
J�lia sonhou com Mariana de Oliveira, de 8, que se afogou em uma piscina do Jaragu� Country Club, na Pampulha, em Belo Horizonte. Ela ficou presa pelos cabelos no equipamento de suc��o de �gua e morreu no Hospital Odilon Behrens na madrugada do dia 4, 12 horas depois de ser socorrida no clube. O tio e padrinho de Mariana, o empres�rio Fernando de Oliveira, de 60, e a irm� de uma funcion�ria da fam�lia contam que tiveram sonhos parecidos com a garota. Na vida real, � na f� em Deus e no apoio de parentes e amigos que os pais e a irm� da menina buscam for�as para superar a tristeza.
Na sexta-feira, a fam�lia recebeu a reportagem do Estado de Minas em casa, no Bairro Ipiranga, na Regi�o Nordeste da capital. Os pais desabafaram e falaram da saudade da pequena Mariana, que para eles parece estar em todos os cantos. “No dia em que se despediu de mim para ir ao clube, ela estava sentada neste lado do sof�. Disse que queria ir, aproveitar o sol e o calor para brincar com a prima”, lembrou Ieda.
O quarto de Mariana continua intacto, como se a presen�a dela ainda fosse real. Bem em frente � porta do c�modo no qual ela dormia e passava parte do dia se divertindo com suas bonecas, J�lia se entretia com um livro. “Elas gostavam de brincar juntas. Eram muito amigas”, contou Marco Aur�lio. A m�e revelou ter sido doloroso retirar objetos pessoais de Mariana do quarto de J�lia. E que ainda n�o v� o momento como oportuno para desmontar o quarto da filha que se foi. “A hora certa vai chegar”.
Por ora, a fam�lia anda vive sem muita no��o do passar do tempo. Falta �nimo para voltar ao trabalho e � vida normal. Eles acreditam ser necess�rio viver o luto e a dor. Mas, conscientes, dizem que n�o v�o cultivar tristeza em casa. Um dos passos para superar o sofrimento j� foi dado. A fam�lia aceitou o convite de parentes para viajar por uma semana. Vai estar distante, mas com a filha no cora��o.
Entrevista - Marco Aur�lio e Ieda de Oliveira
Casal aponta falhas de seguran�a e pede que caso sirva de alerta para evitar mortes
'Se existem respons�veis, queremos que sejam punidos'
Marco Aur�lio – Era uma menina muito evolu�da e bondosa, queria resolver o problema de todos. Queria, por exemplo, arrumar casa para todo mundo morar. Am�vel, doce e educada, ela espalhava alegria por onde passava. Dizia todos os dias � nossa funcion�ria que a amava. “Eu te amo Teca, t�?”. Passava pelo porteiro do pr�dio, o senhor Elias, e o abra�ava diariamente. Agora, ele nos pergunta: ‘Como vou ficar sem a Mariana?’ Ela fazia diferen�a. Enchia os lugares de alegria quando chegava. Em um restaurante que costumamos ir, ela conhecia os gar�ons e todos eles a chamavam pelo nome. Na escola, era inteligente e querida. Em fam�lia, um presente, uma menina meiga e especial.
Como foi receber a not�cia da morte?
Ieda – Foi um choque. Sab�amos que tinha sido somente um acidente na piscina, n�o t�nhamos no��o da gravidade. Naquela noite, quando ela estava internada, um dos m�dicos disse que ela seria sedada, mas a neurologista resolveu fazer uma resson�ncia e adiantou que a les�o cerebral tinha sido muito grande e que o resultado havia sido p�ssimo.
Voc�s tinham esperan�a de que ela ficasse bem?
