
A Serra da Piedade � testemunha de uma hist�ria que mistura guerra pela posse do ouro e dom�nio da regi�o das minas, igrejas barrocas com pe�as atribu�das a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738–1814), distritos com farta tradi��o cultural e vasto potencial tur�stico-religioso. Caet�, localizada aos p�s do maci�o que guarda a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, j� est� em festa para comemorar os 300 anos de eleva��o do arraial fundado pelo bandeirante Leonardo Nardez Sis�o de Souza � condi��o de vila do ouro – a Vila Nova da Rainha, por determina��o do ent�o governador da capitania, dom Braz Balthazar da Silveira. A abertura ser� no dia 5 e o ponto alto em 14 de fevereiro (veja o quadro), com repique de sino, missa, apresenta��o de um coral de 300 vozes, show e entrega de comenda.
“Ser� uma comemora��o c�vica e cultural, que s� ter� sentido e grandeza com a participa��o de toda a comunidade”, diz o diretor da Funda��o Casa de Cultura, autarquia municipal, Kleber Santos. Ele conta que est�o em andamento os projetos Pintando os 300, Ciranda da Cultura, com visitadas guiadas a monumentos importantes como a Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Pelourinho, chafarizes e aos museus Regional, Farm�cia Ideal, em atividade desde 1918, e Solar Jo�o Israel Pinheiro, antigo Solar do Tinoco. A expectativa � de estender as atividades ao distrito de Morro Vermelho, palco da Guerra dos Emboabas, e Serra da Piedade.
Quem chega � cidade nota logo a descaracteriza��o do conjunto arquitet�nico do Centro Hist�rico, com pr�dios centen�rios ao lado dos mais recentes. Kleber explica que a demoli��o de muitas constru��es coloniais ocorreu a partir da d�cada de 1940, mas ressalta que o objetivo, agora, � valorizar o velho e o novo, mostrando que Caet� se tornou uma cidade de todos os tempos. “O contraste d� um certo charme”, acredita. Mesmo assim, o Centro Hist�rico vai ganhar em breve um projeto de requalifica��o urbana, com cabeamento subterr�neo da rede de telefonia e energia el�trica, acabando-se, finalmente, com a fia��o que emba�a a paisagem; instala��o de lanternas para dar mais beleza e seguran�a, recapeamento das principais vias e outras provid�ncias.
Uma exposi��o fotogr�fica montada na Pra�a Dr. Jo�o Pinheiro, no Centro, leva o visitante a conhecer dois tempos da cidade: em preto e branco, est�o as prociss�es da padroeira – Caet� tem tamb�m S�o Caetano como protetor–, ruas, como a Muro de Pedra, a mais antiga da cidade, onde pontifica a Igreja de S�o Francisco de Assis, e outras cenas, enquanto h� registros coloridos dos mesmos locais hoje. “A mostra envolveu os moradores, que nos cederam retratos dos acervos particulares”, diz o diretor. Ele destaca ainda os concursos, entre estudantes, de reda��o alusiva ao tema, e concurso fotogr�fico, ambos com premia��o.
NOME DE RAINHA O nome Vila Nova da Rainha � uma homenagem a Maria Ana de �ustria, mulher de dom Jo�o V, que reinou em Portugal de 1706 a 1750. Ela emprestou seu nome a Mariana, primeira vila, cidade e diocese de Minas. Diante das fotos antigas, d� vontade de saber mais sobre os primeiros tempo de Caet�, cujas origens est�o em meados do s�culo 17, no in�cio do ciclo do ouro. Segundo pesquisas, a primeira “entrada” � atribu�da a Louren�o Castanho Taques, por volta de 1662. Mas foi em 1701 que o bandeirante Leonardo Nardez Sis�o de Souza encontrou minas de ouro em meio �s matas que os �ndios chamavam de “caet�”.
