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Estado de Minas

Livro desvenda segredos de Aleijadinho

Livro sugere, entre outras coisas, nova data de nascimento do mestre do Barroco. Obra tamb�m d� detalhes sobre a morte do artista e revela uma exuma��o feita de forma clandestina


postado em 15/06/2014 00:12 / atualizado em 15/06/2014 07:28

Gustavo Werneck

Santuário Bom Jesus do Matosinhos: uma das grandes obras do mestre do Barroco são as esculturas dos profetas em pedra sabão (foto: Ramon Lisboa/EM DA Press)
Santu�rio Bom Jesus do Matosinhos: uma das grandes obras do mestre do Barroco s�o as esculturas dos profetas em pedra sab�o (foto: Ramon Lisboa/EM DA Press)
Um dos maiores nomes da arte colonial brasileira – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – n�o nasceu em 1730, muito menos em 1738, como at� ent�o acreditavam especialistas envolvidos em pesquisas sobre o mestre do Barroco. E mais: uma das quatro exuma��es do corpo, sepultado na Matriz de Nossa Senhora da Concei��o de Ant�nio Dias, no Centro Hist�rico da cidade, ocorreu de forma clandestina e resultou na retirada de peda�os de ossos que foram levados para a Inglaterra. Essas e outras revela��es est�o num livro de autoria do promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda, com lan�amento dia 25, em Belo Horizonte, dentro da programa��o do bicenten�rio de morte do artista, nascido em Ouro Preto. “� um livro simples como esse homem, e n�o grandioso como a sua obra”, disse Marcos Paulo.


Aleijadinho revelado – Estudo hist�rico sobre Antonio Francisco Lisboa demandou 20 anos de investiga��o em Ouro Preto, Congonhas e Mariana, Rio de Janeiro e em Lisboa, com destaque para os arquivos Nacional da Torre dos Tombos, Hist�rico Ultramarino e da C�mara Municipal da capital portuguesa. Mas foi na Matriz de Nossa Senhora da Concei��o de Ant�nio Dias, em Ouro Preto, que Marcos Paulo fez uma das descobertas mais importantes: encontrou o registro de nascimento de Antonio Francisco Lisboa, que era filho da negra forra Isabel.


“Certamente, os pesquisadores procuravam o registro apenas pelo nome do pai, o art�fice portugu�s Manoel Antonio Lisboa. A quest�o � que, naquela �poca, pelo direito can�nico, era proibido que constassem do registro os nomes dos pais quando eles n�o fossem formalmente casados. Da� s� haver o nome da m�e no documento. Al�m disso, o costume era levar a crian�a � pia batismal logo ap�s o nascimento”, explicou Marcos Paulo, acrescentando que, no livro da par�quia h� o nome dos padrinhos Manoel Luiz e de Antonia Correa, tamb�m alforriada. “Pela primeira vez, no dia 26, poderemos lembrar o nascimento e batizado de Aleijadinho. A �nica data que se conhecia era a da morte, 18 de novembro, conforme est� no atestado de �bito”, disse Marcos Paulo, integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte.


Marcos Paulo de Souza Miranda(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Marcos Paulo de Souza Miranda (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Para o promotor de Justi�a, toda a obra sobre o “arquiteto, entalhador, escultor, perito e marceneiro”, patrono das artes no Brasil, est� focada na produ��o. “O meu objetivo foi conhecer o homem.” O autor do livro conta que a primeira biografia foi escrita em 1858 por Rodrigo Jos� Ferreira Bretas, ex-promotor de Justi�a de Ouro Preto. “O trabalho foi publicado no jornal Correio de Minas 44 anos depois da morte de Aleijadinho. Bretas conversou com dona Joana Lopes, parteira, que foi casada com o filho do artista, Manoel Francisco Lisboa, batizado com o mesmo nome do av�.”