Marco Aur�lio – No hospital, t�nhamos certeza de que ela iria se recuperar. Mariana nunca adoeceu, nunca teve uma gripe. Era uma menina forte. Mas, ap�s o resultado da resson�ncia, a esperan�a diminuiu. A neurologista adiantou que ela tinha 99% de chance de viver em estado vegetativo. Tivemos medo do pior. Continuamos em casa em ora��o, mas �s 5h20 do s�bado fomos chamados ao hospital pela assistente social. Ela disse que n�o poderia adiantar nada por telefone, mas que precis�vamos ir at� l�. Foi quando recebemos a not�cia da morte.
Como voc�s reagiram?
Ieda – Quer�amos que ela acordasse e foi muito duro saber que isso n�o aconteceria mais. Foi uma dor muito grande. Essa hist�ria n�o tem nada de bom, mas Deus foi muito justo com ela, porque n�o quis que ela vegetasse sobre uma cama, o que n�o combinaria com a alegria e a esperteza de Mariana. Apesar do sofrimento, estamos lutando para entender isso, j� que nossa filha ficou sem op��o. Estamos tentando nos reerguer. Desde o dia da morte dela, estamos recebendo um apoio descomunal de nossos parentes e amigos. At� mesmo pessoas desconhecidas nos procuram para prestar solidariedade.
Voc�s acreditam que Mariana tinha uma miss�o?
Ieda – Acredito que todos n�s temos uma miss�o na Terra. Mariana foi v�tima de uma trag�dia, de um descaso, de uma irresponsabilidade. Mas se ela tinha uma miss�o, acredito que a morte dela ocorreu para proteger outras pessoas, outras crian�as. Serviu para evitar que outras pessoas se acidentem naquela piscina e em todas as outras que tenham uma armadilha como aquela.
Seria como se a morte dela acendesse um alerta para outros clubes?
Marco Aur�lio – Sim, claro. Porque a morte da Mariana foi provocada por falhas de gest�o e de infraestrutura. Ela sabia nadar muito bem. J� nadou comigo no mar e em cachoeiras. Temos piscina em casa e sempre achamos importante que nossas filhas soubessem nadar muito bem. Mas, naquele dia, ela foi sugada por um equipamento que n�o deveria estar ali, ou que deveria ter uma prote��o para n�o provocar acidentes. Infelizmente, foi com nossa filha. Mas o caso dela serve de exemplo para que se observem as condi��es das piscinas de todo o pa�s, bem como de qualquer instala��o que n�s, pais, pressupomos que sejam seguras por estarem em estabelecimentos especializados.
Quais as falhas que voc�s apontam?
Marco Aur�lio – Houve uma sequ�ncia de erros, desde a parte de infraestrutura at� a gest�o do clube. A primeira grande falha foi a instala��o do equipamento de suc��o naquele local, sem nenhuma prote��o, o que deixa qualquer pessoa em risco. Diante de um acidente, outros problemas se revelaram, como a falta de salva-vidas pr�ximo � piscina, o desconhecimento deles sobre o local da chave que desliga a bomba de suc��o e o despreparo deles para o salvamento. De modo geral, tamb�m percebemos que falta fiscaliza��o nesses lugares. Ser� que n�o existem regras para a constru��o de piscinas, e se existem, por que n�o foram fiscalizadas pelos �rg�os p�blicos? E ser� que as pessoas que est�o � frente da diretoria de piscinas do clube s�o preparadas para essa fun��o? S�o perguntas que ainda estamos nos fazendo.
O que voc�s pretendem fazer?
Marco Aur�lio – N�o temos revolta. Nosso sentimento � de indigna��o porque perdemos nossa filha por um total descaso. Vamos esperar o laudo da per�cia e a conclus�o do inqu�rito policial para decidir qual decis�o tomar. Dinheiro algum vai fazer diferen�a nessa hora, porque perdemos nosso presente de Deus. Mas, se existem respons�veis na esfera criminal, queremos que eles sejam punidos. E que o caso da Mariana possa contribuir para que as exig�ncias legais para constru��o e manuten��o de piscinas sejam mais r�gidas e, acima de tudo, cumpridas.