Pedro Ferreira

Pequenos gestos, mas que s�o grandes atitudes em favor do meio ambiente. Em Belo Horizonte e regi�o metropolitana, n�o s�o poucas as pessoas que arrega�am as mangas e v�o � luta pela preserva��o do verde, das nascentes de �gua ou simplesmente para tornar a cidade onde mora mais bonita aos olhos de quem a ama. �s margens da BR-040, em Nova Lima, Grande BH, moradores do Bairro Vale do Sol, adotam uma s�rie de medidas de preven��o durante o ano todo para evitar inc�ndios nos quase 1,1 mil hectares da Esta��o Ecol�gica de Fechos, pertencente ao Parque Estadual Serra do Rola Mo�a. A Serra da Gandarela, localizada nos munic�pios de Caet�, Santa B�rbara, Bar�o de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos, e que faz parte do conjunto da Reserva da Biosfera do Espinha�o, tamb�m pode virar parque estadual nos pr�ximos dias, gra�as a um grupo de pessoas que uniram for�as para defend�-la da explora��o mineral.
Em Belo Horizonte, o Grupo Fica Ficus, criado para defender as �rvores centen�rias da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Santa Efig�nia, Regi�o Centro-Sul, cresceu e j� possui 2.204 adeptos de olhos voltados para outras regi�es da capital. No Bairro Jaragu�, na Pampulha, a arquiteta e produtora de cinema Maria Ant�nia Dinelli Azevedo adotou uma pra�a em frente � sua casa e mobilizou toda a fam�lia para ajud�-la. Moradores do bairro tamb�m contribuem, preservando o espa�o p�blico que encanta a todos e virou reduto dos p�ssaros. Um casal de jo�o-de-barro praticamente adotou o lugar como moradia e pode ser visto o dia todo entre as plantas, al�m de bem-te-vis e sabi�s.
Maria Ant�nia � parceira do Programa Adote o Verde desde 2002 e a “menina dos seus olhos” j� conquistou o t�tulo de 2008 do concurso, recebeu men��o honrosa em 2012 e ainda levou o pr�mio de gentileza urbana do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). “Entrei em contato com a prefeitura e participei do projeto de cria��o da pra�a e da escolha do paisagismo. Primeiro, plantamos cana �ndica, mas ela morria depois da flora��o e a substitu�mos por outras plantas” conta a arquiteta. Como as sibipirunas s�o antigas e n�o vivem para sempre, segundo a arquiteta, mudas de ip�s amarelo e branco j� foram plantadas para embelezar o espa�o futuramente e garantir sombra. A dedica��o da fam�lia dela � tanta que o pai de Maria Ant�nia foi homenageado – a pra�a ganhou seu nome, Djalma Alves de Azevedo.
H� alguns anos, a prefeitura colocou m�o �nica na Rua Am�vel Costa e parte da via foi fechada para o tr�nsito de ve�culos. Tr�s sibipirunas que ficavam no canteiro central foram anexadas � pequena pra�a, que n�o chega a 500 metros quadrados. Todos os meses, a arquiteta e a fam�lia destinam R$ 500 para pagar dois jardineiros que ajudam nos cuidados. As 22 tuias compactas ganharam formas arredondadas com as podas. As agaves, que s�o da fam�lia das suculentas, t�m espinho nas pontas e formam um cintur�o no entorno dos canteiros, uma forma de impedir a entrada de pessoas na �rea ajardinada.
Para Maria Ant�nia, todo mundo deveria considerar a cidade uma extens�o de casa. “Belo Horizonte � considerada a Cidade Jardim e o t�tulo deve ser mantido. J� perdemos muito verde ao longo dos anos”, diz. Os moradores do bairro deixam mensagens de agradecimento na caixa de correio da arquiteta. “Prezada senhora. Por favor, queira aceitar meus cumprimentos por manter este maravilhoso e aben�oado jardim sempre verde”, diz uma das cartas.
