Paula Sarapu

Rubiany continua sob efeitos de tranquilizantes desde o sepultamento da filha mais velha, em Conselheiro Lafaiete, na Regi�o Central. Segundo o padastro de Amanda, que a criava desde os 7 anos, a fam�lia est� arrasada, mas indignada, “alimentando sede de justi�a”. “Depois que a gente perdeu a Amanda para esse homem que n�o tenho bons adjetivos para nomear, esper�vamos t�-la de volta, mesmo que ficasse com alguma sequela. Como o estado da Amanda era muito delicado, cada dia de vida nos dava mais esperan�as de traz�-la para casa. Foi assim por 51 dias de luta, porque ela manteve a energia e a vontade de viver. O que fica � a dor da saudade, a revolta pela impunidade e o medo de que ele n�o responda por esse crime, como aconteceu at� agora”, desabafou o engenheiro de minas W., que pediu para ter o nome preservado.
Ele conta que a not�cia da gravidez chegou por telefone. Amanda ligou para a m�e e disse que estava gr�vida do delegado. Dias depois, avisou que tinha perdido o beb�, mas coincidentemente o chefe dela tamb�m ligou para dizer que alguma coisa estranha estava acontecendo, porque a jovem chegava para trabalhar com hematomas pelo corpo. “Para a m�e, ela disse que tinha se machucado no trabalho, mas a liga��o do chefe nos fez juntar os pontos. Ela nunca admitiu que fez aborto, mas as amigas contaram que viram quando esse homem a procurou no trabalho, fazendo amea�as. Elas lembravam onde Amanda tinha feito o exame e s� agora, com essa confus�o toda, corremos atr�s do resultado. Rubiany j� entregou o exame de sangue positivo.”
INQU�RITO A Corregedoria deve concluir hoje o inqu�rito sobre a morte da menina, baleada na cabe�a em 14 de abril numa estrada que liga Ouro Preto a Lavras. Amanda tinha voltado para a casa da m�e, em Conselheiro Lafaiete, depois que registrou queixa de agress�o contra o delegado, que teria quebrado dois dedos dela. A Justi�a decretou at� medida protetiva, com base na Lei Maria da Penha, impedindo que Toledo se aproximasse da menor. No dia do incidente, ela se maquiou e escolheu uma bermuda nova e salto alto para sair com o delegado. Toledo afirma que ela estava depressiva e que tentou se matar.
“A irm� a ouviu falando ao telefone com ele. Ela estava animada para encontr�-lo”, conta o padastro. “ Ela ficou iludida pelo mundo dele, pelo poder e a exuber�ncia. Era uma menina carinhosa, doce e tranquila, mas, com ele, ela se afastou da gente e s� aprendeu a mentir.” W. diz que a fam�lia descobriu o relacionamento em abril de 2011, quando a escola avisou que a adolescente estava faltando �s aulas e que um homem mais velho a encontrava no port�o. Amanda gostava de futebol, torcia para o Atl�tico e, de acordo com o padrasto, acabou interessada pelos convites do delegado para praticar esportes radicais. “Ele a levava para andar de jet sky no Alphaville, para viajar de moto at� a praia e voar de parapente no Topo do Mundo. Era uma vida que a gente nunca poderia oferecer e ela se encantou.”
Vaidade, mentiras e agress�o
Vaidosa, Amanda Linhares dos Santos come�ou a trabalhar cedo como monitora em um espa�o infantil do Shopping Paragem e gastava todo o sal�rio para comprar roupas de marca. W. afirma que as discuss�es come�aram quando o delegado Geraldo Toledo passou a fazer parte da vida da menina. “Ela era muito inteligente, mas n�o tinha concentra��o para os estudos. Isso tudo piorou com ele. N�s cobr�vamos bom resultado na escola, como todos os pais atentos, mas a Amanda passou a ficar s� na internet e mentia para sair. Cheguei a tranc�-la em casa e a mandamos para a casa dos av�s em Goi�s por seis meses, seguindo orienta��o de um advogado, para tentar afast�-la desse delegado. Mas ele continuava atr�s dela”, afirma o padastro W.
A fam�lia se mudou para o interior e Amanda alugou um quarto na casa de uma senhora, no Bairro Estrela Dalva. Chegou a morar com Toledo por alguns meses at� ser agredida. “A�, ela quis voltar para casa”, contou o padrasto, que nega que a fam�lia tenha sido permissiva. “Se algu�m souber a receita, conte para os outros, porque deve haver mais casos de adolescentes que s�o manipuladas por homens mais velhos”. Para W., o indiciamento e uma condena��o n�o aliviariam a dor da perda. Ele afirma que a vers�o do delegado � mentirosa. “Conhecendo o direito como ele, um delegado, deveria ter preservado as provas desse suposto suic�dio. Por que, ent�o, ele escondeu o carro e se desfez dos pertences dela na estrada?”, questionou, referindo-se � bolsa e a um p� da sand�lia encontrados pr�ximo ao Viaduto da Mutuca.
LUTA Amanda ficou internada por 51 dias no Hospital de Pronto Socorro Jo�o XXIII, mas o tiro afetou uma parte vital do c�rebro, que interfere na coordena��o motora, na fala e no racioc�nio. “Ela melhorava, mas o c�rebro estava descontrolado”, lamenta o padrasto. “Agora, estamos nos agarrando �s boas lembran�as dela, de uma menina amorosa e muito alegre.” (PS)