
“O comportamento feminino n�o d� ao homem o direito de estupr�-la”, enfatiza a delegada-chefe da Divis�o da Mulher, do Idoso e da Pessoa com Defici�ncia, Margaret de Freitas Assis Rocha. “Pensar dessa forma � um retrocesso diante de todas os avan�os que j� tivemos para a prote��o da mulher”, acrescenta. Segundo Margaret, os casos aumentaram expressivamente em Belo Horizonte em 2010 como reflexo na mudan�a da tipifica��o do crime. No ano anterior, a lei passou a definir tamb�m como estupro n�o apenas casos em que h� penetra��o, mas tamb�m aqueles de atentado violento ao pudor e abuso sexual. Para ela, o aumento m�dio registrado em 2014 pode ter liga��o com o crescimento de ocorr�ncias com uso de drogas ou de encontros marcados com desconhecidos pelas redes sociais. “Nos preocupam os crimes em que as mo�as s�o drogadas por homens em baladas. Ao fazer a den�ncia, elas relatam n�o se lembrar do que ocorreu”, afirma. O alerta vale tamb�m para o namoro pela internet.
Entre as v�timas, os resultados da pesquisa do Ipea provocam revolta. “A culpa n�o � minha. A roupa n�o d� o direito a nenhum homem de ser violento com a mulher”, diz N., de 27 anos, atacada em 2006 na Avenida Nossa Senhora do Carmo. Ela foi estuprada por volta das 19h na sa�da do trabalho, enquanto aguardava o �nibus para voltar para casa. Sozinha no ponto, ela foi abordada por um homem com uma arma na cintura, levada at� um jardim na porta de uma empresa e violentada por quase quatro horas. Outro homem a vigiava. “Ele me amea�ava de morte o tempo inteiro e eu tive muito medo. Foram momentos de p�nico. Ele era visivelmente uma pessoa com dist�rbio mental”, conta N., que fez tratamento psicol�gico por mais de um ano. “No in�cio foi muito dif�cil e at� eu me culpava por isso. Fiquei me perguntando porque (isso aconteceu). Hoje � um pouco mais tranquilo falar sobre isso, mas fiquei muito traumatizada.” Ela vestia blusa de moleton, cal�a jeans e t�nis.
Terapia
A t�cnica de enfermagem S.S.B.A, de 31 anos, tamb�m precisou de tratamento psicol�gico para parar de se sentir culpada depois que foi v�tima de estupro. Ela foi atacada perto de casa quando sa�a para trabalhar, por volta das 5h30. Sob amea�a de uma faca, foi for�ada a manter rela��o sexual por horas. “Ficava me perguntando porque eu tinha chamado a aten��o dele”, lembra. As sess�es de terapia que ainda frequenta foram fundamentais para que ela entendesse que n�o teve culpa alguma. Ela estava de cal�a jeans, blusa larga e jaqueta.
A coordenadora estadual de Pol�ticas para as Mulheres da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), Eliana Piola, classifica a viol�ncia sexual como um desvio masculino. “Atribuir �s mulheres a responsabilidade de serem v�timas em decorr�ncia da forma de trajar ou � sua postura � uma demonstra��o do machismo arraigado entre os brasileiros”, defende. “O problema � que os homens veem as mulheres n�o como sujeito, mas como objeto”, critica. Sobre o perfil do estuprador, a coordenadora destaca um novo fen�meno. “Eles s�o cada vez mais jovens, na faixa et�ria de 20 a 25 anos e de camadas sociais mais elevadas. Os casos est�o cada vez mais ligados com o uso de drogas, que potencializam a vontade de cometer o crime, mas nunca justificam”, ressalta Eliana. Para ela, � muito pequena a possibilidade de recupera��o de autor deste tipo de crime. “S�o pessoas com dist�rbios graves.”
A delegada Margaret Rocha ressalta que, de modo geral, o estupro � um crime de oportunidade, embora haja casos planejados. “O agressor pode ficar � espreita e aproveitar de uma mulher sozinha, na rua, em um ponto de �nibus”, diz. “Mas, em algumas circunst�ncias, h� quem observe o comportamento da v�tima para cometer o abuso.”
Ataques
Ocorr�ncias de estupro consumado
Belo Horizonte
2009 249
2010 479
2011 364
2012 293
2013 222
2014 44
Minas Gerais
2012 1.741
2013 1427
2014 226
Fonte: seds