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Estado de Minas

Ouro Preto tem hist�ria sufocada pelo crescimento

Mudan�as de tr�nsito em Ouro Preto, onde projeto de t�nel arrepia defensores do patrim�nio, despertam a aten��o para o avan�o da urbaniza��o, que amea�a joias coloniais de cidades mineiras


postado em 21/07/2013 06:00 / atualizado em 21/07/2013 07:13

Ouro Preto tem relíquias seculares cercadas por ocupação desordenada e construções irregulares(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Ouro Preto tem rel�quias seculares cercadas por ocupa��o desordenada e constru��es irregulares (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O puxadinho de telhas de amianto e madeira foi constru�do acima do chafariz de pedra-sab�o datado de 1761, em Ouro Preto. � tamb�m na antiga capital de Minas que um projeto de constru��o de t�nel rasgando o subsolo pr�ximo ao Centro tricenten�rio arrepia defensores do patrim�nio hist�rico. Enquanto isso, �nibus de grande porte continuam a circular na rua asfaltada em meio ao casario erguido no Ciclo do Ouro, em Santa Luzia. A confus�o de fios dos postes atrapalha a vis�o da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caet�, erguida em 1757 e cuja planta tem a assinatura de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho. J� em Congonhas, loteamentos avan�am sobre s�tios arqueol�gicos e joias coloniais s�o pressionadas pela minera��o, polui��o visual e descaracteriza��o do casario. Seja qual for o endere�o, os problemas decorrentes do crescimento urbano refletem a dificuldade de cidades coloniais conviverem com desafios do s�culo 21, pondo em risco seu valioso acervo hist�rico.

Na semana passada, obras de tr�nsito na Pra�a Tiradentes, no cora��o de Ouro Preto, na Regi�o Central, chamaram a aten��o para o impasse entre conserva��o e desenvolvimento em uma cidade que viu sua frota de autom�veis duplicar em uma d�cada, passando de 13,3 mil ve�culos para 27,1 mil. Sob a justificativa de eliminar o estacionamento de ve�culos da pra�a, a prefeitura retirou pedras do cal�amento destinado � passagem de pedestres e � orienta��o do tr�nsito. O Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) n�o foi informado da interven��o e notificou a administra��o municipal para que reinstale as estruturas, parte de acordo firmado em 2008 para humanizar o ponto tur�stico.

Inqu�ritos para apurar interven��es em �reas de prote��o se acumulam e, em Ouro Preto, as solu��es pretendidas para resolver o problema do tr�nsito geram controv�rsia e est�o no alvo de processos. O MP acaba de abrir investiga��o sobre o projeto de constru��o pela prefeitura de um t�nel de 270 metros no Centro Hist�rico. A proposta foi lan�ada na quinta-feira, com a assinatura do contrato da empresa que far� o projeto executivo, sondagens e estudos geot�cnicos. Or�ado em 12 milh�es, o t�nel deve passar atr�s da Pra�a Tiradentes, servindo de rota para quem vai de Mariana a Ouro Preto.

A meta � que a transposi��o fa�a a liga��o entre a Rua Padre Rolim, pr�ximo ao pr�dio tombado da antiga Santa Casa de Miseric�rdia, at� a Rua Conselheiro Quintiliano, nas imedia��es do Corpo de Bombeiros. O objetivo � retirar 40% do tr�nsito da pra�a. “Nosso receio � do impacto dessas interven��es sobre os bens do entorno. A constru��o est� prevista numa �rea de alto risco geol�gico, interditada em per�odos de chuva. Al�m disso, t�neis t�m a caracter�stica de atrair mais ve�culos”, ressalta o promotor de Justi�a da 4ª Promotoria de Ouro Preto, Domingos Ventura de Miranda J�nior.

