Tiago de Holanda
De repente, ruas e pra�as come�aram a ficar coloridas com camisas e bandeiras de dezenas de pa�ses em meio ao verde-amarelo. BH virou poliglota nas ruas, nos bares e nos pontos tur�sticos. De um lado, torcedores iranianos brincavam com argentinos. De outro, gregos tiravam fotos com colombianos. Na Savassi, milhares de estrangeiros e brasileiros festejaram juntos. Uma Copa inesquec�vel para a capital, que nunca havia recebido tantos turistas de outros pa�ses. Foram quase 160 mil. Antes mesmo de o Mineir�o se despedir do torneio, no dia 8, muitos j� sentiam saudade do ar cosmopolita. Muitas foram as hist�rias e personagens memor�veis para compensar a decep��o em campo. O EM destaca momentos marcantes do Mundial.
» A Savassi foi o local de maior concentra��o de estrangeiros durante a Copa em BH, mas um grupo de torcedores colombianos optou por uma regi�o que costuma escapar aos turistas. Cerca de 40 se hospedaram no Morro do Papagaio. Eles vieram para o jogo Atl�tico x Nacional de Medell�n, pela Copa Libertadores, em maio, e decidiram ficar para o Mundial. Foram acolhidos por fam�lias do aglomerado e venderam bijuterias para pagar a estada de R$ 500 por m�s. 
» O engenheiro mec�nico equatoriano Ernesto Veintimilla, de 31 anos, e o bi�logo Andr�s Verdezoto, de 30, moram em Loja, na fronteira de seu pa�s com o Peru. A dupla fez um pitstop em BH antes de seguir para o Rio de Janeiro. Os dois pedalaram 7,3 mil quil�metros, sem cansa�o. Em 23 de junho, j� haviam percorrido quase 100km por dia desde 28 de mar�o, depois de passar pela costa peruana, a Cordilheira dos Andes, Cuzco e o Lago Titicaca, at� chegar ao Brasil.
» Ares do Bairro La Boca, em Buenos Aires, na Argentina, para a Pra�a da Savassi. Os irm�os Luan Diego Huerga, de 24 anos, e Araceli (foto), de 22, vestiram o figurino e dan�aram um tango no point da Regi�o Centro-Sul que mais recebeu turistas em BH. Eles encantaram visitantes com os passos da dan�a que mescla drama, paix�o e sensualidade. Atra�ram tantos olhares que provavelmente conquistaram o objetivo: assistir ao jogo da Argentina no Mineir�o. “Dan�amos juntos desde crian�a, quando eu tinha 10 anos e Araceli, 8. Amamos o tango”, contou Juan.
Bate e volta chin�s
» O chin�s Zhang Weig, de 43 anos, chegou a Belo Horizonte em 26 de junho, depois de 22 horas de viagem, e voltou para o outro lado do planeta dia 30, tendo assistido somente � partida entre Brasil e Chile, no Mineir�o, durante sua passagem pelo Brasil. “Amo muito o futebol e queria ficar todo o torneio, mas n�o consegui f�rias nessa �poca. De qualquer forma, vim assistir a uma partida. Que bom ser um jogo do Brasil”, disse Zhang.
Pijama? N�o, gandourah
» Quatro argelinos vestindo a gandourah, ou kamis, traje t�pico do pa�s, chamaram a aten��o no Bairro Funcion�rios, em BH. “Eles est�o de pijama?”, perguntou o escultor S�rgio Pinto J�nior. Ao saber que se tratava de vestimenta tradicional, ficou orgulhoso. “� bom ver esse ar de globaliza��o em BH por causa da Copa”, disse. Esp�cie de t�nica, a gandourah � usada principalmente no Sul do pa�s africano, onde os term�metros passam dos 40 graus. Homens sempre vestem uma cal�a por baixo. Ahmed Mebrek, dirigente da Federa��o Argelina de Futebol, conta que a gandourah � usada pelos homens todas as sextas-feiras, dia de ora��o.
Um pr�ncipe em BH
» Foram poucas horas, mas o pr�ncipe Harry encantou os mineiros. Uma multid�o compareceu ao Minas T�nis Clube (foto), no Bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH, para ver de perto o quarto homem na linha de sucess�o ao trono brit�nico. “Impressionado, ele perguntou por que havia tanta gente, se era s� para v�-lo. Respondi que sim”, contou Luiz Gustavo Viana Lage, presidente do Minas. O motivo da visita real foi o conv�nio do clube mineiro com a British Olympic Association. O Minas vai abrigar atletas ol�mpicos e parol�mpicos da Gr�-Bretanha nos Jogos Ol�mpicos de 2016. Harry aproveitou a visita ao Brasil para ver seu time jogar pela Copa.
