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Estado de Minas

Vapor Benjamim Guimar�es, her�i do Velho Chico, faz 100 anos

Alquebrado, o vapor Benjamim Guimar�es comemora seus 100 anos em condi��es prec�rias. � espera de restaura��o e praticamente %u2018aposentado%u2019, o navio ainda atrai turistas para Pirapora


postado em 04/02/2013 06:00 / atualizado em 04/02/2013 07:18

Mateus Parreiras

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Pirapora – A menos de 50 cent�metros da �gua, no conv�s de madeira, passageiros se agarravam onde podiam para atravessar as corredeiras do Rio S�o Francisco que arrebentavam nas pedras entre Sobradinho e Juazeiro, na Bahia. No trecho norte-mineiro do Velho Chico, a partir de Pirapora, o forr� varava as noites no segundo andar da embarca��o, com animados estudantes e viajantes rompendo o sil�ncio do sert�o. Desbravador das Am�ricas, o vapor Benjamim Guimar�es singrou a Amaz�nia e o Mississippi, no cora��o dos Estados Unidos, transportando carv�o, algod�o e madeira do Minnesota ao porto de Nova Orleans.


Testemunha da hist�ria desses povos, o navio Benjamim Guimar�es chegou ao centen�rio este ano, mas sem o esplendor de suas c�lebres jornadas. Alquebrado, ancorado no porto de Pirapora com a madeira trincada, pintura descascada e casco prec�rio, ele j� n�o desce o rio para viagens que durem mais de tr�s horas (36 quil�metros) – muito aqu�m dos quase 30 dias de ida at� Juazeiro (BA) e volta, perfazendo 2,7 mil quil�metros.


Se o navio n�o for reformado logo, ser� modesta a comemora��o de seus 100 anos. O tombamento pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha) ocorreu em 1985. A atual tripula��o informa: s�o necess�rias reformas de dois em dois anos para que o vapor possa repetir a tradicional jornada, de 1.371 quil�metros, entre Pirapora e Juazeiro. A �ltima interven��o – incompleta, por sinal – ocorreu em 2007.


A Prefeitura de Pirapora, propriet�ria do vapor, apressa-se para restaur�-lo no segundo semestre e, assim, fazer a viagem comemorativa a Juazeiro no fim do ano. “Em abril, vamos tentar aprovar na Lei de Incentivo � Cultura o projeto de reforma completa do Benjamim Guimar�es, que foi aprovado pelo Iepha e j� conta com empresas interessadas”, afirma Anselmo Luiz Rocha de Matos, diretor financeiro da Empresa Municipal de Turismo de Pirapora. O custo foi estimado em R$ 1,3 milh�o.
“O navio � o nosso maior atrativo. Recebemos turistas do mundo inteiro e com isso movimentamos a economia da cidade inteira”, informa Matos. De acordo com o Iepha, as condi��es do navio seriam “boas” e n�o h� previs�o de reforma ou de comemora��es espec�ficas do centen�rio.

Contramestre Antônio Tadeu de Oliveira teme as corredeiras baianas(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Contramestre Ant�nio Tadeu de Oliveira teme as corredeiras baianas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Constru�do pelos armadores James Rees Sons & Co. em 1913, n�o se sabe o m�s de batismo do navio. Ele chegou ao Brasil para servir � Amazon River Plate Company, no Rio Amazonas. Pelos trilhos da Central do Brasil, chegou desmontado a Pirapora, no fim da d�cada de 1920, e recebeu o nome do pai do dono da empresa, J�lio Mour�o Guimar�es. Seria destinado ao transporte de passageiros na primeira e segunda classes, al�m de puxar lanchas a reboque com lenha, gado e outros tipos de carga.


Em 2004, o Benjamim Guimar�es voltou ao Rio S�o Francisco, depois de passar d�cadas sem navegar. Atualmente, faz passeios aos s�bados e domingos, com ingressos a R$ 40. No feriado de carnaval, est�o previstos tr�s passeios, exceto na sexta-feira.

Forr� Na rampa de madeira que liga o porto ao navio, basta conversar com a tripula��o para ser transportado aos tempos de ouro da navega��o a vapor. O mais antigo tripulante em atividade � Petron�lio Santos Silva, de 71 anos, a bordo desde 1973. Respons�vel pelo atendimento das cabines de primeira classe e do restaurante, seu Petu lembra casos que povoam o imagin�rio ribeirinho. “Vinham muitos estudantes para o Sul (Regi�o Sudeste). Os homens usavam chap�u. As mulheres eram mais comportadas, mas, quando a sanfona come�ava, todo mundo ca�a no forr�”, conta.


