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Estado de Minas

Denunciar abuso sexual ainda � tabu

Presen�a e indigna��o de mulheres no Aeroporto de Congonhas, na chegada do ex-m�dico preso no Paraguai, s�o incentivo � v�tima de viol�ncia sexual sair do anonimato e denunciar o criminoso


postado em 22/08/2014 00:12 / atualizado em 22/08/2014 07:34

Valquiria Lopes

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

No momento em que as v�timas de estupro do ex-m�dico Roger Abdelmassih v�o ao aeroporto, em S�o Paulo, para receb�-lo e mostrar indigna��o com os crimes e al�vio com a pris�o do acusado no Paraguai, muitas mulheres molestadas em Belo Horizonte se calam. O homem condenado em 2010 a 278 anos de pris�o por 48 ataques a 39 mulheres chegou ontem ao Brasil e foi levado para o pres�dio de Trememb�, no interior paulista.

Por medo, constrangimento, vergonha ou dor, v�timas de abusos sexuais resistem em relatar os casos � pol�cia e guardam, sozinhas, marcas f�sicas e psicol�gicas. A estabiliza��o das ocorr�ncias de estupro em BH � reflexo dessa fragilidade. De janeiro a julho deste ano, 118 crimes foram denunciados, contra 125 no mesmo per�odo do ano passado. O total de 222 ocorr�ncias de todo o ano de 2013 tamb�m � menor que o do ano anterior, per�odo em que 293 casos chegaram � Pol�cia Civil. Segundo a delegada Silvana Fiorilo Rocha de Resende, titular da Delegacia de Mulheres da capital, muitos abusos n�o v�m � tona porque ocorrem no ambiente familiar ou pela ang�stia da v�tima, que n�o quer reviver dor.

No desembarque de Roger Abdelmassih, as mulheres que estiveram no Aeroporto de Congonhas para uma esp�cie de “purifica��o” dos dramas que sofreram, demonstraram emo��o e precisaram ficar atr�s de um cord�o de isolamento. Abdelmassih era especialista em fertiliza��o in vitro e teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina de S�o Paulo depois que as den�ncias de abuso sexual vieram � tona.

Conhecido por atender celebridades, o ex-m�dico abusava das pacientes depois de sed�-las para procedimentos de reprodu��o assistida. Foragido desde 2011, quando tentou renovar o passaporte, Abdelmassih teve a pris�o decretada, deixou de se apresentar e passou a ser procurado. O ex-m�dico passou por exames feitos por peritos do IML ainda dentro do aeroporto e seguiu para a pris�o.

Se os crimes praticados por Abdelmassih t�m repercuss�o, o mesmo n�o ocorre nos casos de v�timas isoladas, como o de T., hoje com 17 anos. Aos 14 anos ela foi estuprada pelo marido da prima em uma casa no Bairro Jaqueline, Regi�o de Venda Nova, e demorou a contar o drama � m�e. Foram duas semanas de ang�stia, sofrimento, amea�as e medo, que pareciam n�o ter fim. O constrangimento de ter sido alvo de um crime sexual tirou a paz da adolescente. Somente com a ajuda da m�e a garota conseguiu relatar o drama � pol�cia. O agressor foi intimado e a investiga��o, comprometida pela falta de provas, est� em andamento. A jovem diz que ainda guarda marcas psicol�gicas do crime. Mas passou a entender a import�ncia de ter quebrado o sil�ncio e denunciado o estuprador, mesmo sendo ele um membro da fam�lia.

“A gente fica com vergonha porque tem que contar detalhes � pol�cia. � constrangedor”, diz. Ela ressalta, entretanto, que � preciso vencer o medo e denunciar. “Quando aconteceu, eu n�o entendia a import�ncia de contar logo para a minha m�e e perdemos as provas. At� hoje, ele (o agressor) diz que sou louca e que nada aconteceu”, conta a jovem, que diz sentir raiva pelo fato de homem ter ficado sem puni��o.

Com 20 anos de experi�ncia na Delegacia de Mulheres, a delegada Silvana Fiorilo diz que a elucida��o de crimes e pris�es de agressores, como o do ex-m�dico Roger Abdelmassih, encorajam mais mulheres a enfrentar a dor e denunciar. “� doloroso porque mexe com a intimidade. Muitas mulheres n�o querem retirar a cortina desse drama e reviver tudo na presen�a do policial, do promotor ou do juiz.” Mas Silvana destaca: “Elas, talvez, n�o possam imaginar a contribui��o que d�o � sociedade ao denunciar. Com a pris�o do agressor, outras pessoas deixar�o de passar pelo mesmo drama”.

