
A aposentada Alba Ferraz Lobato, de 81 anos, est� prestes a viver pela segunda vez a ang�stia de uma desapropria��o. Vinte anos depois de deixar a casa no Bairro Fern�o Dias, Nordeste de Belo Horizonte, para dar lugar � linha 1 do metr� da capital, sua resid�ncia, que hoje fica no mesmo bairro, est� no caminho da Via 710, liga��o vi�ria prometida h� anos pela prefeitura para conectar as avenidas Cristiano Machado e dos Andradas. “Quando a mulher da prefeitura veio conversar comigo, perguntei se era persegui��o. Duas vezes? N�o � poss�vel uma coisa dessa”, reclamou. O drama se repete com outros moradores de bairros das regi�es Leste e Nordeste, que ser�o cortados pela nova obra, e � agravado pela demanda crescente de mobilidade e habita��o na capital, segundo especialistas.
Levantamento feito pelo EM em 10 obras j� conclu�das, em andamento ou que ainda n�o come�aram mostra que nos �ltimos sete anos o poder p�blico tirou de casa pelo menos 5.633 fam�lias em BH. S�o 1.097 casos de desapropria��o, quando o propriet�rio � o dono do lote e tem a situa��o regularizada, e 4.851 de remo��o, de quem ocupa �reas sem ser o dono. Ainda est� prevista a retirada de mais 4,8 mil moradias e estabelecimentos comerciais, divididos entre as obras da Via 710, da bacia de deten��o de enchentes do Bairro Calafate (Oeste), do novo terminal rodovi�rio, no Bairro S�o Gabriel (Nordeste), da reforma do Anel Rodovi�rio e da duplica��o da BR-381.
S� na Via 710, 87 fam�lias j� foram embora e 562 ainda ter�o de deixar suas casas, num total de 649. A estimativa da prefeitura � gastar R$ 70 milh�es com a constru��o da nova avenida e R$ 75 milh�es apenas com indeniza��es a moradores, mas esse valor ainda pode ser revisado por causa de disputas judiciais.
Dona Alba lembra que, em 1994, recebeu R$ 38 mil pela casa pr�pria na Rua Professor Amaro Xisto de Queiroz, no Bairro Fern�o Dias. Com o dinheiro, comprou a casa onde vive atualmente, na Rua Dnar Mendes Ferreira, no mesmo bairro, s� que do outro lado da linha f�rrea.
O valor da nova desapropria��o est� sendo discutido na Justi�a. “Vou me mudar para Juatuba (Grande BH). Tenho 81 anos e cansei de ser desapropriada. Belo Horizonte est� muito dif�cil. Sou vi�va e sempre fiz tudo sozinha, com muita garra. Comprei a casa, constru� o segundo andar, pago os impostos caros e ainda tenho de passar por essa ang�stia novamente”, desabafa a contadora aposentada. “Vou ter de colocar minhas coisas em um guarda-m�veis e mudar para a casa de algum parente at� receber o dinheiro”, reclama.
A dona de casa Z�lia dos Santos, de 77, e o aposentado Ant�nio Abra�o dos Santos, de 78, que moram na Rua Urutu, no Fern�o Dias, enfrentam o mesmo problema. O casal, entretanto, teve mais sorte do que dona Alba. Apenas uma parte do lote teve que ser cedida, sem necessidade de demolir a casa, constru�da por Abra�o ap�s a desapropria��o para implanta��o do metr�, em 1994. “J� passamos por esse perrengue uma vez, mas agora estamos velhos e cansados para repetir tudo. Demos sorte de poder continuar com a casa”, afirma Z�lia.
