
Na noite de ter�a-feira, quando os ingleses invadiram a Savassi, depois da partida da Inglaterra contra a Costa Rica, no Mineir�o, o Estado de Minas acompanhou o clima da festa e ouviu os relatos de algumas mineiras que discordam da forma como muitos homens de fora se aproximam. Enquanto algumas at� assediavam os estrangeiros, outras se sentiam desrespeitadas.
� o caso da estudante Camila Peixoto, de 22 anos. Naquela ter�a-feira, por volta das 20h, Camila, que estava animada com o clima, foi ao banheiro de um bar, no quarteir�o fechado da Rua Pernambuco, e, segundo ela, foi molestada por um ingl�s. “Ele estava com uma menina e quando ela entrou para o banheiro, ele apertou a minha bunda. Fiquei t�o assustada que n�o quis brigar e comentei com uma outra garota que tamb�m estava na fila. Ela disse que o rapaz tamb�m havia passado a m�o nela”, relatou Camila.
A indigna��o � a mesma para a consultora Fernanda Carvalho, de 32. Ela conta que, na semana passada, um polon�s que ela conheceu durante a festa na Savassi quis lev�-la para o hotel onde estava hospedado. “Ele quase me arrastou. Por sorte, consegui escapar. Eles est�o achando que est�o onde? Nos sentimos desrespeitadas”, contou. “Como muitas brasileiras est�o assediando demais os estrangeiros, talvez eles estejam se sentido livres para pensar o que quiserem de n�s”, comentou. A instrutora de autoescola Adriana Cristina reclamou: “No domingo, os argentinos estavam fotografando o nosso bumbum. � um absurdo, n�o somos objetos.”
No �ltimo dia 19, um argelino, de 17 anos, foi detido, na Regi�o da Savassi, por esses motivos. O rapaz teria passado a m�o nos seios de uma jovem de 23 anos quando ela descia do carro, na Rua Professor Morais, Bairro Funcion�rios. O garoto foi levado ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA), no Barro Preto, e liberado horas depois.
NA VIS�O DELES
Estrangeiros ouvidos pela reportagem negaram faltar com o respeito, mas disseram achar as brasileiras mais liberais. O peruano Jorge Arewalo, de 34, por exemplo, disse que est� em BH desde o in�cio da semana e s� n�o “pegou ningu�m” em um dos dias. “As peruanas s�o mais quietas. As brasileiras s�o belas e calientes. Acho que no Peru h� um falso moralismo que aqui n�o h�”, observou. J� o argentino Gonzalo Hallonnat, de 30, disse que h� “facilidade para o beijo aqui.” “Mas temos respeito”, garantiu.
Em Curitiba, a prefeitura da cidade lan�ou uma campanha para conscientizar os homens sobre a import�ncia de respeitar as mulheres do Brasil. O slogan “N�o, significa n�o - N�o importa de onde voc� �, respeite nossas mulheres” foi traduzido para cinco idiomas.
Palavra de especialista
Marisa Sanabria - psic�loga, mestre em filosofia e coordenadora do grupo de trabalho A Quest�o do Feminino
“� uma viol�ncia”
“Existe um estere�tipo de que, em pa�ses tropicais, h� exuber�ncia e abund�ncia, e o corpo da mulher entra nesse pacote. H�, nisso, um problema social, hist�rico. H� uma imagem transmitida ao mundo de que a mulher brasileira est� dispon�vel. De alguma maneira, essa imagem camufla algumas outras quest�es do Brasil e, assim, os estrangeiros v�m atr�s da sensualidade e da possibilidade de vir e passar a m�o em alguma delas sem ser punido, como se aqui fosse um pa�s sem leis. � uma viol�ncia contra a mulher que nos leva a uma reflex�o: por que o Brasil oferece essa imagem para o exterior? O futebol � um esporte que apela para a masculinidade, e o corpo feminino entra nessa proposta. Basta ver as propagandas. Mas esse tipo de atitude dos estrangeiros n�o � uma quest�o ing�nua. Em casos extremos, pode gerar turismo sexual, abuso infantil e tantas outras coisas muito graves.”