 

ONDE DENUNCIAR
Delegacia de Mulheres
Rua Aimor�s, 3.005 – Barro Preto  (31) 3291-2931
Casa de Direitos Humanos
Avenida Amazonas, 588 (atendimento 24 horas)


Casos marcantes na capital

Frentista acusado de abusar de sete adolescentes
No fim De 2011, a pol�cia prendeu o frentista Anderson Cleiton Elariedy, de 19 anos, indiciado por estupro e pelo assassinato da estudante Ludmila Fernanda Almeida Marques, de 18. Houve protestos (foto) e a divulga��o do retrato do acusado levou sete mulheres a procurar a delegacia e denunci�-lo. Entre as v�timas, adolescentes de 15, 16, 17 anos.

Sargento da PM � preso suspeito de abusar de adolescentes e mulheres
Um sargento da Orquestra Sinf�nica da PM foi denunciado pelo MP pelo estupro de sete mulheres e de tentar atacar outras duas em BH e regi�o metropolitana. V�timas relataram que eram amea�adas com faca, foice, canivete ou machadinha e eram obrigadas a entrar em um Fusca de cor clara. O militar foi preso na Academia de Pol�cia.

Ex-banc�rio suspeito de estuprar 16 mulheres

Um dos casos maior repercuss�o em Minas � do ex-banc�rio Pedro Meyer, de 57, acusado de estuprar 16 mulheres, entre 1990 e 1998. Segundo as v�timas, ele agia com arma de fogo, usava �culos escuros e bon�. Na maioria das vezes, levava as mulheres para o estacionamento ou para o �ltimo andar dos pr�dios.

Ex-juiz � preso por pedofilia
No in�cio de maio, um ex-juiz foi preso em BH suspeito de abusar de um garoto 11 anos. A v�tima foi encontrada escondida debaixo de uma cama no apartamento do homem no Bairro Santa Am�lia, na Regi�o da Pampulha. Um tio do menino se apresentou � pol�cia e disse que tamb�m era abusado pelo suspeito. M�rio Jos� Pinto Rocha, de 65, o acusado, foi condenado a 12 anos de pris�o.

� preciso preservar as provas do crime

A cria��o da Lei Maria da Penha, que trata da viol�ncia contra a mulher, foi um grande avan�o na prote��o de v�timas de crimes sexuais e puni��o dos agressores. Mas, para ser efetiva na erradica��o desse tipo de viol�ncia, a pol�cia refor�a a necessidade de que as provas t�cnicas, como s�men e marcas no corpo, sejam preservadas. De acordo com a delegada Silvana Fiorilo, a v�tima deve, logo ap�s o ataque, procurar a delegacia e denunciar o criminoso. “Ela deve ir sem tomar banho ou antes de fazer qualquer tipo de higiene.” De l�, a mulher agredida � levada a uma unidade de sa�de para passar por exames e fornecer material gen�tico que possa ajudar na identifica��o e pris�o do autor do crime.

Ainda que a mulher n�o se sinta confort�vel a seguir com o inqu�rito policial, a delegada orienta que ela deve procurar a pol�cia para registro da ocorr�ncia e para que possa ser atendida pela rede de assist�ncia a v�timas de crimes sexuais. “Com o comparecimento da v�tima, o material gen�tico poder� ser coletado e armazenado em um banco de dados para cruzamento de informa��es em caso de m�ltiplos ataques ou naqueles em que j� h� um acusado”, diz Silvana. A chamada cadeia de cust�dia, um laborat�rio que armazena as cargas gen�ticas no Instituto de Criminal�stica da Pol�cia Civil, na capital, j� contribuiu para a elucida��o de v�rios crimes, segundo a delegada.

Em BH, cinco hospitais oferecem atendimento especializado a v�timas de crimes sexuais. No Odilon Behrens, Hospital das Cl�nicas, Jo�o XXIII, Odete Valadares e no J�lia kubitschek, mulheres que foram abusadas contam com servi�os de preven��o a doen�as sexualmente transmiss�veis e acompanhamento m�dico e psicol�gico pelo tempo que for necess�rio. “O sofrimento � muito grande e se o trabalho de assist�ncia n�o for bem feito, ela pode n�o se curar da dor”, afirma a delegada.


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