OFICINA O pai de Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa, nasceu em S�o Jos� de Odivelas, antes pertencente a Lisboa e hoje munic�pio. “O nome de fam�lia n�o � propriamente ‘de Lisboa’, apenas indica a proced�ncia. O pioneiro Jo�o Francisco e seus tr�s filhos vieram da capital portuguesa atra�dos, no auge da minera��o do ouro nas Gerais, pela alta efervesc�ncia de constru��o de igrejas. Era uma fam�lia de art�fices. Os tios de Aleijadinho, Antonio Francisco Pombal e Francisco Antonio Lisboa, foram ex�mios entalhadores e atuaram, respectivamente, nas matrizes do Pilar e de Nossa Senhora da Concei��o de Antonio Dias”, diz o promotor de Justi�a.


Nas pesquisas, Marcos Paulo verificou que o escultor dos 12 profetas de Congonhas, obra em pedra-sab�o feita entre 1800 e 1805, e de dezenas de outros tesouros admirados por visitantes de todo o mundo, foi aprendiz, oficial e se tornou mestre, aprendendo a trabalhar com a pr�pria fam�lia, pois todos eram do ramo. Em 1760, quando tinha 23 anos, come�ou com a sua oficina, embora n�o fosse um espa�o f�sico, mas um servi�o itinerante. “Ele se deslocava para o lugar onde houvesse servi�o, tanto que morou em Rio Espera e Sabar�. A equipe dormia geralmente nas casas paroquiais. Outra atividade importante, a exemplo da desempenhada pelo pai, foi a de perito ou “louvado”. Um dos irm�os de Aleijadinho, o padre F�lix, seguiu a mesma trilha e se tornou talentoso escultor de pe�as sacras.

Ano do Barroco Minas celebra em 2014 o Ano do Barroco e reverencia a mem�ria de Aleijadinho pelos 200 anos de sua morte. At� o fim do ano, haver� uma programa��o extensa na capital e no interior, com exposi��es, lan�amento de livros, atividades de educa��o patrimonial e uma cartilha dirigida aos estudantes, preparada pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha). No Museu Mineiro, na Av. Jo�o Pinheiro, no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul de BH, est� em cartaz a mostra Patrim�nio recuperado, com 150 pe�as sacras resgatadas desde 2003 pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais e Pol�cia Federal. O objetivo da exposi��o, al�m de mostrar a beleza das pe�as, � que, ao visit�-la, moradores da capital e interior ajudem na identifica��o e tornem poss�vel o retorno das pe�as aos seus locais de origem.

 

Servi�o
Aleijadinho Revelado – Estudo hist�rico sobre
Antonio Francisco Lisboa
Lan�amento dia 25, �s 18h30, na Procuradoria Geral de Justi�a (Avenida �lvares Cabral, 17, Centro,
Belo Horizonte).


Um mist�rio permanece

Em tantos anos de estudo, muitos deles conduzidos nos per�odos de folga e f�rias no Minist�rio P�blico de Minas Gerais, Marcos Paulo constatou que Antonio Francisco Lisboa � o “maior caso cl�nico n�o desvendado no Brasil”. E, nas p�ginas de Aleijadinho revelado, editado pela Fino Tra�o, ele n�o encontrou a resposta para a pergunta: que doen�a acometeu o g�nio do Barroco?. “Ele desempenhou seu of�cio com ferramentas presas �s m�os e essa defici�ncia pode ter sido causada por fratura ou lepra”, acredita.

Outra quest�o se refere aos restos mortais exumados quatro vezes, em 1930, 1947, 1970 e 2003, e que podem ter sido de outra pessoa, “e n�o de Aleijadinho”, ressalta Marcos Paulo, que d� a sua vers�o para os fatos baseados at� em f�rmulas matem�ticas. Outra surpresa se refere � segunda exuma��o, realizada de forma clandestina: “Felizmente, os peda�os de osso levados para a Inglaterra retornaram ao Brasil”.

Marcos Paulo se emociona ao falar de Aleijadinho, para ele um dos maiores exemplos de simplicidade, humildade e sofrimento. “Morreu pobre, aos 77 anos, morando de favor na casa da nora. N�o tinha bens, n�o deixou testamento nem invent�rio.”


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