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Estado de Minas ESTA��O ESPERAN�A

Antiga constru��o da Gameleira recebe indica��o para ser tombada

Antiga constru��o em BH ser� destinada a escola de circo. Im�vel, em ru�nas, deve ser cedido pelo governo federal


postado em 10/03/2013 00:12 / atualizado em 10/03/2013 18:02

Leandro Couri/EM/ DA Press(foto: Cercado por mato, prédio atrai vândalos e deixa moradores do entorno vulneráveis. Nesta semana, o que sobrou do imóvel recebe oficialmente indicação para tombamento)
Leandro Couri/EM/ DA Press (foto: Cercado por mato, pr�dio atrai v�ndalos e deixa moradores do entorno vulner�veis. Nesta semana, o que sobrou do im�vel recebe oficialmente indica��o para tombamento)


� direita de quem segue a Avenida Amazonas, rumo a S�o Paulo, em terreno bem pr�ximo ao Centro de Conven��es Expominas, definha um s�mbolo da hist�ria ferrovi�ria de Belo Horizonte: a Esta��o Gameleira, inaugurada em 1917. Depois de muito descaso, enfim o ponto est� prestes a receber socorro e vai ser destinado � Escola Livre de Circo. Nesta semana, as ru�nas do im�vel da Regi�o Oeste recebem oficialmente a indica��o para in�cio do processo de tombamento em esfera municipal.

For�a-tarefa envolvendo agentes do poder p�blico trabalham com o prazo inicial de 30 dias para que todas as medidas emergenciais sejam tomadas pelo futuro do bem. Entre elas, a cess�o do im�vel do governo federal para o munic�pio. Para o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, da Coordenadoria das Promotorias Estaduais de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais, esse � o primeiro passo importante para o “come�o da solu��o de um problema”.

O promotor de Justi�a v� a situa��o do bem como um “p�ssimo exemplo” de como � tratado o patrim�nio ferrovi�rio no pa�s e espera que ele seja finalmente recuperado e devidamente socializado. A luta pela esta��o n�o � de hoje. Em 2006, o Minist�rio P�blico e o Patrim�nio Hist�rico e Cultural de Belo Horizonte entraram com a��o civil p�blica na Vara da Fazenda Municipal em defesa do patrim�nio, com pedido de liminar para que a extinta Rede Ferrovi�ria Federal (RFFSA) e a Ferrovia Centro-Atl�ntica (FCA) tomassem provid�ncias. O imbr�glio entre a RFFSA e a FCA apenas contribuiu com o abandono e a degrada��o do endere�o, sob a guarda do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Situa��o triste, que faz o ferrovi�rio aposentado Vantuil Narciso de Lacerda, de 80 anos, respirar fundo e voltar no tempo para reviver o espa�o. “N�o gosto nem de lembrar de como era tudo neste lugar. Aqui, todos os dias, trabalhavam 70 homens e circulavam dezenas de pessoas. Tudo era muito limpinho… naquele lugar, a gente tinha uma ponte rolante”, aponta. Com os olhos marejados, Vantuil fala da alegria de ter sustentado a fam�lia de 17 filhos – 14 leg�timos e tr�s de cria��o – com o trabalho de manobrista na esta��o ferrovi�ria.

Os filhos do ex-ferrovi�rio tamb�m trabalharam no lugar, vendendo doces e bolos na plataforma. A mulher, Olira Xavier Lacerda, de 69, companheira de meio s�culo de casamento, elogia o parceiro: “� um homem maravilhoso. Por muitos anos, a vida dos passageiros esteve nas m�os do meu marido. Era ele quem virava os trilhos, e nunca deixou que nada de ruim acontecesse na esta��o”.