Os paulistas foram os primeiros habitantes e em 1704 a popula��o era numerosa. Em 29 de janeiro de 1714, � criada a vila do ouro, sendo feita a instala��o p�blica duas semanas depois, em 14 de fevereiro. Orgulhoso da trajet�ria do seu povo, o farmac�utico e propriet�rio da Farm�cia Ideal, Antonio Maria Claret Chagas, de 67 anos, � guardi�o da hist�ria do munic�pio tricenten�rio. No estabelecimento familiar aberto desde 1918 – “comemoramos 95 anos em 28 dezembro” –, ele guarda equipamentos como o piluleiro, para fazer p�lulas, e o capsulador, para c�psulas, corta-raiz, prensa, fogareiro a �lcool, a placa em madeira da Pharm�cia Ideal, fundada pelo tio-av� Joaquim Fernandes de Melo, livros em franc�s de 1890 e quadros de Santa Gema Galgani, protetora das farm�cias, e de um Cristo farmac�utico.
“Nasci aqui neste lugar, era o quarto da minha m�e. Hoje, virou o cantinho da saudade”, aponta Claret para o piso do museu dentro da farm�cia. Olhando a paisagem, o propriet�rio diz que a cidade precisa encontrar o seu destino.
“Tivemos o ciclo do ouro, da argila, da metalurgia e da minera��o. E agora, Caet�?”, pergunta. Uma das sa�das, acredita, est� no turismo religioso, afinal, a cidade se encontra no extremo de dois caminhos: de padroeira a padroeira, entre a Serra da Piedade e o Santu�rio de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), e o Entre Serras, ligando a Piedade ao Santu�rio do Cara�a.
SONHOS E AMBI��ES Para entender os 300 anos de eleva��o � categoria de vila � preciso voltar no tempo, conhecer um pouco sobre os homens da �poca, suas ambi��es e sonhos. A descoberta do ouro despertou cobi�a, atraiu gente de todo canto e gerou praticamente uma terra sem lei nos arraiais mineradores, no s�culo 17 e no in�cio do 18. Pesquisadores mostram que era uma verdadeira desordem, pois n�o havia autoridades e o governo se encontrava sempre distante. Para colocar ordem e normatizar administrativamente esses lugarejos, o ent�o governador da Capitania das Minas de Ouro e S�o Paulo, Ant�nio de Albuquerque, cria, em 1711, as primeiras vilas, que, na sequ�ncia, passam a funcionar como cabe�a de comarca. At� 1716, foram sete.
Dentro desse cen�rio, nascem Mariana, elevada � condi��o de vila em 8 de abril de 1711, e Ouro Preto, ex-Vila Rica, em 8 de julho de 1711 – ambas ficando � frente da comarca de Ouro Preto –, e Sabar�, antiga Vila Real de Nossa Senhora da Concei��o de Sabar�, em 17 de julho de 1711, centro da comarca do Rio das Velhas. S�o Jo�o del-Rei muda de categoria em 1713 e se torna sede da comarca do Rio das Mortes. Depois vem Caet�, Serro e Pitangui.
A nova condi��o deu �s vilas uma s�rie de avan�os pol�ticos e administrativos, como a forma��o da c�mara de vereadores, o chamado Senado da C�mara. Como sede da comarca, receberam um juiz ordin�rio e a figura do ouvidor. Mas nem todos deixaram de ser arraiais por decis�o espont�nea de Portugal. De acordo com os autos, Mariana, Ouro Preto, Sabar�, S�o Jo�o del-Rei e Serro foram os �nicos povoamentos que chegaram � condi��o de vila por decis�o da Coroa Portuguesa. Alguns povoados, como Pitangui, foram elevados por pedidos dos paulistas que estavam na regi�o. A solicita��o, no entanto, n�o implicava resposta positiva, j� que o governador da capitania poderia aprov�-lo ou n�o.
� bom lembrar que, em pleno s�culo 18, os arraiais n�o apresentavam o menor sinal do que s�o hoje as cidades do circuito do ouro. Eles eram formados por ranchos cobertos de sap�.
PROGRAMA��O
FESTA C�VICA E CULTURAL
14 de fevereiro
» 6h – Repique de sino no munic�pio e distritos
» 9h – Hasteamento de bandeiras com participa��o de bandas de m�sica
» 9h30 – Missa em a��o de gra�as celebrada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e padres de Caet�, na Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso
» 11h – Encena��o do ato de eleva��o a Vila Nova da Rainha com participa��o de um coral de 300 vozes. Entrega de comendas
» 20h – Shows na �rea externa do gin�sio poliesportivo. Durante todo o dia, haver� exposi��es e apresenta��o de artistas locais