» A rota entre Salvador e Porto Alegre era para ter sido feita sem escalas em Minas. Mas holandeses que viajaram de �nibus para acompanhar os jogos da sele��o tiveram que mudar o cronograma quando passaram por Betim, na Grande BH. Um problema mec�nico no �nibus de dois andares, um modelo ingl�s da d�cada de 1980, fez os 10 europeus, moradores de Amsterd�, pararem na BR-381, �s margens do Bairro Jardim Teres�polis. Eles seguiram viagem pela rodovi�ria de BH e ficaram gratos pela ajuda que os betinenses deram.
Missas poliglotas
» A hospitalidade mineira foi muito al�m dos bares, restaurantes, hot�is e pontos tur�sticos. A maior tradi��o de Minas tamb�m abriu suas portas para os turistas: as igrejas. Templos promoveram, aos domingos, missas em diversos idiomas. Os estrangeiros ficaram satisfeitos e foram agradecer a Deus a oportunidade de conhecer o Brasil. As celebra��es eucar�sticas em espanhol, ingl�s, alem�o e at� em �rabe fizeram parte da programa��o especial da Arquidiocese de Belo Horizonte. Os padres foram convidados pelos p�rocos e, geralmente, foram estrangeiros que j� viviam em Minas.
Adeus ao rel�gio
» E o rel�gio da Copa tombou, na calada da noite, depois de quase tr�s anos fincado na Pra�a da Liberdade. A grande ampulheta espelhada que fez a contagem regressiva de mil dias para o in�cio do Mundial tornou-se, al�m de parte da paisagem, alvo constante dos manifestantes. Assim que o painel foi zerado, horas antes da estreia do Brasil, ele foi removido. Idealizado por Rene Salviano, empres�rio belo-horizontino que atua na �rea de marketing esportivo, o rel�gio foi levado para a sede da empresa de madrugada e, l�, ficou no ch�o.
Taxista de 4 copas
» Com o traje t�pico da Bav�ria – ele mora na cidade de Bad T�lz –, o taxista Matth�us Hammerl, de 70 anos, chamava a aten��o ontem, na Savassi. Torcedor do Bayern, o simp�tico alem�o, pai de tr�s filhas e av� de quatro netos, assistiu � sua quarta Copa do Mundo. “Fui ao Jap�o e � Coreia, em 2002, depois vi as partidas no meu pa�s, estive na �frica do Sul em 2010 e agora vim ao Brasil”, disse. Matth�us confidenciou que a melhor Copa foi a que ele n�o viu. “Foi a de 1970, no M�xico, quando o Brasil ganhou”, revelou, balan�ando um cincerro dourado, usado como guia para bois e cabras.
Inhotim encantado
» “� o melhor museu do mundo. Nunca vi algo parecido”, afirmou, admirado, o norte-americano Danny Hoenig, de 56 anos, ao conhecer o Instituto Inhotim, em Brumadinho, a 60 quil�metros de Belo Horizonte. Desde o in�cio da Copa, visitantes de mais de 20 nacionalidades passaram por l� – como as uruguaias Silvana D’Mikos e Patricia Rivero (foto). O centro de arte contempor�nea costuma receber 20% de estrangeiros entre seus visitantes por dia. Das cerca de 3 mil pessoas que foram diariamente a Inhotim na primeira semana do Mundial, 60% moravam no exterior.
Selfies de passageiros
» Do banco de tr�s do t�xi Siena de Leonardo Coimbra, de 39 anos, ingleses conheceram os bares da Savassi, colombianos viram sua Sele��o vencer pela primeira vez no Mineir�o, iranianos experimentaram quitutes do Mercado Central e argentinos viram as obras de Oscar Niemeyer na Pampulha. Com 20 anos de pra�a, Leonardo nunca tinha levado tantos estrangeiros em seu t�xi. E ele fez quest�o de registrar pelo celular cada grupo de gringos que transportou. “Falei para eles (os estrangeiros) que ia fazer um �lbum e todos concordaram em posar para a foto”, disse.