Rotina e cuidados com o lugar, que, em parte, se mant�m. O velho Vantuil, de not�vel sa�de e preparo f�sico, � quem, at� hoje, toma conta do que sobrou de p� no terreno p�blico. “Ontem mesmo, � meia-noite, eu estava dentro da esta��o para ver se a bandidagem estava l�”, conta. Coragem que j� lhe custou um corte na m�o, feito a fac�o, resultante de uma agress�o de um carroceiro que queria despejar lixo nas ru�nas do im�vel a caminho do tombamento.

A mulher, Olira, � quem fala do ocorrido: “Deu at� pol�cia. A gente n�o gosta de confus�o, faz de tudo para evitar, mas n�o teve jeito. O sujeito avan�ou no meu marido com o fac�o, dizendo que isso aqui n�o � dele”. Vantuil, fortaleza de chap�u, botina de couro e sorriso amigo, ouve a mulher, tomada por orgulho. “Meu marido diz que, enquanto viver aqui, vai proteger o lugar”, sorri, demonstrando cumplicidade.

Leandro Couri/EM/ DA Press(foto: Com a mulher, Olira, Vantuil Lacerda toma conta do que ainda está de pé no terreno )
Leandro Couri/EM/ DA Press (foto: Com a mulher, Olira, Vantuil Lacerda toma conta do que ainda est� de p� no terreno )


Cr�ticas

A dona de casa critica o descaso com a esta��o. “Est�o fazendo a �rea de dep�sito de lixo. � uma pena. Est� perigoso, atrai gente ruim. Outro dia, tentaram estuprar uma mulher ali, � luz do dia”, denuncia. Olira volta a afirmar que quem cuida do lugar, do jeito que pode, � seu marido. Revela que, h� pouco tempo, Vantuil gastou R$ 500 para fazer uma cerca de arame farpado e tentar conter invas�es.

Contudo, feliz com o rumo que os filhos tomaram, “todos bem encaminhados na vida”, deixa as preocupa��es de lado para falar de alegrias. “Vivemos um tempo maravilhoso aqui, a �poca do trem Vera Cruz e dos trens de sub�rbio, at� o fim dos anos 1980”, relembra. Traz � varanda foto de “mil novecentos e antigamente” para mostrar �s visitas. Nela, cena de flerte com o companheiro, na antiga esta��o. Repetem a cena, no banco de madeira, para nova fotografia.

Na mesa farta da casa � beira dos trilhos, constru�da nos anos 1980, caf� e bolo de fub�. Com a simplicidade da boa gente mineira e hospitaleira, o ferrovi�rio diz fazer correr apenas os maus elementos que querem depredar a esta��o. “Se vem para o bem, � amigo e � muito bem recebido”, diz, cheio de gra�a com os c�es vira-latas Boca Branca e Lambari, serelepes aos p�s das cadeiras. “Podem ficar sossegados. Eles est�o aqui apenas para avisar. N�o mordem ningu�m”, nos garante.

S�mbolo

O diretor de Patrim�nio Cultural, gestor de departamento da Prefeitura de Belo Horizonte, Carlos Henrique Bicalho, v� com entusiasmo o futuro da Esta��o Gameleira. “Com o tombamento, assim que efetivado, vai haver mais autonomia para a busca de recursos e alternativas para a sua recupera��o e conserva��o”, diz. Bicalho, arquiteto e restaurador, ressalta a import�ncia do bem e defende que, recuperado, o espa�o seja de uso coletivo pela mem�ria da cidade. Lamenta ainda toda a morosidade no tr�mite nas esferas p�blicas, que faz cair aos peda�os um s�mbolo importante da cidade.

Saiba mais

ESTA��O GAMELEIRA


Inaugurada em 1917, a Esta��o Gameleira marcou �poca com a linha Paraopeba, que tra�ava caminho da capital mineira ao Rio de Janeiro. Em Minas Gerais est� grande parte do maior patrim�nio brasileiro � beira dos trilhos, erguido entre o fim do s�culo 19 e o in�cio do s�culo 20. S�o mais de 1,5 mil esta��es ferrovi�rias. Muitas delas, como a Gameleira, � espera de cuidados e novos tempos a servi�o da popula��o.


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