
O uso da tecnologia e da interatividade na exposi��o Pal�cio da Liberdade – mem�rias e hist�rias reserva uma surpresa em cada c�modo e d� vida � hist�ria pol�tica de Minas. Na Sala de Audi�ncias, ao retirar um telefone antigo do gancho, o visitante pode ouvir uma conversa entre Juscelino Kubitschek e o arquiteto Oscar Niemeyer, que estava no Rio de Janeiro. “Pronto”, atende Niemeyer com voz de sono. “Oscar, dormindo ainda, meu amigo?”, quis saber o governador. “Voc� n�o perde essa mania, Juscelino. Eu n�o sei como seus auxiliares e secret�rios suportam esses telefonemas de manh�zinha. Que horas s�o?”, quer saber o arquiteto. “Sete horas”, responde JK, que governou Minas entre 1951 e 1955 e depois se elegeu presidente da Republica.
“Eu n�o podia mais esperar. Precisava falar contigo”, justifica o governador, que queria conversar sobre a constru��o do Pal�cio das Mangabeiras, pois n�o podia mais morar com a fam�lia no Pal�cio da Liberdade, onde recebia um chefe de partido com as meninas brincando de esconde-esconde atr�s das cortinas. “A minha ideia � reformar uma constru��o que j� existe l� no p� da Serra do Curral e ela vai ser a nova morada dos governadores mineiros”, diz Juscelino na conversa.
No Sal�o do Banquete n�o h� imagens, apenas o burburinho de uma reuni�o em que Arthur Bernardes, que administrou o estado entre 1918 e 1922, discute as decis�es do seu governo. Na Sala de Jantar, a conversa durante a refei��o da fam�lia de Israel Pinheiro � sobre a constru��o do Pal�cio dos Despachos no terreno nos fundos do Pal�cio da Liberdade, onde ficava o pomar. Na imagem da mesa com o governador comendo goiabada com queijo, junto da mulher, Coracy, da filha, Helena, e do genro, o jornalista Otto Lara Resende, surge de um quadro com flores. Coracy lamenta a retirada de uma jaqueira e de um p� de sapoti para constru��o do pr�dio.
Jo�o Pinheiro aparece no Sal�o das Medalhas. Itamar Franco em um risque e rabisque sobre a mesa do gabinete oficial do governador. No lugar do papel, uma tela de computador. Uma m�o vai desenhando caricaturas dele e epis�dios de sua carreira pol�tica. Milton Campos surge no espelho da Sala da Secretaria, em uma anima��o do cartunista Paulo Caruso. A Sala do Assessor Especial ficou para Magalh�es Pinto, que surge do nada no espelho do vidro do guarda-roupa antigo, assim como Afonso Pena, na recep��o do cerimonial. Na Sala dos Retratos, a pessoa entra na sala e a foto de Ant�nio Carlos come�a a falar, em meio a outros 43 governadores.
A nova capital

Onde as paredes falam
A primeira vez que o curador e diretor art�stico Marcello Dantas entrou no Pal�cio da Liberdade, para come�ar a planejar o museu, ele disse: “Meu Deus do c�u, n�o tem nenhum cent�metro livre, nenhum espa�o para nada. Est� todo completo”. Segundo Marcello, qualquer interven��o seria uma agress�o � hist�ria do lugar. Mas com o aux�lio dos recursos tecnol�gicos, os objetos e m�veis seriam capazes de contar toda a hist�ria que aconteceu no interior do pal�cio. “Preciso fazer com que as paredes falem, que esses m�veis nos deem sinais, mas sem mudar nada, preservando as caracter�sticas originais, uma exposi��o invis�vel. E deu certo, a obra parece se infiltrar na pessoa quando ela se aproxima, vazando dos poros da parede”, conclui o artista.
Outro problema, segundo Dantas, era falar da primeira metade do s�culo 20, com pouqu�ssimas evid�ncias, em alguns casos nada mais do que uma foto de determinado governador. Ele recorreu, ent�o, ao recurso da anima��o, de simula��o, dramatiza��o com atores e document�rios, entre outros efeitos especiais. “Quando voc� assiste ao filme do Aureliano Chaves, parece que voc� est� vendo um v�deo da �poca da ditadura. Voc� olha o Tancredo Neves com o linguajar televisivo dos anos 80. As coisas mais antigas a gente trata mais na primeira pessoa, como se o pol�tico estivesse aqui dando um depoimento. A gente n�o tinha uma linguagem audiovisual para interpret�-lo. Afonso Pena, do s�culo 19, a gente retrata com um ator simulando uma situa��o daquela �poca. Uma partitura ganha vida com uma m�sica que a gente comp�s com a hist�ria de Benedito Valadares e ele surge em cima do piano dan�ando”, explica Marcello.
