
Hoje, C. se cobra por ter tentado durante muito tempo resolver o problema sozinha. Procurou ajuda m�dica influenciada pelo filho, um psic�logo de 32 anos, que notou as altera��es na mulher antes sensata, organizada e de p�s no ch�o. As aulas de ingl�s, marcadas pelas gargalhadas, brincadeiras e piadas, deram lugar � tristeza, � amargura e � seriedade. A professora come�ou terapia com uma psic�loga, que a indicou ao psiquiatra, dada a gravidade do caso e a necessidade de medicamentos. Foi preciso parar de trabalhar por alguns dias, at� a retomada gradual das atividades. H� quase dois anos, ela toma os mesmos rem�dios, sem altera��o de quantidade e dosagem. “Me tiraram do fundo do po�o”, relata. “As pessoas t�m respostas diferentes. Umas s� ficam deitadas, outras s� choram, e eu tive essa rea��o forte de n�o ter dire��o, n�o ter um referencial de vida”, relata.
“�s vezes, ou�o alc�olatras e drogados falarem que est�o na lama e sei o que � isso. Estive atolada at� o nariz. Consegui coloc�-lo para fora, mas ainda d�i muito. Paro, lembro, choro, mas n�o passa disso”, afirma. Por experi�ncia pr�pria, C. alerta que medicamento, sozinho, n�o faz milagre. “Ajuda 60%. O contato com o m�dico, que passa a ser seu amigo, � imprescind�vel. Ele vai te orientar no momento de confus�o, de loucura, te dar a m�o, te conduzir e mostrar as op��es dispon�veis.”
Incompreens�o
O preconceito ela tamb�m sentiu na pele, daqueles que pensam ser a depress�o pr�pria dos ociosos – ela trabalha de manh� at� o fim da noite, na escola de idiomas da qual � dona. N�o foram raras as vezes em que ouviu “conselhos” de que para melhorar bastava fazer uma faxina ou lavar roupa. “O depressivo que passa por crise forte � como um alco�latra: tenta viver um dia de cada vez. Hoje, vou tentar ter um dia legal, ser mais generosa comigo, gostar mais de mim. O que quero �, no fim do dia, ver que consegui segurar a barra sozinha, pois antes eu n�o conseguia.”
O psiquiatra Maur�cio Le�o, presidente da Associa��o Mineira de Psiquiatria, explica que, assim como ocorreu com a professora, um sintoma de depress�o � quando o doente sente que n�o corresponde a exig�ncias da sociedade, como autossufici�ncia, valoriza��o do sucesso, determina��o, pragmatismo e alegria. “Num primeiro momento, o doente tenta lutar contra isso at� por acreditar que for�a de vontade seja suficiente. Mas, aos poucos, constata que n�o. E percebe que � raro ter a liberdade de comentar sobre o problema com pessoas mais �ntimas”, diz Le�o.
“H� um fator dificultador quando mesmo pessoas pr�ximas come�am a dizer ao paciente que � bobagem, que � preciso sair de casa, trabalhar menos, praticar mais esporte. Como o depressivo est� com a vontade comprometida, n�o tem �nimo de fazer essas atividades.” Sem est�mulo dos mais pr�ximos para buscar ajuda, o rompimento com o preconceito acaba ocorrendo, muitas vezes, pelo pr�prio doente, que chega no limite do insuport�vel.
Parede A mineira D., de 37 anos, tamb�m est� em tratamento. Recentemente, ela conta ter come�ado a enxergar “problemas muito maiores do que realmente eram”, at� perceber que nada estava normal. Depois de come�ar tratamento, mudou a vis�o em rela��o ao presente e ao futuro. “A depress�o p�e uma parede e a impress�o � de n�o haver sa�da. E a verdade n�o � essa”, diz.
Antes de buscar tratamento, ela teve estresse, dissabores no trabalho e sensa��es ruins que vinham repentinamente. “� uma colis�o de v�rios problemas ao mesmo tempo que desencadeia o processo. E se voc� est� sozinha, n�o enxerga a depress�o. Come�a a cair num buraco e, se n�o tiver a fam�lia ou algu�m que se importe com voc� para ajudar, � dif�cil sair desse quadro”, conta. “O melhor da depress�o � perceber que voc� est� nela. Estresse � normal e as coisas s�o dif�ceis. Se p�r a culpa na vida e uma carga pesada nisso, fica dif�cil. Conseguir enxergar al�m do muro � sua volta � fundamental.”