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Estado de Minas

Capital oferece droga l�cita para viciados largarem o crack

BH rejeita interna��o for�ada, adotada por Rio e S�o Paulo e que pode virar lei, e aposta em pol�tica que tenta levar usu�rio a trocar pedra por �lcool e tabaco, at� se livrar do v�cio


postado em 18/04/2013 06:00 / atualizado em 18/04/2013 06:39

Usuários em uma das várias cracolândias da capital: mistura de substâncias comum nas ruas é testada como arma contra dependência(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Usu�rios em uma das v�rias cracol�ndias da capital: mistura de subst�ncias comum nas ruas � testada como arma contra depend�ncia (foto: Beto Magalh�es/EM/D.A Press )


Na contram�o da lei que deveria ter sido votada ontem no Congresso Nacional, que prev� a pol�tica de interna��o involunt�ria dos usu�rios de crack – j� adotada este ano em S�o Paulo e Rio de Janeiro –, Belo Horizonte tem outra frente de trabalho para lidar com o desafio. Refer�ncia nacional da luta contra os manic�mios, a capital mineira optou pelo modelo da redu��o de danos proposto pelo Minist�rio da Sa�de, com a troca da pedra por drogas mais leves, como opi�ceos, �lcool e tabaco, at� conseguir a abstin�ncia total. Na pr�tica, a iniciativa vem apresentando indicadores positivos no Centro de Refer�ncia em Sa�de Mental (Cersam-AD) da Regi�o da Pampulha, com ades�o de at� 40% dos pacientes. O �ndice � oito vezes maior em rela��o aos 5% de recupera��o obtidos, em m�dia, com a interna��o dos dependentes qu�micos.

O problema � o tamanho do desafio e a capacidade de lidar com ele. Desde 2008, BH conta com apenas um Cersam-AD, o da Pampulha, para uma demanda de 2,2 mil moradores de rua, boa parte deles envolvidos com �lcool e crack, segundo o Movimento Nacional de Popula��o de Rua. Diante da falta de atendimento, est�o se formando pequenas cracol�ndias distribu�das pela cidade, at� mesmo em bairros residenciais.

Apesar disso, s� em �ltimo caso � aceita a interna��o do usu�rio de drogas em BH, segundo o secret�rio municipal de Sa�de, Marcelo Teixeira. “� preciso ter clareza de que voc� pode internar algu�m compulsoriamente, mas n�o pode tratar ningu�m compulsoriamente. Ao dizer isso, n�o estou me posicionando contra a interna��o. S� defendo que a medida tem de ser eventual e avaliada do ponto de vista cl�nico”, afirmou.

Mistura

A reportagem do Estado de Minas constatou em v�rios pontos de uso de BH que muitos dependentes qu�micos passaram a fazer associa��o de diversas drogas. Em geral, fumam primeiro cigarros, tomando o cuidado de guardar as cinzas. Elas ser�o usadas para fazer render a pedra do crack, previamente triturada em por��es menores. Antes de queimar a mistura nos cachimbos, os usu�rios tomam cacha�a. “Diante dessa situa��o, o ponto central da redu��o de danos ser� o crack. Se o usu�rio conseguir largar primeiro o crack, ficando com o �lcool e com o tabaco, e em seguida s� com o tabaco, seria desej�vel dentro de uma estrat�gia de interven��o”, defende Marcelo Teixeira.

A meta do programa � conseguir diminuir os danos causados pela pedra no organismo, resgatando valores e v�nculos, familiares ou n�o, de trabalho e da sociedade. Ao convencer o craqueiro a usar menos pedras por dia, em seguida substituir o v�cio por tabaco e permanecer apenas com o �lcool, os t�cnicos de sa�de ganham a confian�a do usu�rio de drogas, que, ao mesmo tempo, ser� convencido a se comprometer com um emprego, a resgatar a conviv�ncia com os filhos e a retomar h�bitos de higiene. Na vis�o da prefeitura, � o oposto de isolar o usu�rio de drogas dentro de uma entidade, como j� foi feito no passado com doentes mentais, hansenianos e tuberculosos.

Para tentar garantir o sucesso do projeto, al�m de abordar os usu�rios de crack por meio das equipes de consult�rio de rua, oferecendo camisinhas gratuitas e a chance de tirar uma nova carteira de identidade, a PBH est� fechando parceria para garantir vagas de emprego subsidiadas, com entidades empresariais como Fiemg e Fecom�rcio. Al�m disso, h� a proposta de criar duas equipes de abordagem familiar, que visitar�o dentro de casa, antes de irem morar nas ruas, dependentes qu�micos prestes a cortarem os la�os com mulheres e filhos. “Quando estiver todo implementado, nosso programa vai ser um dos mais completos do pa�s”, aposta o secret�rio.

PONTO CR�TICO: VOC� � A FAVOR DA INTERNA��O COMPULS�RIA?

Domingos S�vio Lage Guerra, psiquiatra, ex-diretor do Instituto Raul Soares e professor da Faculdade de Ci�ncias M�dicas
SIM:
A depend�ncia de crack � muito grave e o sujeito n�o consegue parar. A droga est� devastando o Brasil, aumentando a criminalidade e trazendo um s�rio problema de m�o de obra para o pa�s, repercutindo na constru��o civil e no com�rcio. O crack est� comprometendo a popula��o jovem. Temos 35 milh�es de jovens e um contingente expressivo deles est� dependendo do crack, que est� destruindo fam�lias. Tamb�m a popula��o de rua est� aumentando muito, bem como a quantidade de roubos, furtos e assassinatos relacionados ao uso dessa droga, que � muito mais potente que a coca�na. O estrago provocado pelo crack � muito grave. Seu uso deixa o sujeito paranoico, agressivo e agitado. A entrega � depend�ncia � grande, os usu�rios est�o em risco social e em grave risco de mendic�ncia, com a perda dos v�nculos sociais. S� quem tem um usu�rio de crack dentro de casa pode realmente falar sobre o assunto.

Alda Martins Gon�alves, professora da Escola de Enfermagem da UFMG, integrante do Centro Regional de Refer�ncia em Crack e Outras Drogas
N�O:
O uso do crack � um problema individual, familiar e coletivo. O usu�rio acaba perdendo seu espa�o na fam�lia e buscando na rua a conviv�ncia com outros na mesma situa��o, o que constitui um grande desafio para a implanta��o de medidas de aten��o aos grupos e de uma pol�tica de atendimento aos usu�rios. O Servi�o de Sa�de Mental da Prefeitura de BH vem atendendo e buscando a ades�o dos dependentes ao tratamento. A abordagem procura ajud�-los a recuperar a autoestima, os la�os familiares e a conviv�ncia social, para que aceitem o processo de recupera��o. Simplesmente internar um usu�rio n�o garante sua ades�o ao tratamento e pode esbarrar no direito ao livre arb�trio. Se uma pessoa est� em risco de morte, intoxicada por drogas, n�o h� que se perguntar se ela quer ser socorrida. O socorro tem de ser prestado, mesmo que exija interna��o. Isso n�o significa interna��o compuls�ria. N�o h� garantias de que, depois da desintoxica��o, o usu�rio de drogas v� aceitar o tratamento.


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