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Estado de Minas

Doen�as psiqui�tricas combinam predisposi��o gen�tica e experi�ncias da vida


postado em 29/01/2013 06:00 / atualizado em 29/01/2013 07:08

Ansiosa com coisas mínimas, a universitária Paula Jeunon percebeu que o sintoma tomou outras proporções e se transformou em crises agudas: palpitação no peito e sensação iminente de morte(foto: Arquivo Pessoal)
Ansiosa com coisas m�nimas, a universit�ria Paula Jeunon percebeu que o sintoma tomou outras propor��es e se transformou em crises agudas: palpita��o no peito e sensa��o iminente de morte (foto: Arquivo Pessoal)
Primeiro, era uma ansiedade sem mal aparente. “Ficava ansiosa s� de esperar por algu�m”, lembra a universit�ria Paula Jeunon Dutra, de 28 anos. O que era um sentimento at� ent�o considerado normal e comum passou a se tornar patol�gico e perigoso: “Os sintomas foram evoluindo. Passei a ter crises agudas. Era uma palpita��o no peito e uma sensa��o iminente de morte. S� este ano, tive oito crises como essa”, conta Paula, para quem o diagn�stico m�dico foi de s�ndrome do p�nico. A universit�ria, hoje em tratamento, integra o percentual de 20% da popula��o brasileira que sofre com um dos tipos de transtorno de ansiedade e para o qual o clonazepam, princ�pio ativo do Rivotril, � indicado, mas com ressalvas.

Nos �ltimos dias, o Estado de Minas mostrou que a medica��o, com �ndice de depend�ncia maior que do �lcool e da coca�na, � consumida no Brasil em larga escala. Um recorte disso � o levantamento do Sindicato dos Farmac�uticos de Minas Gerais, divulgado pelo EM com exclusividade na sexta-feira, que mostra que somente em 10 cidades mineiras, em 2012, foram consumidos 15 milh�es de comprimidos. Em todo o estado, foram 76 milh�es de p�lulas.

O medicamento tem sido usado no tratamento contra depress�o e, como mostrou ontem a reportagem, n�o trata a doen�a, e, sem acompanhamento m�dico, pode at� piorar a enfermidade. Mas, em casos de transtorno de ansiedade, um mal que muitas vezes � erroneamente confundido com quadro depressivo, a droga pode ser, de acordo com especialistas, uma aliada para o controle dos males que o problema abrange.

A ansiedade faz parte das rea��es de defesa das pessoas. Segundo explica a psiquiatra, psicanalista e professora de resid�ncia de psiquiatria do Instituto de Previd�ncia dos Servidores de Minas Gerais (Ipsemg) Gilda Paoliello, � um sentimento normal que, inclusive, tem uma fun��o protetora. “� um sentimento sinalizador de algo que est� ocorrendo. Existe uma ansiedade boa, que � aquela da expectativa de quando esperamos por algo. O problema est� quando essa �nsia se torna patol�gica e come�a a limitar a sua vida.” Por causa dessa sensa��o, a pessoa, de acordo com Gilda, passa a evitar coisas espec�ficas e a ter um medo vago. “Ela se sente desamparada, tem tonturas e passa a ter sintomas f�sicos, como taquicardia. � um momento de crise de ansiedade”, define.

O diagn�stico n�o � simples. Para o psiquiatra Frederico Graeff, professor titular aposentado da Universidade de S�o Paulo (USP) e presidente do Instituto de Neuroci�ncias e Comportamento (Inec), a linha que separa a ansiedade normal da patol�gica � t�nue. “Quando ela se torna doen�a � uma ansiedade inapropriada, que causa sofrimento e desajustes nas rela��es sociais, familiares e de trabalho. Nesse caso, s�o v�rios os transtornos de ansiedade, cada qual com manifesta��es pr�prias. H� o transtorno do p�nico, de ansiedade generalizada (TAG), de estresse p�s-traum�tico, de ansiedade social e fobias. H� ainda o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), considerado pelo DSM-4 (manual de diagn�stico da Associa��o Psiqui�trica Americana), mas n�o pelo CID-10 (Classifica��o Internacional de Doen�as), um transtorno prim�rio de ansiedade”, explica.

Causas

Evoluindo por meio de crise, a ansiedade pode gerar todos esses diagn�sticos citados por Graeff, o que, segundo a psiquiatra Gilda Paolielo, vai depender das caracter�sticas pessoais de cada um. A crise pode ser acentuada pela situa��o pela qual o indiv�duo est� passando no momento. “H� quem tenha a propens�o ao transtorno quando uma situa��o se torna desfavor�vel, e no mundo moderno, isso vai acentuando”. Segundo Frederico Graeff, p�s-doutor pela Universidade de Harvard e ex-professor visitante na Universidade de Oxford, de maneira geral toda patologia psiqui�trica � multifatorial, n�o tendo apenas uma causa, mas combina a predisposi��o com uma situa��o desencadeante ou estressante. A predisposi��o pode estar relacionada a um fator gen�tico e heredit�rio ou a experi�ncias ao longo da vida. "Isso causa uma vulnerabilidade maior ou menor.”

O estresse, de acordo com a universit�ria Paula, foi um dos fatores que desencadearam a s�ndrome do p�nico. “Estava trabalhando, estudando e fazendo cursos, n�o parava em casa. A�, minha ansiedade, que � algo que sempre tive, foi piorando. At� que um dia estava diante da oportunidade de mudar de emprego e, perante o desafio, comecei a ficar muito ansiosa no meio da rua. Meu cora��o batia muito r�pido e senti que ia morrer. Fui para o hospital e o m�dico deu o diagn�stico da s�ndrome. � algo muito f�sico, toda vez que tenho a crise, por mais que saiba que faz parte do transtorno, n�o acho que �. Quero correr porque acho que vou morrer. O pior � ningu�m vai achar que aquilo � verdadeiro.”

