
O drama de Pai Pedro se repete em outros lugares, atingindo, sobretudo, moradores da zona rural. A situa��o � comum na �rea do semi�rido, onde 70% da �gua subterr�nea s�o considerados salobres ou salinas, com uma quantidade de sais dissolvidos (entre 0,5 e 30 gramas de sais por litro) superior � da �gua doce e inferior � do mar. De acordo com o Minist�rio do Meio Ambiente (MMA), dos 85 munic�pios do Norte de Minas, vales do Jequitinhonha e Mucuri, que est�o dentro do semi�rido, 60 apresentam len��is fre�ticos com altas concentra��es de sal.
O Governo Federal anunciou o Programa �gua Doce, para instalar dessalinizadores em 69 comunidades mineiras. Pai Pedro est� na lista. Enquanto o programa n�o chega, os moradores se viram para ter �gua doce em casa. A pr�pria prefeitura providencia a busca de �gua pot�vel em Porteirinha para o atendimento de creches e escolas e para o consumo dos funcion�rios de suas reparti��es. Comerciantes de Pai Pedro adotam o mesmo mecanismo. � o caso de Alvelina Gomes, a “Nenzinha”, dona de restaurante. Ela diz que um sobrinho busca �gua doce, de carro, a oito quil�metros de dist�ncia. “� o jeito. A que recebemos aqui n�o serve para cozinhar. S� presta para banheiro e para limpar ch�o.”
Quem n�o t�m carro para transportar �gua recorre ao “delivery” de Santos Mendes, que todas as manh�s carrega 10 tambores de 240 litros cada (total de 2,4 mil litros). “As pessoas ligam para meu celular e eu entrego.” Ele busca �gua doce em uma serra nas proximidades do seu s�tio e cobra R$ 15 por tambor. “Mas n�o vendo �gua. Cobro pelo servi�o.” despista Santos, que faz o servi�o h� 20 anos e at� melhorou de vida. “Gosto de servir o povo.” Ele fatura em torno de R$ 800 por m�s.

A biom�dica Vanessa Moraes Santos, de 31 conta que chegou a Pai Pedro recentemente e que desconhecia o problema. “Usei �gua (da tubula��o) para cozinhar, mas a comida ficou escura e com gosto ruim”, diz, acrescentando que usou a �gua salobre para dar banho no filho Adones, de 2 anos, e a crian�a teve rea��es al�rgicas nos bra�os e no cabelo.” Outra moradora que compra �gua � Geralda Neries de Souza, de 59. “Uso a salobre para lavar roupas. Mas como tem muito sal, a roupa fica dura.”
Como reconhece o pr�prio vendedor Santos Mendes, “h� pessoas em Pai Pedro que n�o t�m dinheiro para comprar �gua e, muitas vezes tem que beber salobre ou passa sede”. A aposentada Leonor Maria de Jesus, de 58 anos, caminha cerca de 500 metros e vai at� o Rio Serra Branca apanhar �gua, que carrega em tambores em um carrinho de m�o. A �gua que retira no manancial n�o tem tratamento. “Mas n�o � salgada e serve para beber.”
Conforme o secret�rio municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Pai Pedro, Hamon Ferreira de Souza, o excesso de sal na �gua subterr�nea ocorre praticamente em todo o munic�pio. A combina��o seca/�gua salobre provocou um custo adicional ao Poder P�blico. Como os po�os abertos para garantir a perman�ncia do homem no campo no munic�pio resultaram em �gua com excesso de sal, a prefeitura tem que enviar �gua doce em carro-pipa para o consumo humano.
O agricultor Jos� Mendes Silva, da localidade de S�o Sebasti�o, no munic�pio de Monte Azul, mostra uma �gua de colora��o escura retirada de um po�o. “� salobre e s� serve para o gado.” Ele apanha �gua doce no s�tio de um vizinho, que, por sua vez, recorre a um manancial de uma serra, como tamb�m faz outros moradores. “H� lugares mais isolados do munic�pio onde n�o chega o carro-pipa e as pessoas t�m que se contentar em beber �gua salobre mesmo”, revela Francisco de Assis Gon�alves (PP), vereador em Monte Azul. (Com Mateus Parreiras)
