
O estudante de medicina Luiz Fernando Alves, de 22 anos, que sofreu trote violento de alunos da Faculdade de Medicina de S�o Jos� do Rio Preto (Famerp), no interior paulista, descartou nessa segunda-feira a possibilidade de retornar � institui��o, que � uma autarquia do estado de S�o Paulo. Segundo ele, al�m das humilha��es e agress�es sofridas durante o evento, depois que fez uma den�ncia na pol�cia local, passou a receber amea�as e deixou a cidade temendo por sua vida. “Vim fugido. N�o tenho como retomar o curso. O que eu quero, que eu preciso, � a minha transfer�ncia para outra faculdade p�blica, pois n�o tenho recursos para pagar o curso.”
O drama do estudante, que mora em Contagem, teve in�cio na semana passada, ao participar do evento de recep��o dos alunos novatos do curso de medicina, denominado de “Semana do Bicho”. Os festejos, de acordo com a Famerp, foi organizado por estudantes veteranos, fora do c�mpus. Os estudantes alugaram uma ch�cara no Jardim Aclima��o, nas proximidades da faculdade, para a realiza��o de churrascos, cervejadas, entre outras atividades.
“No primeiro dia, na noite da segunda-feira (dia 17), desisti de participar da festa logo que cheguei na ch�cara. Mas fui ‘convidado’ a retornar. Senti-me intimidado. Foi uma situa��o de humilha��o. Os calouros tinham que ficar de joelho levando cerveja na cabe�a para os veteranos. �ramos agredidos fisicamente e moralmente. Colocaram os alunos do sexo masculino nus num palco. T�nhamos que beber, pois estava muito frio e era a maneira de manter o corpo aquecido”, contou Luiz, que na madrugada da ter�a-feira (dia 18) foi encontrado desacordado pr�ximo � piscina.
CONSTRANGIMENTO
Al�m do tratamento humilhante dado a todos os calouros, o estudante conta que sofreu constrangimento por ser de Minas. “Muitos dos veteranos diziam que n�o gostam de mineiros. Eram insinua��es bairristas e acredito que, por ser de Minas, eles exageravam nas agress�es”. Luiz conta que sofreu ferimentos na coxa, m�o, rosto e orelha. Segundo disse, os veteranos lhe aplicaram chutes, tapas e golpes de garrafas. Os calouros pagaram ainda R$ 750 a t�tulo de taxa para comemora��es do curso.
O estudante disse que, na quarta-feira, dia 19, pediu para deixar o evento, que iria seguir at� o fim de semana. No dia seguinte, outros alunos levaram ao conhecimento dos professores o ocorrido. “Passei a receber amea�as por telefone e ent�o decidi fazer uma den�ncia formal na delegacia, n�o esperando que algu�m seja punido, mas para me resguardar.” Ontem a dire��o da escola se reuniu para analisar o caso e abriu uma sindic�ncia para investigar o trote.
Em nota, Faculdade de Medicina de S�o Jos� do Rio Preto (Famerp) informou que vai apurar detalhes a respeito do trote e das agress�es aos estudantes rec�m-ingressados. “O diretor da institui��o, Dulcimar Donizeti de Souza, se reuniu pela manh� com alunos do primeiro ano de medicina para ouvir depoimentos sobre o ocorrido. Ap�s a identifica��o dos respons�veis, a faculdade vai aplicar a puni��o de acordo com o regimento, que pode ser desde advert�ncia at� expuls�o”, destacou o comunicado. Procurada pela reportagem, a Pol�cia Civil de S�o Paulo n�o soube informar que provid�ncias est�o sendo tomadas em rela��o � den�ncia do estudante mineiro e nem qual unidade de S�o Jos� do Rio Preto ser� encarregada da investiga��o.
Tr�s perguntas para...
Luiz Fernando Alves, estudante de medicina
1) Qual a sensa��o depois do epis�dio do trote?
Hoje conversei com uma psic�loga para colocar as coisas em ordem. Escolhi medicina pois tenho o objetivo de ajudar meu irm�o que � deficiente f�sico. Quero me especializar em neurologia. S� n�o tenho condi��es de retornar � Famerp e espero que consigam me transferir para outra institui��o p�blica.
2)Quais op��es voc� tem para seguir o curso?
Por quatro anos fiz pr�-vestibular, pois n�o tenho recursos para pagar o curso. Minhas notas eram suficientes para fazer medicina na Unicamp, mas quis fugir da viol�ncia de Campinas. S� que encarei uma viol�ncia, de futuros m�dicos, em S�o Jos� do Rio Preto. De alguma forma espero que as autoridades n�o me desamparem e garantam o meu direito de fazer o curso.
3)Voc�, como v�tima de um trote, como v� essa pr�tica estudantil?
N�o quero culpar ningu�m, pois n�o vai consertar o erro que j� aconteceu. A gente luta tanto para chegar l� e ent�o se v� numa situa��o de perder seu sonho, curso, investimentos. E ainda de v�tima passa a ser olhado como vil�o pelos que defendem o nome da faculdade, que fez vista grossa, como ocorre na maioria dos trotes universit�rios