O chafariz de 1761 é um exemplo das irregularidades(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O chafariz de 1761 � um exemplo das irregularidades (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O secret�rio de Cultura e Patrim�nio do munic�pio, Jos� Alberto Pinheiro, garante a viabilidade da obra, que dever� ser executada com recursos do Programa de Acelera��o do Crescimento das Cidades Hist�ricas (PAC Cidades Hist�ricas), do governo federal. “N�o existe impossibilidade para a engenharia, tudo � uma quest�o de t�cnica e custo. Contratamos o maior especialista em t�neis do Brasil. A nossa preocupa��o � tirar o tr�nsito da Pra�a Tiradentes, preservando o Centro Hist�rico”, afirma. Segundo Pinheiro, o t�nel e as pol�micas mudan�as no tr�nsito na pra�a fazem parte de um projeto maior de mobilidade. “Vamos criar um receptivo na entrada da cidade e reformular o sistema de �nibus, para que os turistas n�o cheguem ao Centro de carro”, adianta.

BAGUN�A TOTAL
Mas os impasses na antiga Vila Rica est�o longe de se restringir ao tr�fego de ve�culos, que se amontoam nas ruas estreitas da cidade patrim�nio da humanidade, onde as ladeiras est�o tomadas por ocupa��es irregulares em �reas de risco. Rel�quia do s�culo 18, a Igreja Padre Faria, no bairro de mesmo nome, tem sua beleza ofuscada pelos postes de ilumina��o instalados em frente ao templo, cujos sinos dobraram no dia da morte de Tiradentes, em 21 de abril de 1792. H� mais de oito anos o MP briga na Justi�a pela substitui��o da ilumina��o. No Bairro Ant�nio Dias, o exemplo extremo da ocupa��o irregular avan�ando sobre o patrim�nio: o chafariz da Rua Bar�o de Ouro Branco, de 1761, est� totalmente sufocado por puxadinhos e adapta��es nos im�veis vizinhos.

Constru�da bem rente ao pared�o de pedras do monumento, a cozinha e a �rea de servi�o da casa da empregada dom�stica Lucimar Bastos, de 57 anos, foi erguida praticamente em cima da estrutura. Os canos ficam � mostra ao lado do chafariz, sem falar nas madeiras que sustentam os c�modos, al�m das telhas sem padr�o, contrastando com a estrutura hist�rica. Lucimar, que sonha em um dia ter a escritura da casa, conta que a constru��o foi feita pelo marido. “Quando chovia, minha sala molhava toda. A gente fez isso na gambiarra. O Patrim�nio falou com a gente que tem que ter um arquiteto, mas a gente j� custa a ter dinheiro para o material”, diz.

A diretora de promo��o do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha), Mar�lia Palhares Machado, aponta a raiz do problema: “O planejamento urbano no pa�s n�o se consolidou como pr�tica cultural nem incorporou a quest�o do patrim�nio. Ele acaba vindo atr�s, na tentativa de reparar os preju�zos”. O coordenador das promotorias de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico, Marcos Paulo de Souza Miranda, v� como poss�vel a harmonia entre crescimento e preserva��o. “N�o se trata de impedir o desenvolvimento. As necessidades urbanas t�m que se adequar � realidade dessas cidades, e n�o o contr�rio. Na Europa, por exemplo, n�o h� carros trafegando pelos centros hist�ricos. Em S�o Jo�o del-Rei houve a despolui��o visual do Centro e todos perceberam como a cidade ficou bonita”, exemplifica.

Palavra de especialista

Luciana Feres

Diretora de Patrim�nio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-MG)

Concilia��o necess�ria

� imposs�vel congelar o tempo e o desenvolvimento urbano, mas esse processo tem que vir ancorado na preserva��o. A especula��o imobili�ria pode levar � descaracteriza��o. O tr�nsito gera polui��o, trepida��o e pode causar abalos estruturais nos im�veis. Ouro Preto e Diamantina sofrem com grandes eventos, com consequ�ncias negativas, como a urina dos frequentadores nas ruas. Al�m de pol�ticas de restaura��o, as cidades coloniais t�m que prezar pelo planejamento, com pavimenta��o adequada – cal�amento em vez de asfalto –, �reas de estacionamento fora do Centro Hist�rico, transporte p�blico de qualidade e alternativas para os passageiros, como carruagens, ciclovias e �nibus dimensionados �s suas estruturas.


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