
O retrato das agress�es no ambiente escolar de BH foi tra�ado na pesquisa “A viol�ncia por tr�s da brincadeira: um estudo quantitativo sobre o bullying entre estudantes de BH”. Desenvolvido pelo psic�logo Cl�udio J�nio Patr�cio, o estudo foi apresentado no m�s passado, como conclus�o do mestrado em promo��o da sa�de e preven��o � viol�ncia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao todo, 1.199 alunos de 33 escolas privadas e p�blicas municipais, estaduais e federais responderam o question�rio. Os entrevistados tinham entre 10 e 19 anos.
Do total de estudantes, 9,1% disseram ter sofrido bullying – termo derivado de bully, valent�o. Desses, 39% eram de escolas particulares, 29% de estaduais, o mesmo percentual de municipais, e 3% de institui��es federais. A maior parte das v�timas (25,2%) tinha 13 anos, seguida dos adolescentes de 15 anos (16,8%) e de 17 anos (15%). Os dados mostram tamb�m que meninos e meninas s�o igualmente alvo das agress�es e que, em 43,6% dos casos, os “valent�es” eram da mesma turma das v�timas. N�o por acaso a sala de aula foi apontada como o principal local das intimida��es, com 46,3% das respostas.
T�mido, bom aluno e dedicado, Marcos (nome fict�cio), de 12 anos, come�ou a ver a sala como ambiente de tortura. Desde o in�cio do ano, � ali que os colegas intimidam o menino. Um sofrimento sem tamanho para a m�e do adolescente, Kelly Almeida, de 37, que j� n�o aguenta ver o filho chegar aos prantos da escola. “Ele n�o gosta de brincar, � estudioso, mais calad�o, prefere ficar em casa e s� d� certo com as meninas. Os colegas o ficam chamando de ‘bicha’, pondo apelidos. Tem dia que ele n�o quer nem ir � aula”, conta Kelly, cansada de ir � dire��o reclamar.
O psic�logo Cl�udio J�nio, autor da pesquisa, ressalta que, assim como no caso do garoto Marcos, o bullying tende a ser uma forma de viol�ncia contra tudo que � diferente. “� o reflexo de uma sociedade que tem dificuldade de lidar com a diferen�a. As v�timas s�o normalmente adolescentes que fogem ao padr�o. J� os agressores s�o meninos e meninas que buscam um status de poder e lideran�a dentro de um grupo. E muitas vezes praticam o bullying para serem aceitos pela turma”, afirma.
No in�cio do m�s, a regi�o metropolitana de BH ficou estarrecida com caso que pode ter liga��o com bullying. Um jovem de 19 anos, aluno de uma escola em Santa Luzia, atirou em dois colegas de turma. Amigos do rapaz, portador de necessidades especiais, disseram que ele era v�tima de xingamentos e agress�es f�sicas.
Distin��o Uma pequena parcela de estudantes se assumiu como agressor na pesquisa da UFMG. Apenas 1,7% responderam j� ter praticado bullying, sendo que a grande maioria encarava essa atitude como “zoa��o” (47,1%) ou divers�o (41,2%). P�r apelidos no colega e ridiculariz�-lo na frente dos outros s�o as principais formas de viol�ncia, segundo a pesquisa, e equivalem a 58,9% dos casos. “No bullying, alguns se divertem, em detrimento do outro. Na brincadeira, todos se divertem e essa distin��o � importante”, afirma Cl�udio J�nio.
O comportamento � mais comum entre os homens (63,2%) e a maior parte deles (24,5%) age em grupo. Segundo o estudo, 70% dos que praticam bullying t�m entre 14 e 16 anos. “Eles est�o saindo da puberdade, �poca de profundas transforma��es e desequil�brios, at� por quest�es hormonais”, completa Cl�udio.

Seja entre agressores ou v�timas, h� um consenso em rela��o ao bullying. Para os dois lados, a pr�tica pode ter fim e os professores t�m papel importante nesse processo, j� que a maior parte das intimida��es ocorre dentro da sala de aula. Segundo o estudo “A viol�ncia por tr�s da brincadeira: um estudo quantitativo sobre o bullying entre estudantes de BH”, disserta��o de mestrado do aluno da UFMG Cl�udio J�nio Patr�cio, 58,9% dos alunos acreditam que o problema tem solu��o e os docentes poderiam participar.
M�e de uma v�tima de bullying, Kelly Almeida, de 37 anos, reclama da atua��o da escola. “Mudaram-no de lugar e melhorou um pouco, mas n�o chamaram a aten��o dos alunos”, diz. O filho dela estuda em uma escola p�blica estadual. Autor do livro Manual antibullying, o psiquiatra Gustavo Teixeira afirma que, mais do que remediar, a grande quest�o � prevenir a pr�tica. “Existem perfis de crian�as, mais t�midas, retra�das, pior nos estudos, que t�m mais chances de serem alvo dessa pr�tica. � fundamental que quem esteja pr�ximo atue. Se acontece dentro da sala, o professor n�o pode minimizar. � fundamental intervir contra o bullying”, afirma. Depois, as consequ�ncias podem ser fatais. “Estudos cient�ficos mostram que quem � alvo de bullying tende a ser mais ansioso, depressivo. Os �ndices de abandono escolar tamb�m s�o maiores”, alerta.
De olho no problema, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG) elaborou uma cartilha de combate ao bullying e distribuiu 186 mil exemplares para seus 670 associados. O material traz orienta��es a diretores e professores informando o que �, como identificar, enfrentar e prevenir o problema.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) informou que desde o ano passado, j� promoveu quatro semin�rios para debater a viol�ncia. O �ltimo, em abril, contou com a presen�a de 600 educadores. Um f�rum permanente para discutir a cultura de paz nas escolas foi criado no ano passado, sendo que o bullying � um dos assuntos debatidos.