama) estava tendo um pesadelo, o sinal da televis�o sumiu.”

 

Sacrif�cio

Aparelho de TV que funcionava toda noite na praça perdeu a função de distrair as pessoas(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Aparelho de TV que funcionava toda noite na pra�a perdeu a fun��o de distrair as pessoas (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Ela est� at� disposta a sacrificar parte do sal�rio que ganha como dom�stica em uma antena parab�lica, que custa R$ 450 instalada, como faz a maioria dos moradores de Papagaios de melhor poder aquisitivo para receber a programa��o nacional das emissoras. A abastada pequena parcela da popula��o prefere assinar as TVs por sat�lite. N�o h� na cidade servi�o de TV a cabo. E todos, sem exce��o, est�o indignados com a trucul�ncia da Anatel, que deixou sem lazer exatamente as camadas mais pobres da popula��o.

“S� pode ser briga pol�tica. Esse sinal estava aqui h� mais de 20 anos, porque vieram deslig�-lo agora, na �poca das elei��es?”, pergunta Alex Sander, de 40, um dos empres�rios de Papagaios ligados � extra��o e ao com�rcio de ard�sia. O mineral responde hoje por 60% da arrecada��o do munic�pio. S� depois de lacrar o equipamento a Anatel enviou laudo ao prefeito M�rio Reis Filgueiras (PDSB) informando o motivo. E ele prop�e a uni�o dos prefeitos e das emissoras em busca de uma sa�da: “Pode ser uma liminar com o objetivo de estabelecermos um prazo com Anatel para regulariza��o do sinal”.

Barrados pela burocracia

Vanessa agora tem TV por parabólica, um luxo que a lavradora Marianes não pode se dar(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Vanessa agora tem TV por parab�lica, um luxo que a lavradora Marianes n�o pode se dar (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

 

A ideia do prefeito de Papagaios parece vi�vel, mas n�o � t�o f�cil assim regularizar um sinal de recep��o. O munic�pio precisa pedir �s emissoras um projeto t�cnico, que custa hoje em torno de R$ 3 mil. Trata-se de um documento preparado por empresas de engenharia especializada em telecomunica��o contendo os procedimentos para obten��o da licen�a, que � enviado ao Minist�rio das Comunica��es. A autoriza��o � publicada no Di�rio Oficial da Uni�o e o solicitante, a emissora de TV ou prefeitura do munic�pio interessado, instala o equipamento e passa a contribuir com uma taxa em torno de R$ 500 anuais recolhida pela Anatel.

S� que as emissoras alegam que h� milhares de solicita��es de instala��o de receptores de TV anal�gica paradas nas gavetas do minist�rio. Assim, fica dif�cil responder a uma pergunta simples feita pelos moradores de Papagaios: “Quando o sinal ser� restabelecido?”. Tamb�m n�o h� resposta para o lacre dos aparelhos sem aviso pr�vio, privando cidad�os de cidades de pequeno e m�dio porte sem op��es de lazer al�m da tela da televis�o. Ainda mais em Papagaios, onde os bares, restaurantes e lanchonetes, por for�a de lei municipal, fecham �s 23h, impreterivelmente, de domingo a quinta-feira, o que explica em parte os baixos �ndices de criminalidade na cidade.

A TV era, at� a semana passada, o �nico passatempo, al�m da leitura, de Vanessa dos Santos, de 14 anos, estudante do 8º ano do ensino fundamental. De repente, o sinal da telinha desapareceu. “Foi p�ssimo, em plenas f�rias fui privada de meus programas”. Apelou ao pai, funcion�rio de uma das empresas de extra��o de ard�sia, e � m�e, dom�stica. Eles abriram m�o das economias e entraram na fila da loja de Marco Ant�nio Luiz da Silva, o Toni, de 33, que vendia no m�ximo quatro parab�licas por dia e hoje tem que se virar para atender entre 20 e 25 pedidos.

“Sou o �nico em Papagaios que vende e instala antenas. O cliente paga R$ 450 pelo aparelho e o servi�o. E n�o estou tirando proveito da situa��o. O pre�o � o mesmo h� quatro anos”, diz Toni. Quando ele chegou ontem com a antena na casa de Vanessa, no Bairro Edite Cordeiro, a garota abriu um largo sorriso. Acredita que o t�dio de uma cidade pequena vai ser amenizado pela tela colorida da TV.

Esta � uma sorte que Marianes Alexandre, de 48, n�o tem. Ela ro�a pastos na zona rural e ganha apenas o suficiente para o sustento. Na fria noite de segunda-feira , estava agasalhada na porta de casa, no humilde Bairro Miguel�o, esperando algu�m para conversar. Na sala, mais fria ainda estava a TV, desligada e sem previs�o de quando voltar� a exibir a programa��o mineira que tanta falta faz � popula��o. (AV)


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