
� tempo de Copa do Mundo, de festejar cada gol ou afogar as m�goas da derrota. Enquanto muitos comemoram, outros trabalham para proporcionar a festa. Na Savassi, por exemplo, regi�o que ganhou o cora��o de turistas e belo-horizontinos durante a competi��o, quem curte n�o imagina o que � estar atr�s do balc�o de um bar em pleno dia de jogo do Mundial. Foi o que experimentei no s�bado.
Cantadas, xingamentos, a tentativa de entender um idioma que n�o � o nosso e saber lidar com o cliente, dizendo sempre que ele tem raz�o apesar de se mostrar um tanto folgado e, muitas vezes, sem disposi��o para pagar o real pre�o do produto. Aceitei a proposta de vestir o uniforme de gar�onete e encarar a jornada de algumas horas em um dos bares da regi�o, o Status Caf�, Arte e Cultura. Foi l� que passei a maior parte do dia, quase seis horas, atendendo, servindo baldes de cerveja, �gua, tira-gostos, etc. No come�o, me assustei e at� achei que n�o daria conta.
Continuando a saga de gar�onete por um dia, ganhei tamb�m minha primeira gorjeta. E n�o foi de um gringo, mas de uma fam�lia brasileira, para a qual servi �gua e um balde de cervejas. Despreparada, n�o tinha bolso nem onde guardar as moedas. A primeira ideia foi guardar na bota. No resto do expediente, elas incomodaram e n�o me deixaram caminhar direito.
Logo que cheguei, um colega me alertou: “Cuidado. Sempre tem um engra�adinho querendo sair sem pagar. Se eles fazem isso, quem paga a conta somos n�s. Essa semana, corri atr�s de um gringo que ia saindo sem pagar uma conta de R$ 200”, contou-me o gar�om Cleber de Souza, que tem mais de 20 anos de profiss�o. N�o demorou muito e uma turma de garotos brasileiros tentou me passar a perna. Disseram que haviam pago mais barato na cerveja com outro gar�om. � preciso jogo de cintura. Informei que o pre�o correto da cerveja era R$ 6, e n�o R$ 5. Ent�o perguntaram meu nome e pediram um balde com seis. Depois disso, quando passava pela mesa deles, brincavam comigo, puxavam meu bra�o, davam beijos nas m�os e gritavam meu nome. Um me chamou para sair.
ELOGIOS
H� quem pense que n�o, mas um gar�om se orgulha quando um cliente pergunta seu nome e passa a chamar por ele pelo resto da noite. Tamb�m � gratificante quando algu�m elogia o trabalho, agradece e ainda pede para fazer uma foto. Foi o que o alem�o Enes comemorava. “Na Alemanha, n�o se fala assim com um gar�om, n�o se pede para tirar foto e nem se agradece”, disse, feliz, porque ganhou uma selfie com um casal de gringos como recorda��o da Copa do Mundo. Enes est� em BH h� um ano, quando veio cursar ci�ncia da computa��o na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e vai trabalhar de gar�om at� o fim do Mundial.
Como em dia de Copa tudo � festa, sempre que eu passava ao lado da mesa, eles levantavam a m�o e gritavam: “Fran!”. Em outras mesas, muitos reclamavam da demora, mas, por mais que reforcem o quadro de gar�ons, por mais que se corra, nunca d� para atender todo mundo t�o bem em um dia de muito movimento como na Savassi.
No fim do expediente, quando tirei o uniforme, contei para os colegas da Status o que fazia ali. “Menina, quando te vi de uniforme na hora em que chegou, pensei: Ela n�o vai dar conta, vai pedir �gua rapidinho. Mas me enganei. Voc� ajudou e muito, me impressionou”, disse Cleber. Fechei o meu dia de gar�onete relembrando os tempos em que servia na lanchonete de minha m�e, em Entre Rios de Minas, na Regi�o Central do estado. Um dia de sufoco e aprendizado atr�s do balc�o na Copa do Mundo de 2014.