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Estado de Minas

Gangues neonazistas e punks se enfrentam em �reas nobres de BH

Eles travam guerra por territ�rios na capital. Com outras tribos, eles s�o monitorados pela pol�cia devido a agress�es, crimes de intoler�ncia, vandalismo e tr�fico


postado em 09/06/2013 00:12 / atualizado em 09/06/2013 07:26

Mateus Parreiras

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

� em meio ao agito da noite belo-horizontina, quando tribos urbanas convergem para a Savassi, na Regi�o Centro-Sul, que uma guerra de intoler�ncia para marcar territ�rio ocorre longe dos olhos da maior parte da popula��o. Entre o papo nas mesas de bares e as paqueras, poucos percebem quando turmas de jovens portando armas brancas se medem � dist�ncia, prontas para trocar agress�es caso os rivais se atrevam a cruzar seu espa�o. Segundo relat�rio da intelig�ncia da 4ª Companhia do 1º Batalh�o da Pol�cia Militar, ao qual o Estado de Minas conseguiu acesso com exclusividade, h� quatro grandes grupos dessas tribos, a maioria composta por jovens de classe m�dia. Em dois anos de acompanhamento, os militares destacam os skinheads neonazistas e os punks como os mais violentos. Ao todo, 31 pessoas envolvidas nesses movimentos, formados tamb�m por g�ticos e emos, s�o monitoradas e t�m passagens policiais por agress�o, les�o corporal e vandalismo, al�m de uso e tr�fico de drogas.

Conflitos entre essas tribos, com trocas de socos, correntadas e pedradas, s�o registrados nas madrugadas, segundo o major Carlos Alves, comandante da 4ª Companhia. “Nas imedia��es da Pra�a da Liberdade ocorrem brigas com frequ�ncia. Monitoramos sobretudo os casos de amea�as, para que n�o se tornem homic�dios. � o crime que mais preocupa o Estado”, afirma o oficial. O militar conta que, quando um grupo ocupa um espa�o, o outro n�o se aproxima. “A n�o ser que queiram se desafiar. Geralmente se aglomeram em locais de penumbra, que se tornam guetos. Normalmente, a apar�ncia dessas pessoas chama muito a aten��o. Os skinheads, por exemplo, usam coturnos, s�o carecas e fort�es. Os outros t�m piercings e cabelos coloridos”, descreve.

Os grupos com mais componentes sob vigil�ncia s�o os de punks e de skinheads neonazistas, cada qual com 12 monitorados pela PM. Entre eles est�o Ant�nio Donato Baudson Peret, o “Tim”, de 25 anos; Marcus Vin�cius Garcia Cunha, de 26, e Jo�o Matheus Vetter de Moura, de 20, todos presos por apologia ao nazismo e forma��o de quadrilha, em 14 de abril, dias depois de Donato ter postado numa rede social uma fotografia em que aparece estrangulando com uma corrente um morador de rua negro. A den�ncia contra os tr�s foi aceita pela Justi�a Federal.

Considerados nacionalistas e conhecidos por pregar a “supremacia branca” contra judeus, negros e homossexuais, os neonazistas geralmente se re�nem na pra�a da Savassi. “Ficam bebendo e brincando de bater uns nos outros. Se algu�m olhar atravessado, � briga na certa. Outro dia, um colega teve de pegar um pau para se defender deles, s� porque � negro”, conta um lavador de carro da regi�o, que pediu para n�o ser identificado, com medo de retalia��es.

Apesar da viol�ncia dos skinheads, o grupo que mais preocupa a PM atualmente � formado pelos punks. “Eles v�m da Savassi e descem a Avenida Bias Fortes at� a Pra�a Raul Soares, onde se aglomeram. Nos �ltimos dias recebemos muitas den�ncias de agress�es contra eles, por causa da presen�a dos garotos de programa nos bares que os punks frequentam. Aumentamos o policiamento”, afirma o major Carlos Alves.

Pra�a da intoler�ncia

A chuva fina da noite de quinta-feira deixou o complexo cultural da Pra�a da Liberdade praticamente deserto. Contudo, apesar da escurid�o e do aspecto de abandono, no espa�o de conviv�ncia entre o anexo da Biblioteca P�blica Estadual, o Museu das Minas e do Metal e o Memorial Minas Gerais Vale, pequenos grupos de simpatizantes dos movimentos punk e emo se revezavam entre as colunas e reentr�ncias das paredes dos edif�cios para fumar maconha e consumir vodca e cacha�a. A �rea � onde a Pol�cia Militar registra mais conflitos entre as tribos que lotearam a regi�o da Savassi, pra�as da Liberdade e Raul Soares, segundo informa o comando da 4ª Companhia do 1º Batalh�o da PM. Pelas picha��es que se sobrep�em pelo espa�o – uma forma de desafio para as gangues do submundo –, fica evidente a disputa do territ�rio por skinheads neonazistas, punks, g�ticos e emos.

Naquela noite em especial, uma mistura de cheiros fortes tomava conta do espa�o. Exalava dos grupos por l� espalhados, vindos da falta de higiene de moradores de rua e das drogas usadas por grupos de jovens espalhados pelos cantos. A parte externa do anexo da biblioteca foi ocupada por uma d�zia de moradores de rua, que dormiam enrolados em papel�es. No v�o de passagem da Rua da Bahia, encostado numa pilastra, um casal punk dividia uma garrafa de vodca e fazia a brasa do cigarro de maconha brilhar em meio � conversa arrastada. O rapaz exibia uma cabeleira estilo moicano e pulseiras de couro com pinos met�licos; a mulher, um cabelo tran�ado e jeans rasgados.

