
O garoto, n�o mais que 10 anos, se aproxima da cerca e grita: “Tia, posso pegar uma manga?”. Outro pede autoriza��o para apanhar uma bola chutada para o terreno. A menina, aparentemente de 12, pede uma goiaba. A “tia” em quest�o � Rosemary Rodrigues dos Santos Melo. Ela era caseira de um pequeno s�tio, no Bairro Ouro Negro, em Ibirit�, Grande BH. As crian�as, pedindo frutas ou licen�a para recuperar um brinquedo atirado na propriedade, tornaram-se suas amigas. Mas a incomodava a presen�a daquela meninada nas ruas, em situa��o de risco.
Rosemary procurou as m�es das crian�as para conversar. S�o mulheres, moradoras de uma comunidade carente, impedidas de procurar emprego por causa dos filhos. Precisavam tomar conta deles. Mas as crian�as sempre achavam um jeito de escapar para as ruas quando viam as m�es entregues os afazeres dom�sticos. A caseira teve, ent�o, uma ideia. Procurou o dono do s�tio e pediu autoriza��o para usar o terreno e as instala��es como local de acolhimento de menores, para que as m�es pudessem sair para trabalhar.
Sem objetivo financeiro, assumiu o papel de dezenas de m�es. As crian�as chegam cedo, tomam o caf� da manh�, fazem o dever de casa e t�m aula de refor�o. Depois, s�o liberadas para brincar at� a hora do banho. Roupa trocada, almo�am e esperam a passagem do �nibus escolar. As que estudam de manh� almo�am, descansam, fazem o dever de casa, assistem � aula de refor�o, brincam, tomam banho e, no fim da tarde ou in�cio da noite, esperam as m�es, que as levam para casa.
“N�o recebo mais beb�s porque n�o tenho estrutura. Estamos hoje com 35 crian�as e trabalhamos sem ajuda do poder p�blico. As doa��es v�m de amigos. S�o cestas b�sicas, agasalhos, brinquedos, material de limpeza, sabonetes, dentifr�cios e outros materiais de necessidade pessoal ou da casa. As igrejas evang�licas e a cat�lica tamb�m nos apoiam”, diz Rosemary. De vez em quando, grupos art�sticos independentes ou de institui��es fazem apresenta��es para as crian�as. Est� programada para este m�s uma festa de rodeio.
A comida � elogiada. Em um dos card�pios da semana foram servidos frango refogado, arroz, feij�o e salada de beterraba, cenoura, tomate, repolho e pepino. De sobremesa, banana-prata. Paulo, de 13 anos, abre um sorriso farto para falar da refei��o: “Muito boa. Gosto de tudo. Das aulas, gosto mais”. Rosemary recebe crian�as de at� 14 anos em uma �rea de cerca de 400 metros quadrados. O andar de baixo da casa, com cozinha, banheiro, varanda e biblioteca, assim como o quintal, com um laguinho cheio de peixes, � para uso das crian�as.
Rosemary, de 39 anos, natural de Jequitinhonha, � m�e de tr�s filhos, de 18, 10 e 8 anos. O sustento da fam�lia, que mora no andar superior da casa, vem do trabalho do marido, que, quando n�o est� empregado como auxiliar administrativo, faz bicos como capoteiro. “� dif�cil levar adiante essa ideia. Quase fechei esta ONG que presido, mas pensei muito na comunidade, nas m�es que precisam trabalhar e n�o t�m com quem deixar os filhos. As que podem colaboram com R$ 60 por m�s.”
Para tentar sobreviver e ampliar a oferta de vagas, ela vai, por meio de leis de incentivo, apresentar um projeto � Regap (Petrobras). “Com apoio formal, pretendo construir um galp�o, dois banheiros e duas salas para receber at� 200 crian�as, inclusive beb�s, se for preciso.” M�rcia Rodrigues Patroc�nio, de 39, professora de matem�tica e f�sica da rede estadual, vice-presidente da ONG, � quem aplica aulas de refor�o e coordena as atividades l�dicas e educativas para as crian�as. “Sinto-me realizada. Aqui completo minha vida.” Na cozinha, Maria de Jesus Ferreira, de 61, atua como volunt�ria ao lado de Rosemary Ferreira Sim�es, de 42, �nica pessoa remunerada na ONG.
“Damos a essas crian�as carinho materno e um sonho. Meninos que poderiam se perder por a� t�m a oportunidade de se tornarem grandes brasileiros. Somos felizes em realizar esse trabalho”, diz Rosemary, que tem ensino m�dio e sonha com a gradua��o em psicologia.
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