
O cinema e a literatura se renderam �s armadilhas da BR-381. Por ironia, o autor da fic��o mais famosa a tratar dos perigos da estrada morreu num desastre na Rodovia da Morte. Em 1967, o mineiro Oswaldo Fran�a J�nior publicou Jorge, um brasileiro, cujo enredo � a saga de oito caminhoneiros numa viagem do Vale do A�o a Belo Horizonte. No fim do romance, ele alertou os leitores: “Perto de Monlevade, entramos na estrada nova e come�amos a correr. Tive que me lembrar e diminuir aquela correria, porque com carros pesados como estavam aqueles, isso n�o era coisa boa”. Vinte e dois anos depois, o Escort que o romancista dirigia rodou na pista e despencou numa ribanceira, de 60 metros, perto de Monlevade.
Fran�a J�nior tinha ido � cidade para um encontro cultural. Seu romance, no ano da publica��o, fora contemplado com o Walmap, o principal pr�mio de literatura da �poca. Dois dos jurados foram Guimar�es Rosa e Jorge Amado. Um ano antes de o escritor morrer, Jorge, um brasileiro foi destaque no cinema. Levado para a telona em 1988, o filme foi estrelado por Carlos Alberto Riccelli. O sucesso do romance inspirou ainda o seriado Carga pesada, exibido na TV Globo. Poucas mudan�as significativas ocorreram na estrada desde a morte do escritor, em junho de 1989, quando a 381 era chamada de 262.

Depoimento
Carlos Herculano Lopes
Rep�rter, autor do livro poltrona 27, em que relata viagens pela 381
A not�cia da morte de Oswaldo Fran�a J�nior chegou rapidamente �s reda��es dos principais jornais do Brasil. Eu estava de plant�o no Estado de Minas naquela tarde de s�bado. Ficamos comovidos. Todos os meses sou obrigado a encarar a BR-381 at� o trevo de Itabira para viajar a Coluna, no Vale do Rio Doce. Confesso que vou com o cora��o na m�o. Teve uma noite, voltando de Santa Marta, em que o caos come�ou no trevo de Caet�, onde uma carreta, lotada de carv�o, tinha virado no meio da estrada, causando a morte de duas pessoas. Quando conseguimos passar, estavam acabando de tirar o corpo do motorista das ferragens. Tinha sangue por todo lado. O outro, de uma mulher, j� estava estendido no acostamento, sem nada que o protegesse. � por isso que prefiro ir de �nibus. Quando acontece de viajar em ‘carro baixo’, como se diz por aquelas bandas, chego tenso, devido a tantas barbaridades que vejo na estrada. Constatei n�o valer a pena. Pelo menos, no �nibus, normalmente na poltrona 27, por costume antigo, me poupo desses dissabores. Sempre me benzo antes de sair de casa, pedindo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, cuja medalhinha carrego no peito, que me tragam de volta e n�o deixem que eu seja um n�mero a mais na triste estat�stica das mortes.
Corredor de trag�dias
Cinco acidentes que marcaram a BR-381:
2/08/1993
Uma batida de frente entre um �nibus da Gontijo e um da P�ssaro Verde, pr�ximo a Jo�o Monlevade, matou 21 pessoas. A colis�o foi t�o violenta que algumas v�timas tiveram a cabe�a decepada. A cena de horror chocou at� os experientes homens do Corpo de Bombeiros e da PRF que atenderam a ocorr�ncia.
21/02/1996
Um �nibus da via��o S�o Geraldo, que fazia a linha Marata�zes (ES) a Belo Horizonte, despencou da ponte sobre o Rio Engenho Velho. No total, 31 pessoas morreram e 16 ficaram feridas. O coletivo transportava foli�es que haviam ido curtir o carnaval no litoral capixaba.
26/12/2002
Pr�ximo a Bom Jesus do Amparo, um Kadett que seguia em dire��o a Vit�ria n�o conseguiu fazer a curva do km 396. O ve�culo invadiu a contram�o e colidiu com uma carreta. Os quatro ocupantes do ve�culo de passeio morreram no local. O mais velho tinha 29 anos.
17/02/2005
Uma van da Prefeitura de Sabar� rodou na pista, perto de Ravena, e bateu num caminh�o de refrigerantes. Tr�s passageiros, sendo dois secret�rios municipais, morreram no local. O ve�culo de carga ficou atravessado na pista, provocando congestionamento de 30 quil�metros.
11/03/2009
Um caminh�o perdeu o freio na descida do km 30, invadiu a contram�o e acertou em cheio uma van que levava universit�rios (foto). O motorista do escolar e cinco estudantes morreram. O grupo morava em Caet� e estudava na capital. No local, hoje, h� um radar eletr�nico, mas o equipamento � insuficiente para evitar desastres.