No corredor entre biblioteca e o Museu das Minas e do Metal, a parede branca foi toda pichada por rabiscos pretos das gangues que se revezam no local. Era l� que tr�s amigos fumavam machonha encostados na parede, para ficar encobertos pela sombra. Se autodefinem como simpatizantes do movimento punk. Um deles usava bon� e agasalho com desenho de extraterrestre. Outro, tamb�m de bon�, tinha os l�bulos das orelhas ampliados por argolas de metal e um brinco entre as narinas. O terceiro vestia um casaco de couro escuro e tinha cabelo espetado.

Para come�ar a conversa, perguntamos sobre drogas. “S� a nossa (droga) mesmo. A gente vem aqui porque pode fumar e ficar trocando ideia. Voc� pode comprar maconha (faz refer�ncia a dois pontos bem conhecidos do Centro de BH), mas vem malhado (uma quantidade considerada pequena pelo pre�o)”, orienta o rapaz de agasalho de ET. “Aqui em BH todas as bocas (de fumo) fecham �s 21h para maconha. Poderia comprar onde a gente mora (faz refer�ncia ao bairro), mas como voc� n�o conhece l� � emba�ado (perigoso)”, completa o jovem de adere�os de orelha. Perguntados sobre a divis�o territorial da pra�a, dizem que h� muitas brigas, mas que s�o causadas por excesso de bebida ou por rixas entre grupos espec�ficos. “N�o � todo mundo que briga. Mas, se voc� sabe que os carecas n�o gostam de voc�, ir aonde est�o � provocar. Os skinheads e punks ficam se desafiando na rua, rabiscando as picha��es uns dos outros, mandando recado de que v�o cobrar a tirada (desafio)”, esclarece o rapaz de cabelo espetado.

CONFUS�O Na tarde seguinte, a equipe de reportagem retornou e encontrou mais pessoas na pra�a. Havia casais homossexuais de emos, gente de cabelo colorido e visual punk. Tr�s adolescentes que tamb�m se definiam como simpatizantes de punks e emos estavam encostados na mesma parede da noite anterior. Bebiam garrafas de rum e de refrigerante de lim�o e fumavam cigarros aromatizados. O trio fala mais abertamente sobre os conflitos. “Aqui (na Pra�a da Liberdade) ou na Savassi, o que ocorre � que tem uns caras que ficam querendo arrumar confus�o, obrigar os outros a n�o ficar onde est�o. Acho os skinheads abomin�veis, mas na maioria das brigas que rolam por aqui tem � punk envolvido”, disse um dos garotos.

Os tr�s se lembram que h� poucas semanas um grupo grande de punks passava pela pra�a e foi provocado por uma turma de funqueiros que estava indo para um festival. “Foi uma briga generalizada. Os funqueiros provocaram e os punks n�o deixaram barato. Foram para cima e foi uma confus�o de socos, pedradas, correntadas. Quem n�o tinha nada a ver com aquilo saiu correndo”, lembra um dos adolescentes. A PM informou que tem monitorado esses conflitos e que sabe quem s�o todos os envolvidos.


‘Gente est�pida e reconceituosa’


O corpo forte do jovem belo-horizontino de 21 anos era marcado por s�mbolos nazistas: uma �guia nas costas, uma su�stica no ombro e uma cruz no peito. Arrependido, depois que a “fase” passou, o rapaz precisou fazer outras tatuagens para camuflar os s�mbolos de que tinha orgulho e que agora o envergonhavam. “Pensava que era nazista, mas estava enganado. Fiz muita besteira na minha vida, briguei com quem nem conhecia, me envolvi com gente est�pida e preconceituosa”, disse. O ex-skinhead, que pede para n�o ter a identidade revelada para preservar o emprego e a vida nova que quer seguir, se envolveu numa das ocorr�ncias por les�o corporal em que Ant�nio Donato Baudson Peret, o “Tim”, de 25 anos, foi arrolado pela pol�cia, e destaca a import�ncia de Donato para os nazistas na capital mineira. “Conheci o Donato e andei com ele desde que eu tinha 15 anos. � um cara que ningu�m aguenta, porque briga com os pr�prios amigos. Mas ele � o movimento neonazista em Belo Horizonte, o �nico que sai daqui tr�s vezes por ano para reuni�es com outros grupos em S�o Paulo e no Sul do Brasil”, conta.

O jovem entrou para o grupo de Ant�nio Donato depois de trocar postagens nazistas por meio de uma rede social. “Gostava muito de hist�ria e por isso me interessei pelo nazismo. Mas me decepcionei ao ver que n�o tinham qualquer organiza��o s�ria aqui em BH. Eram s� reuni�es em que os caras ficavam enchendo a cara de bebida, fazendo bagun�a e falando mal dos outros”, afirma. O �dio dos skinheads neonazistas � teoricamente voltado contra judeus, negros e homossexuais, mas em BH o grupo de Donato teria predile��o por perseguir gays.

Sobre as brigas, o ex-nazista conta que eram pouco frequentes, porque a maioria dos encontros se dava nas casas dos componentes da gangue ou em bares pr�ximos, nos bairros Cidade Jardim e Santo Ant�nio. Quando resolviam passear pela Savassi � que os conflitos estouravam. “A gente j� sa�a b�bado. Se encontrasse um homossexual ou punk pela frente j� partia para cima. Principalmente dos punks. Mas n�o tinha essa coisa de marcar briga de bando. A gente escolhia um e pegava o cara quando sa�a de casa ou encontrava na rua”, disse. Hoje arrependido, o jovem conta que prestou servi�o comunit�rio e n�o quer mais envolvimento com essas tribos.

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)


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