
As aves continuam sendo as maiores v�timas do com�rcio ilegal de animais silvestres em Belo Horizonte, mas n�meros da superintend�ncia mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (Ibama) sugerem que a pr�tica criminosa encolheu. Entre 2009 e 2012, a quantidade de p�ssaros acolhidos pelo �rg�o na capital diminuiu 65,6%, caindo de 15.773 (m�dia de 43,2 por dia) para 5.416 (14,8 di�rios). Os can�rios-da-terra e os trinca-ferros s�o as esp�cies mais cobi�adas por contrabandistas e clientes.
O levantamento do Ibama compreende animais entregues de forma volunt�ria, os recolhidos – capturados soltos, mas com algum tipo de enfermidade – e os apreendidos, a��o executada sobretudo pela Pol�cia Militar. A queda dos �ltimos quatro anos interrompeu uma tend�ncia de eleva��o iniciada pelo menos em 2007, quando o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de BH recebeu 7.890 aves, n�mero que saltou para 11.427 em 2008 e chegou ao �pice em 2009.
Os p�ssaros lideram com folga a lista dos tipos de animais silvestres que chegam � autarquia federal. No ano passado, as criaturas representaram 91,9% do total de bichos recebidos pelo Cetas. Os 8,1% restantes se comp�em de 273 r�pteis, 210 mam�feros e 12 peixes. “Mais de 90% do que apreendemos s�o aves”, afirma o tenente Fl�vio Jos� de Souza, comandante do 1º Pelot�o da Companhia de Pol�cia Militar de Meio Ambiente. No primeiro semestre de 2012, a companhia, que atua em todos os 34 munic�pios da regi�o metropolitana e em seis pr�ximos, apreendeu ou recolheu 2.529 aves, n�mero reduzido para 2.192 no mesmo per�odo deste ano.
Todos os animais silvestres capturados pela PM s�o encaminhados ao Ibama, segundo o tenente. A quantidade de bichos apreendidos pela corpora��o vem diminuindo por causa do fortalecimento da fiscaliza��o, avalia. “O n�mero de recolhimentos se mant�m mais ou menos est�vel. J� as apreens�es se reduziram porque o n�mero de opera��es que realizamos aumentou, principalmente desde 2010 e 2011. Os traficantes de animais est�o mais espertos, mas nossa atua��o inibe essas pessoas”, aponta Souza.
O ranking de esp�cies de p�ssaros que chegam ao Ibama em BH � liderado h� mais de 20 anos pelo can�rio-da-terra (Sicalis flaveola, em latim) e o trinca-ferro (Saltator similis). Entre 1992 e 2000, o can�rio manteve a dianteira, com um total 2.935 exemplares. A partir de 2001, a dupla passou a se revezar na primeira posi��o. Os viveiros do Cetas est�o cheios deles, que n�o param de cantar e voar de um lado para o outro.
Prefer�ncia

No Cetas, alguns p�ssaros chegam t�o debilitados que morrem antes mesmo de passar por um exame m�dico, primeira etapa dos animais acolhidos no local. “A principal causa � alimenta��o inadequada. Muitos est�o doentes, bebiam �gua suja e viviam em ambientes completamente insalubres”, diz Laercina Matos, veterin�ria e analista ambiental do Ibama.
Depois do exame, as aves recebem medica��o contra vermes e v�o para gaiolas individuais, onde ficam sob observa��o por alguns dias. Em seguida, se estiverem saud�veis o suficiente, mudam-se para viveiros coletivos e t�m a chance de reaprender a voar. “Quase todas est�o com a musculatura atrofiada, a n�o ser as rec�m-capturadas”, aponta Laercina. Finalmente, os animais s�o transportados para algumas das cerca de 130 �reas de soltura em Minas, onde s�o “reabilitados” em viveiros maiores antes de serem libertos. Se n�o se mostrarem capazes de voltar �s matas, s�o encaminhados para zool�gicos e outros tipos de criat�rio.
Para o MP, s�o poucos centros de triagem
Em Minas Gerais, o Ibama tem tr�s centros de triagem de animais silvestres (Cetas). Al�m do mais requisitado, em Belo Horizonte, h� um em Montes Claros, no Norte do estado, e outro em Juiz de Fora, na Zona da Mata. No Tri�ngulo Mineiro, a autarquia federal faz uso de um centro pertencente � Universidade Federal de Uberl�ndia (UFU). As estruturas s�o insuficientes para atender todo o estado, na avalia��o de Luciana Imaculada de Paula, promotora de Justi�a e coordenadora do Grupo Especial de Defesa da Fauna, criado em 2011 pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG).
Ao firmar um acordo de coopera��o t�cnica com o Ibama em junho deste ano, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad) se comprometeu a construir dois Cetas, ainda sem local definido, a serem administrados integralmente pelo governo do estado. Ainda assim, a quantidade de institui��es seria menor que o necess�rio. “O ideal seria haver um em cada regi�o. A dist�ncia entre o centro e o local de apreens�o dos animais dificulta muito sua reintrodu��o na natureza”, avalia a promotora.
Luciana Imaculada defende tamb�m que a fiscaliza��o do Ibama, da PM e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) seja intensificada nos munic�pios do interior. “Na Grande BH, a apreens�o atinge principalmente quem adquire o bicho, n�o quem captura e trafica. Estamos trabalhando com o efeito, n�o combatendo a causa do problema. Sabemos que os animais s�o buscados nas regi�es mais pobres do estado”, alega.