Tratamento

De acordo com a m�dica Gilda Paolielo, a primeira coisa no tratamento do transtorno de ansiedade � o paciente aprender a lidar com o problema de formas diferentes. “Se ele n�o consegue fazer essa mudan�a, � preciso buscar ajuda da psicoterapia. Quando s� a terapia n�o resolve, entram as medica��es, como o clonazepam”, diz. Atualmente, de acordo com a especialista, o Rivotril tem sido menos usado por causa da depend�ncia que causa ao paciente, tanto f�sica quanto ps�quica. “Temos antidepressivos que s�o mais seguros por n�o causar a depend�ncia. Mas eles demoram a fazer efeito, podendo levar semanas at� uma melhora do paciente”, afirma Gilda, ressaltando que, por essa raz�o, muitos especialistas recorrem aos ansiol�ticos, como o Rivoltril, at� que os antidepressivos comecem a agir no organismo. “Ele traz o al�vio para a ansiedade, mas tem que ser prescrito com responsabilidade e acompanhamento m�dico. O que tem ocorrido � o abuso dessa medica��o”, critica Gilda.

Apesar da import�ncia de aliar a droga ao tratamento psicol�gico – quando o paciente vai tratar do que o incomoda, falando de suas ang�stias e medos –, Frederico Graeff relata que muitas pessoas, entretanto, n�o recorrem � psican�lise ou psicoterapia, por serem processos mais demorados e caros, ou por ter apenas acesso ao Sistema �nico de Sa�de (SUS). "� por isso que muitas vezes no tratamento prevalece o farmacol�gico, que nem sempre � a melhor. O certo � combinar medicamento e tratamento psicol�gico.” Ele acredita que h� excesso de medica��o por um lado e a falta por outro. “H� uma s�rie de pessoas com transtornos de ansiedade n�o medicadas e muita gente medicada sem necessidade. Quem mais receita essas subst�ncias, principalmente os antidepressivos, s�o m�dicos de outras especialidades e n�o psiquiatras. A indica��o � muito ampla e os efeitos colaterais, indesej�veis. � preciso pesar riscos e benef�cios na hora de fazer essa escolha”, alerta.

Veja os tipos de transtornos de ansiedade

Transtorno do p�nico

A caracter�stica essencial � o ataque de p�nico, experi�ncia s�bita de terror e medo de morrer acompanhada de as manifesta��es neurovegetavivas como palpita��o, sudorese, tremor, tontura, n�useas e diarreia. A situa��o desagrad�vel dura alguns minutos e a pessoa pode desenvolver a ansiedade antecipat�ria: medo de outro ataque.


Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

Quadro de preocupa��o exagerada com eventos corriqueiros. A pessoa geralmente imagina que algo ruim est� para ocorrer. Pelo DSM-4, � preciso seis meses com esses sintomas para fechar o diagn�stico em TAG. Diferentemente do p�nico, as manifesta��es neurovegetavivas
s�o mais leves.


Transtorno de estresse pos-traum�tico

Decorre de experi�ncias muito traum�ticas, como combates, calamidades, acidentes. Mesmo ap�s o epis�dio, a ansiedade da pessoa permanece e ela pode reviver a situa��o, o chamada flashback, e ficar ansiosa com qualquer coisa que lembre o trauma.


Transtorno obsessivo compulsivo (TOC)
Apesar de n�o ser considerado um transtorno prim�rio de ansiedade pelo CID-10, o TOC � tratado dessa forma no DSM-4. Trata-se de um comportamento rotineiro em que uma ideia forte, em rela��o a de defesa territorial ou limpeza, por exemplo, n�o se afasta do pensamento.


Fobia

O quadro de ansiedade na fobia � bem parecido com a do p�nico mas em rela��o a quest�es espec�ficas, como medo de ver sangue, medo de altitude, medo de lugares fechados. A categoria � bem distinta porque � a �nica para qual n�o existe tratamento medicamentoso, s� exposi��o a tratamentos compartimentais.


Transtorno de ansiedade social ou fobia social

Nesse tipo de transtorno de ansiedade o indiv�duo fica muito ansioso ao ser observado e entende qualquer observa��o como um escrut�nio ou algo cr�tico. N�o � simplesmente o caso de uma pessoa t�mida que n�o gosta de ficar em p�blico, � algo levado ao extremo.


Fonte: Frederico Graeff, m�dico psiquiatra, p�s-doutor pela Universidade de Harvard e ex-professor visitante na Universidade de Oxford, professor titular aposentado da USP e presidente do Instituto de Neuroci�ncias e Comportamento (Inec).

No MPF

A s�rie do Estado de Minas sobre o excesso, uso e reflexo do clonazepam, divulgada desde sexta-feira, motivou o ex-vereador e ex-presidente da C�mara de Vereadores de BH, Betinho Duarte, assessor especial da Comiss�o da Verdade Ordem dos Advogados do Brasil – Regional Minas, a entrar com representa��o no Minist�rio P�blico Federal (MPF) pedindo investiga��o no estado para o consumo do rem�dio. “Isso tem que ser apurado a fundo. As not�cias chocaram a sociedade, principalmente, quando foi mostrado que uma crian�a de 9 anos estava sendo medicada com o Rivotril.”


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