Em sua primeira viagem, seu Petu levou um susto. Poderia at� ter morrido. “Por causa das lamparinas, muitos insetos voavam por l�. A mariposa entrou no meu ouvido e, de t�o desesperado, quase pulei no rio. O capit�o me segurou e pingou �lcool para matar o bicho”, conta. Ele costuma divertir os turistas com o caso do cozinheiro que gostava de rapazes cearenses. “Certo dia, ele foi � rede em que um jovem dormia, na segunda classe. O menino puxou a peixeira e correu atr�s dele. O cozinheiro gritava: ‘Num vai me matar n�o, Satan�s’. Conseguiu escapar, mas foi uma confus�o”, recorda.


Paix�o pelo of�cio do bisav�

Bisneto do mestre maquinista Jo�o dos Santos, o Jo�o Corujinha, que trabalhou no vapor no in�cio do s�culo passado, o atual ocupante dessa posi��o � Jason Batista Ferreira, de 56 anos. Com orgulho, ele descreve o funcionamento do navio. “O capit�o puxa a alavanca do aparelho que chamamos de tel�grafo e informa qual � a marcha de que precisa, que pot�ncia deseja. Embaixo, no conv�s, regulo a press�o e passo as marchas para chegar a essa pot�ncia”, detalha.

Jason se orgulha de seguir os passos do bisav�. “J� passou muita gente importante por aqui. O ex-presidente Lula, por exemplo. O ex-governador Francelino Pereira desceu jovem do Piau� para Minas Gerais pelo Benjamim Guimar�es. Depois, voltou para recordar daqueles tempos passeando conosco”, afirma.

Aos 92 anos, o ex-governador ainda se lembra daqueles tempos. Fez a viagem aos 22. “Naquela �poca, o Eixo (Alemanha, It�lia e Jap�o) torpedeava navios na costa brasileira. Por isso decidi descer do Piau� para Minas pelos rios. N�o foi uma viagem tur�stica. Foi uma vit�ria. Levou 40 dias e choveu muito, mas chegamos s�os e salvos”, comemora Francelino.

Testemunha da hist�ria


V�rios tripulantes do Benjamim Guimar�es s�o parentes de antigos marujos e desempenham as mesmas tarefas dos homens que l� trabalhavam no in�cio do s�culo passado, quando o vapor percorria o Rio S�o Francisco de Pirapora a Juazeiro. O �xodo do Nordeste para o Sudeste, o transporte de tropas brasileiras para a Segunda Guerra Mundial e a forma��o do lago da usina hidrel�trica de Sobradinho, na Bahia, s�o importantes fatos hist�ricos testemunhados por quem praticamente morou naquele conv�s.


Para o contramestre Ant�nio Tadeu de Oliveira, de 64 anos, a parte mais emocionante da viagem � a passagem pelas corredeiras perigosas entre Sobradinho e Juazeiro. “� preciso muita habilidade. Se bater numa rocha e rasgar o casco, teremos s�rios problemas. Mas isso nunca ocorreu”, garante. Ainda assim, o marinheiro admite: os furos no casco s�o frequentes, porque o S�o Francisco anda muito raso. “Se o rombo for pequeno, a gente tampa com madeira e panos. Para os grandes usamos at� colch�es e hastes de madeira como escoras”, revela.


O contramestre, que teve dois primos e um tio entre os pioneiros da navega��o em Pirapora, garante: naquela paisagem que se desfruta ao longo do Rio S�o Francisco, ainda est�o vivas as hist�rias do passado. Ali�s, elas est�o entre os motivos que o fizeram abandonar a aposentadoria e se apresentar no vapor. “Os antigos contam o caso da on�a que pulou no barco e se escondeu no por�o. Como o capit�o era desagrad�vel, na hora de matarem o bicho a tiros, os marinheiros aproveitaram para atirar na carga de querosene, pertencente a ele. Vazou tudo”, relembra, enquanto olha para o mato, de onde ainda espera surgirem on�as.


A EMBARCA��O

» Constru��o
1913, nos EUA

» Capacidade
190 passageiros, 78t de carga

» Alimenta��o
1metro c�bico de lenha (equivalente a 100 toras)

» Caldeira
1.840 litros de �gua do rio

» Estoque de lenha
60 metros c�bicos

» Pot�ncia
60 HP (12 mil kg de for�a)

» Propulsor
Roda de popa de 11 p�s em madeira e ferro

» Dimens�es
43,8 m de comprimento, 8 m de boca, 1,2 m de pontal, 9,25m de contorno. Calados m�ximo e m�nimo: 1m e 0,6m.

» Tonelagem bruta
142t

» Velocidade
10,4 km/h (econ�mica) e 12,8 km/h (m�xima)


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