
A mesma capital que j� foi chamada de cidade jardim agora estrangula, sufoca, corta e queima suas �rvores. Apesar de desempenharem um importante papel na produ��o de oxig�nio e na manuten��o da paisagem natural, elas t�m sofrido em ruas e avenidas. Na Rua Frei Leopoldo, no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, dezenas de pregos perfuram o tronco de uma �rvore para segurar tampinhas usadas em um enfeite de Natal no ano passado. No Barro Preto, Centro-Sul, plantas tiveram as ra�zes concretadas, tampando a �rea de infiltra��o de �gua. Em 2013, das 702 vistorias feitas, foram emitidas apenas 40 advert�ncias que resultaram em 21 multas.
O vizinho Alexandre Santiago, de 44, divide o passeio com Jos�, na Rua Guajajaras, onde tem uma loja de bordados. O empres�rio confessa que n�o tinha se atentado para a mudan�a e nega que tenha sido ele o respons�vel pela coloca��o do cimento. Inclusive se posiciona contr�rio � atitude. “Toda planta precisa de �gua para viver. Do jeito que est�, ter� uma vida �til muito menor.” Indignado com o sufocamento enfrentado pelas �rvores na Rua Guajajaras, o consultor de propriedade industrial Roberto Batista, de 64, criticou a coloca��o do cimento. “Quem fez isso s� pode ser uma pessoa sem no��o. Sou completamente contra qualquer a��o que prejudique o meio ambiente”, disse.
Outro ponto onde a terra foi trocada por concreto, que agora sufoca a parte inferior dos troncos, � na Rua Goitacazes, entre Araguari e Mato Grosso. O EM esteve no local para checar a den�ncia feita por uma moradora do entorno. Na cal�ada que cerca um shopping, v�rias �rvores foram cimentadas na base, cobrindo toda a �rea perme�vel no seu entorno. “A prefeitura precisa fazer uma vistoria no local para tomar as devidas provid�ncias”, cobra a moradora.
ESTACIONAMENTO
Alguns moradores ainda torcem o nariz para muitas esp�cies e dizem que elas atrapalham as vagas de estacionamento ou servem apenas para estourar o cimento da cal�ada. “Ela n�o deveria estar aqui. Na hora em que os carros v�o entrar e sair da vaga, fica muito apertado, e os motoristas t�m dificuldade”, conta a funcion�ria de uma lanchonete na Rua Concei��o do Mato Dentro, no Bairro Ouro Preto, na Regi�o da Pampulha. A planta, al�m de ter que se adequar � fia��o el�trica, tenta se manter hidratada, j� que teve todo o entorno de suas ra�zes concretado.
Inerte � a��o do homem, as �rvores s�o ainda alvo do fogo, da retirada de suas cascas, ou do corte inadequado. Na Avenida Bernardo Vasconcelos, esquina com Rua Ibertioga, no Bairro Cachoeirinha, Regi�o Nordeste, uma grande amendoeira tem marcas pretas, depois de ter sido queimada nas ra�zes. A planta est� ainda cercada de lixo e entulhos e com o tronco � mostra, pois perdeu parte da cobertura do caule.
No Bairro Ouro Preto, as tampinhas pregadas no tronco de uma �rvore na Rua Frei Leopoldo, em frente ao n�mero 117, passam impercept�veis aos olhos da fiscaliza��o. Segundo a moradora da casa em frente, a aposentada Concei��o do Carmo Souza, de 72, elas foram colocadas para um enfeite de Natal, mas permanecem cravadas na �rvore, que tamb�m tem concreto nas ra�zes. Na Rua S�o Paulo, no Lourdes, uma �rvore sustenta objetos de decora��o de uma loja, que n�o tem autoriza��o. A PBH informou que vai vistoriar o local.
Mesmo sabendo da irregularidade, o gerente de uma loja de m�veis na Avenida Silviano Brand�o, Ant�nio Rodrigues da Cruz, de 38, n�o se intimidou em fixar pl�sticos verdes e amarelos nos troncos das �rvores do canteiro central bem em frente ao ponto comercial. O “enfeite” fez parte de uma promo��o rel�mpago durante o fim de semana, mas at� a ter�a-feira ainda permanecia. “Antes de pregar eu j� sabia que era proibido. Mas coloquei porque era somente de sexta a domingo. Vou providenciar a retirada”, disse.
Regional deve autorizar
Causar danos � flora � infra��o prevista no decreto municipal nº 5.893/88 e � pass�vel de multa, que vai de R$ 2.490,71 a R$ 17.298,32, segundo a Secretaria Municipal de Fiscaliza��o. Em BH, as vistorias s�o setorizadas e feitas pela ger�ncia de Parques e �reas Verdes de cada uma das nove regionais. “Tudo o que causa dano, como a poda irregular, ainda que dentro de uma propriedade privada, � considerado infra��o”, explica a gerente de �reas Verdes e Arboriza��o Urbana da Secretaria de Meio Ambiente, Joseane Toledo.
Segundo ela, todas as interven��es em qualquer esp�cie requerem autoriza��o pr�via. “Cada regional tem uma equipe que pode analisar se determinada atividade pode ser feita”, diz. Ela deixa claro, no entanto, que a��es como anexar faixas nas plantas em via p�blica ou fincar pregos no caule s�o atitudes proibidas.
Vistoria feita pela prefeitura na Rua Goitacazes concluiu que h� pelo menos 10 �rvores com as ra�zes abaladas pela implanta��o do passeio ou pela coloca��o de restos de cimento e de asfalto. Segundo a PBH, t�cnicos da Regional Centro-Sul vistoriaram o local e constataram que realmente n�o h� espa�o para infiltra��o de �gua para alimentar as ra�zes. “A situa��o � irregular, e as medidas cab�veis j� est�o sendo tomadas. Conforme previsto no C�digo de Posturas, os respons�veis ser�o notificados para que retirem o cimento e fa�am a constru��o do anel ecol�gico conforme padr�o do munic�pio, dentro do prazo legal”, informou a regional por meio de nota.
Caso descumpram a notifica��o, ser� aplicada multa para cada �rvore prejudicada. Esse valor poder� ser duplicado, segundo a PBH, em caso de reincid�ncias. Ressalta-se que tamb�m h� previs�o de penalidade na legisla��o ambiental do munic�pio, que, de acordo com o dano causado, pode sujeitar o infrator a multa de at� R$ 38 mil, diz o documento. Danificar a flora tamb�m � considerado um crime ambiental, de acordo com a prefeitura. O �rg�o informou ainda que vai fazer uma vistoria nas �rvores da Rua Guajajaras.