Defensores de serra e �rvores
Em fevereiro de 2012, um amigo da publicit�ria Patr�cia Caristo, que estava fora de Belo Horizonte, encaminhou-lhe fotografias colhidas na internet, de uma poda radical feita nos f�cus centen�rios na Bernardo Monteiro. “Patr�cia, voc� precisa fazer alguma coisa”, pedia o amigo defensor de �rvores. Depois de confirmar presen�a em um evento criado por um m�dico na rede social, “Precisamos fazer alguma coisa”, Patr�cia come�ou a convidar todos os amigos a participar. “Marcamos um encontro debaixo dos f�cus e os convites tiveram uma ades�o incr�vel. O resultado foi muito bom. A prefeitura mandou o chefe da Defesa Civil � reuni�o e dois representantes da Secretaria de Meio Ambiente para justificar as podas da �rvores, por causa de uma praga”, disse Patr�cia.
Um grupo de estudo foi criado pela prefeitura para buscar uma solu��o que n�o fosse a poda e a praga come�ou a ser controlada. “Passamos a nos reunir toda semana debaixo dos f�cus. Foi chegando mais gente e passamos a distribuir fun��es. Se n�o fosse a a��o do grupo, provavelmente todas as �rvores estariam no ch�o h� muito tempo. Pedimos audi�ncia p�blica, convocamos o Minist�rio P�blico, a promotora foi ao local e fez cumprir o processo de tombamento das �rvores”, disse a arquiteta, lembrando que as plantas s�o tombadas como parte da �rea de Diretrizes Especiais da Regi�o Hospitalar. O trabalho do grupo se expandiu para outras regi�es da cidade, como na defesa dos f�cus da Avenida Barbacena e da Igreja da Boa Viagem, que sofriam a mesma amea�a.
Gandarela Outro grupo de amantes da natureza lutou pela preserva��o de uma das �ltimas grandes reservas naturais intactas de Minas Gerais, a Serra do Gandarela, localizada nos munic�pios de Caet�, Santa B�rbara, Bar�o de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos, �ltima cadeia de montanhas intacta pela minera��o do quadril�tero ferr�fero e que integra o conjunto da Reserva da Biosfera do Espinha�o. O jornalista Gustavo Gazzinelli conta que tem amigos morando na regi�o e que se encantou pela beleza do lugar, o que o motivou a lutar pela sua preserva��o. “� a �rea mais intoc�vel do Alto Rio das Velhas. Regi�o maravilhosa, com �rea de mata atl�ntica fant�stica, pertinho de Belo Horizonte, no meio do circuito hist�rico e cultural na regi�o do ciclo do hor�rio”, disse. “Fica no entorno dos munic�pios de Itabirito, Sabar� e Ouro Preto. � uma �ncora ambiental muito importante para a gente valorizar o Vetor Sudeste da regi�o metropolitana”, disse Gazzinelli.
Entre as a��es do grupo est�o v�rias den�ncias ao Minist�rio P�blico e acompanhamento do processo de cria��o do parque nacional. “A serra hoje est� no n�vel de prioridade total do Minist�rio do Meio Ambiente e � poss�vel que ela vire parque nos pr�ximos dias. O processo j� passou por v�rias etapas e est� na Casa Civil, antes de ir para a presidente Dilma sancionar”, disse o jornalista.
Outro exemplo de amor � natureza vem dos moradores do Bairro Vale do Sol, em Nova Lima, Grande BH. Durante todo o ano, eles buscam fazer a sua parte para evitar inc�ndio nos quase 1,1 mil hectares da Esta��o Ecol�gica de Fechos, pertencente ao Parque Estadual Serra do Rola-Mo�a, que � habitada por dezenas de esp�cies de plantas t�picas do cerrado e outras de transi��o entre esse bioma e a mata atl�ntica. Pelo menos duas vezes por dia, o artes�o Gl�ucio Flores, de 55, vai � varanda da sua casa observar a �rea com a ajuda de um bin�culo, atento a qualquer sinal de fuma�a. O medo � que as matas nativas sejam consumidas por inc�ndio. Os moradores adotaram v�rias outras medidas de preven��o e a preocupa��o deles aumenta em per�odos de tempo seco e quente.