Em determinadas situa��es a exposi��o se assemelha a contos de fadas, com um espelhos que falam, fantasmas e espectros que surgem de repente. “V�rios pol�ticos morreram aqui, como Oleg�rio Maciel, morto no banheiro onde o fantasma dele ganha vida no espelho e come�a a interagir quando o visitante se aproxima”, destaca o artista.
Na mostra, as pessoas ficam sabendo tamb�m da hist�ria das ruas e avenidas que receberam nomes dos governadores. Um mapa surge sobre um suporte de madeira, o visitante encosta o dedo no nome da via e um v�deo surge em um quadro em frente, com imagens antigas e atuais, explicando quem foi a pessoa homenageada.
Espa�o compartilhado
Para a Secret�ria de Estado de Cultura, Eliane Parreira, “o Pal�cio da Liberdade viu muitos acontecimentos hist�ricos, fatos decisivos na vida pol�tica de Minas Gerais. Vamos compartilhar esse espa�o com a sociedade”, disse, ressaltando a riqueza arquitet�nica do pr�dio. “A gente entendeu que tamb�m poderia ter um conte�do da hist�ria pol�tica do estado dispon�vel nas visitas. O grande desafio foi conciliar a arquitetura e a decora��o, sem perder a defini��o da natureza dos espa�os. A exposi��o n�o tira mobili�rio do lugar, n�o desmonta nada”, disse. Ela lembra que 10 guias v�o acompanhar os visitantes. A entrada ser� gratuita.
SAIBA MAIS: OBRAS DURARAM DOIS ANOS
A constru��o do Pal�cio da Liberdade, em estilo ecl�tico, com influ�ncia francesa e neocl�ssica, demorou dois anos. A sede do governo de Minas foi inaugurada em 1897. Materiais como telhas, ferragens e a escadaria vieram da Europa. O estilo do mobili�rio varia do Lu�s XVI ao mourisco e ao art nouveau. Uma curiosidade � a Sala da Rainha, da d�cada de 1920, quando o rei e a rainha da B�lgica visitaram BH e ficaram hospedados no pal�cio. O governador cedeu seus aposentos aos reis e se hospedou em outro quarto. O investimento no museu foi de R$ 1 milh�o, parceria do governo com a Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
TR�S PERGUNTAS PARA...
MARCELLO DANTAS, Diretor Art�stico e curador
1) Como voc� conseguiu transformar um Pal�cio num museu aberto?
Minha miss�o era transformar um lugar desenhado para ser uma resid�ncia de pol�ticos em local de visita��o. N�o tinha um cent�metro sequer ali que n�o estava ocupado. Havia adornos do ch�o ao teto. O que resolvi fazer foi dar vida a esses fantasmas, dar vida �s paredes que tanto ouviram. Usei a seguinte met�fora: se pudesse ouvir o que esses lugares escutaram, imagine como ficaria interessante o espa�o? A� surgiu o conceito da exposi��o Pal�cio da Liberdade: mem�rias e hist�rias.
2) O que o visitante ver�?
Ao entrar, n�o ver� nada al�m da arquitetura. Em seguida, � medida que caminhar pelas salas, encontrar� v�deos nos quais os governadores j� falecidos aparecer�o em situa��es marcantes passadas dentro do Pal�cio. Ver� o Afonso Pena no final do s�culo 19 planejando a Cidade de Minas; mais adiante o Magalh�es Pinto dando ordem �s tropas para o golpe de 1964, e, depois, ouvir� tocar o telefone surgindo uma conversa de JK com Niemeyer sobre o pr�prio pal�cio.
3) Qual foi o crit�rio para escolher os governadores que estar�o na exposi��o?
Como tinha muitas hist�rias e mais de trinta governadores, optamos por realizar um recorte a partir dos que j� morreram. Porque, caso contr�rio, poderia virar algo pol�tico. Outra op��o foi retratar aqueles que protagonizaram passagens importantes ali. Muitos fazem parte do nosso cotidiano, viraram nomes de ruas e, hoje, n�o sabemos sua import�ncia. Haver�, por exemplo, um mapa interativo, no qual o p�blico poder� rever esse significado. A exposi��o tornar� a visita, que era arquitet�nica, num encontro com a hist�ria de Minas