Mineiros comemoram canoniza��o dos papas Jo�o Paulo II e Jo�o XXIII

Eles cal�aram as sand�lias do pescador, ocuparam o trono de S�o Pedro, lideraram milh�es de cat�licos e agora v�o ganhar a gl�ria de figurar nos altares das igrejas que visitaram e de outras tantas espalhadas pelo mundo. Os papas Jo�o Paulo II (1920-2005), respons�vel pela grande expans�o mission�ria da Igreja e impulso nas voca��es sacerdotais religiosas, e Jo�o XXIII (1881-1963), o chamado “papa bom”, ser�o proclamados santos ainda este ano, conforme an�ncio oficial do Vaticano. Ontem, em audi�ncia com o prefeito da Congrega��o das Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, o papa Francisco aprovou o decreto sobre o reconhecimento de um segundo milagre por intercess�o do beato Jo�o Paulo II e abriu caminho para canoniza��o de Angelo Giuseppe Roncalli, Jo�o XXIII, embora sem o segundo milagre. Em Belo Horizonte, autoridades eclesi�sticas, padres e fi�is comemoraram o an�ncio da dupla canoniza��o e destacaram a import�ncia dos dois pont�fices.

Conforme o Vaticano, Francisco tem o poder de “dispensar” os procedimentos para canonizar Jo�o XXIII por seu pr�prio m�rito, sem um milagre. O porta-voz, reverendo Federico Lombardi, confirmou que o milagre que levou Jo�o Paulo II � santidade foi recebido por uma mulher da Costa Rica. Trata-se de Floribeth Mora, que tinha aneurisma cerebral inexplicavelmente curado em 1º de maio de 2011, data da beatifica��o de Jo�o Paulo I. Mora teria acordado com uma forte dor de cabe�a em 8 de abril e foi levada para o hospital, onde seu estado piorou, a ponto de ser enviada para casa com a perspectiva de apenas mais um m�s de vida. A fam�lia rezou para Jo�o Paulo II e o aneurisma desapareceu.

Para o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, “a not�cia da canoniza��o dos bem-aventurados Jo�o XXIII e Jo�o Paulo II enche de j�bilo o cora��o da Igreja, dos devotos e de todos aqueles que reconhecem nesses admir�veis homens de Deus instrumentos usados por Ele para dar rumos novos a vidas e ao tempo na hist�ria”. “Os dois papas, por seus gestos prof�ticos, escritos, prega��o e vida �ntegra s�o refer�ncia de escola de santos. A gl�ria dos altares, canonizados, enriquece nossa Igreja e se tornam perpetuamente, tamb�m intercessores, inspira��o no territ�rio da Igreja e para al�m deles, convidando-nos ao bem, � luta pela justi�a e � santidade de vida."

Tra�o de uni�o

A not�cia de que os papas Jo�o Paulo II e Jo�o XXIII v�o se tornar santos foi recebida com grande entusiasmo entre religiosos e paroquianos de Belo Horizonte e da regi�o metropolitana. O titular da par�quia de Nossa Senhora do Carmo, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, frei carmelita Evaldo Xavier Gomes, morou 10 anos na It�lia e se lembra bem de Jo�o Paulo II: “Era uma pessoa muito acess�vel, simples e com jeito especial para tratar as pessoas. Atendia todo mundo, sem burocracia e impedimento”.

O p�roco se recorda ainda do dia da morte do pont�fice, quando houve grande como��o popular: “O carmelo era bem pr�ximo do Vaticano e n�o pod�amos nem abrir a porta, tal a multid�o na rua disposta a dar o �ltimo adeus ao papa”. Ele destaca como tra�o de uni�o entre os futuros santos a capacidade de di�logo, sem jamais renunciar aos valores da Igreja. Para o frei, � importante ressaltar grande for�a de Jo�o Paulo II, o papa que mais viajou pelo mundo em toda a hist�ria da Igreja.

Tr�s gera��es de frades e fi�is n�o escondem a alegria com a novidade. Yedda Monteiro, de 80, diz-se “encantada”. “� um momento de encanto e felicidade”, sorri. A religiosa destaca a coragem de Jo�o XXIII e a humildade de Jo�o Paulo II. Frei Tinus Van Balen, de 76, ex-aluno de Bento XVI nos anos 1960, na Alemanha, conta lembrar-se de quando Jo�o XXIII foi escolhido papa. “Sucessor de Pio XII, papa de um tempo muito dif�cil, mas de uma Igreja triunfante. Jo�o XXIII, muito popular, merece a honra dos altares”, diz.

Nascido em ber�o cat�lico, Washington de Lima, de 19, est� surpreso: “S�rio? At� que enfim, porque sempre foram homens santos, substitutos de Pedro”, comenta. Frei Marlon Moreira, de 24, � outro que est� feliz. “Um convocou o conc�lio e o outro o viabilizou. Isso mostra a a��o do esp�rito santo”. Para Frei Thiago Borges, Jo�o XXIII foi um homem simples que soube ouvir os apelos de seu tempo. Sobre Jo�o Paulo II, o jovem religioso fala com emo��o. “Nossa gera��o viveu a sa�de e a doen�a dele. Estamos vivendo a Jornada da Juventude idealizada por ele. Sua santifica��o nos fortalece”, avalia.

Na regi�o do Barreiro, na Par�quia Bem Aventurado Jo�o XXIII, a comunidade de Santana comemora. Francisco Alexandre da Silva, de 73 anos, considera a dupla canoniza��o “uma grandeza para todo o mundo”. Para o aposentado, os dois papas santos aproximaram o povo da Igreja e melhoraram o entendimento da liturgia.

Padre Ot�vio Juliano, de 39, v� ainda mais comunh�o no futuro bem pr�ximo com as santifica��es anunciadas. “Hierarquia e povo se abra�am numa mesma miss�o. � o fim de uma era que come�a com Jo�o XXIII, se fortalece com Jo�o Paulo II e, agora, se confirma com o papa Francisco”, considera.

 

Uma enc�clica de dois papas

S�o Paulo – O papa Francisco divulgou ontem sua primeira enc�clica, com mensagem sobre a import�ncia da f� crist�, mostrando que n�o pretende romper radicalmente com a posi��o doutrin�ria de seu antecessor, Bento XVI. Denominada Lumen fidei (Luz da f�), � a primeira enc�clica escrita por dois papas. Ela faria parte de uma s�rie de Bento XVI sobre as virtudes teol�gicas, somando-se a textos anteriores sobre o amor e a esperan�a, mas n�o foi conclu�da antes da surpreendente ren�ncia, em fevereiro.

O novo texto ressalta a import�ncia central da f� crist� contra a “enorme amn�sia do mundo contempor�neo” causada pela confian�a excessiva na tecnologia e nas “verdades subjetivas do indiv�duo”. “Quando a f� est� enfraquecida, as funda��es da humanidade tamb�m correm o risco de serem enfraquecidas”, disse Francisco, no texto divulgado tr�s dias antes de visitar Lampedusa, pequena ilha ao sul da Sic�lia conhecida por atrair imigrantes clandestinos do norte da �frica, inclusive milhares que morrem sem conseguir concluir a travessia.

A enc�clica de 82 p�ginas, que � uma carta aos bispos e fi�is apresentando a vis�o do papa sobre doutrina e outras quest�es, deixa claro que ele n�o v� um rompimento fundamental em termos teol�gicos com Bento XVI, a quem expressa gratid�o.

A enc�clica vem no momento em que a Igreja enfrenta nova turbul�ncia com o esc�ndalo envolvendo o banco do Vaticano, ap�s a pris�o de um prelado e a ren�ncia de dois dos principais gestores do banco, conhecido oficialmente como Instituto Obras de Religi�o (IOR).

O papa nomeou uma comiss�o de inqu�rito para se familiarizar com os problemas do IOR. Limpar uma institui��o not�ria por sua falta de transpar�ncia ser� um dos seus mais espinhosos desafios.


LINHA DO TEMPO
1881 – Em 25 de novembro, Angelo Giuseppe Roncalli, futuro papa Jo�o XXIII, nasce em Sotto Il Monte, na It�lia
1920 – Em 18 de maio, Karol J�zef Wojtyla, futuro papa Jo�o Paulo II, nasce na pequena cidade de Wadowice, na Pol�nia _
1958 –Em 28 de outubro, Jo�o XXIII � eleito papa. No ano seguinte, convoca o Conc�lio Vaticano II, com o objetivo de modernizar a Igreja
1963 – Em 3 de junho, Jo�o XXIII morre na Cidade do Vaticano, aos 81 anos
2000 – Em 3 de setembro, Jo�o XXIII � declarado beato pelo papa Jo�o Paulo II. � considerado o patrono dos delegados pontif�cios
2005 –Em 2 de abril, Jo�o Paulo II morre devido � sa�de debilitada pelo agravamento do mal de Parkinson
2009 –Em 19 de dezembro, Jo�o Paulo II � proclamado "vener�vel" pelo seu sucessor, Bento XVI
2011 – Em 1º de maio, Jo�o Paulo II � proclamado beato por papa Bento XVI, na Pra�a de S�o Pedro, no Vaticano
2013 – Em 5 de julho, o Vaticano faz o an�ncio oficial da canoniza��o de Jo�o XXIII e Jo�o Paulo II


ENQUANTO ISSO: ...CNBB prepara Jornada da Juventude com Francisco
A Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) est� reunida, esta semana, para acertar os �ltimos detalhes sobre a visita do papa Francisco ao Rio, onde presidir� a 28ª Jornada Mundial da Juventude, com o tema “Ide e fazei disc�pulos entre todas as na��es” (Mt 28, 19). S�o esperados 2,5 milh�es de pessoas. Tudo come�ou em 1984, quando Jo�o Paulo II, durante celebra��o no Vaticano, entregou aos jovens a cruz que se tornaria um dos principais s�mbolos da JMJ, pedindo que eles a enviassem a diversas partes do mundo. Em 1985, declarado o Ano Internacional da Juventude pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), Jo�o Paulo II instituiu a JMJ durante encontro internacional de jovens no Vaticano.