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Estado de Minas

Solu��o da crise do Rio S�o Francisco n�o depende s� de chuva

Especialistas alertam que apenas a chuva, mesmo que venha com grande volume, n�o ser� capaz de devolver a vaz�o ao Velho Chico e reverter a crise que seca nascentes e afluentes


postado em 26/09/2014 06:00 / atualizado em 26/09/2014 07:11

Luiz Ribeiro, Landercy Hemerson

Pedro Ferreira
Enviado especial


Poucos quilômetros abaixo do ponto em que nasce, no Parque da Serra da Canastra, o curso d'água já exibe sinais de assoreamento. Processo de recuperação deve contemplar toda a bacia hidrográfica (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Poucos quil�metros abaixo do ponto em que nasce, no Parque da Serra da Canastra, o curso d'�gua j� exibe sinais de assoreamento. Processo de recupera��o deve contemplar toda a bacia hidrogr�fica (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

S�o Roque de Minas e Montes Claros – A estiagem que reduziu de forma dr�stica o volume do Rio S�o Francisco e pela primeira vez na hist�ria secou sua principal nascente faz com que as aten��es se voltem para o  c�u e para as previs�es da meteorologia, � espera de que a chuva chegue para salvar o Velho Chico. Por�m, especialistas alertam que nem mesmo a temporada chuvosa e um bom volume pluviom�trico ser�o suficientes para a recupera��o total, que depende do reabastecimento do len�ol fre�tico e de a��es para a revitaliza��o da bacia. Ningu�m se arrisca a prever de quanto tempo o curso d’�gua precisar� para superar a crise atual e, entre ambientalistas, h� quem chame aten��o para o fato de que o processo pode consumir anos. Sem garantias nem previs�o de que a situa��o se normalize, a C�mara Consultiva do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio S�o Francisco se re�ne hoje em Belo Horizonte para discutir medidas emergenciais, entre elas a proposta de racionamento do uso da �gua.

O bi�logo Humberto Mello, do Aqu�rio do Rio S�o Francisco, localizado no Zool�gico de Belo Horizonte, considera como um aviso o fato de a nascente do rio, na Serra da Canastra, ter secado. “As a��es preventivas n�o devem partir apenas dos governos, mas de toda a sociedade. H� v�rios trechos do S�o Francisco em que � urgente a recomposi��o da mata ciliar. � importante que ribeirinhos preservem a vegeta��o, para evitar o assoreamento do curso fluvial”, explicou, acrescentando que os ciclos da vida dos rios podem exigir at� uma d�cada para que a vaz�o se recupere.


O ambientalista Apolo Heringer Lisboa, coordenador do Projeto Manuelz�o, ligado � UFMG, lembra que percebeu a redu��o do volume do S�o Francisco desde julho do ano passado, quando percorreu toda a extens�o da nascente at� a foz (2.700 quil�metros), em trabalho de pesquisa. Para ele, mesmo que o pr�ximo per�odo chuvoso seja intenso, o rio n�o deve recuperar o volume normal, j� que o problema do secamento das nascentes est� relacionado � redu��o do len�ol fre�tico.

Apolo explica que grande parte da �gua que garante a recarga das nascentes do Velho Chico vem do Aqu�fero Urucuia, que abrange o estado de Goi�s. “A atividade intensa do agroneg�cio, que usa po�os profundos para capta��o, diminuiu a vaz�o, que era mantida h� milh�es de anos. Assim, mesmo se chover muito agora, n�o ser� poss�vel repor o estoque perdido do subsolo”, afirma o especialista, lembrando que 75% do volume retirado vai para a irriga��o. “Se chover forte, o que vai ocorrer � que a �gua vai cair e n�o vai se infiltrar no solo, que est� impermeabilizado pelo desmatamento”, comenta o coordenador do Manuelz�o, que cobra estudos que mostrem como a capta��o subterr�nea vem afetando a disponibilidade de �guas superficiais na bacia.

Veredas

A professora Raquel In�s Castro, do Departamento de Geoci�ncias da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), ressalta que o trabalho de revitaliza��o do S�o Francisco n�o passa apenas pela recupera��o do leito principal, mas de todos os afluentes, o que pode levar anos. Ela conta que, em trabalho recente, constatou a destrui��o de veredas – �reas de nascentes – no munic�pio de Buritizeiro, perto do Rio S�o Francisco. “As veredas funcionam como reservat�rio para a bacia hidrogr�fica. Por isso, precisam ser preservadas”, observou.

Com o agravamento da seca que afeta nascentes ao longo de todo o curso, a secret�ria do Comit� da Bacia do S�o Francisco, Silvia Fredman, afirma que a determina��o da C�mara Consultiva do �rg�o, que tem 30 integrantes, � adotar todas as medidas no sentido de dar prioridade ao abastecimento humano e � manuten��o de animais nas comunidades ribeirinhas, enquanto persistir o per�odo cr�tico da estiagem. Ela lembra que a��es no territ�rio mineiro s�o de fundamental import�ncia para toda bacia, pois, dos 504 munic�pios alcan�ados pelo S�o Francisco, 240 est�o em Minas, estado que responde por 72% das �guas da bacia.

No encontro de hoje em BH, o comit� vai discutir a portas fechadas medidas para minimizar os efeitos da seca, a��es voltadas para a revitaliza��o da bacia e para o aumento da quantidade e da qualidade da �gua. Caso haja op��o por racionamento, a decis�o deve ser comunicada � Ag�ncia Nacional de �guas (ANA), que ser� a respons�vel por implementar a medida, j� que trata-se de um rio federal. Todos os usu�rios que t�m outorgas ao longo do leito seria afetados, entre fazendeiros, ind�strias e projetos de irriga��o, como o Pirapora e o Ja�ba, no Norte de Minas, onde os agricultores j� enfrentam problemas.

Ontem o governo de Minas, por meio de nota, salientou que as a��es na calha do Velho Chico s�o de dom�nio da Uni�o, mas informou que em 2013 o Sistema Estadual de Meio Ambiente investiu, em parceria com comit�s de sub-bacias, cerca de R$ 1,2 milh�o em projetos de melhoria da quantidade e da qualidade da �gua. Tamb�m informou ter aplicado cerca de R$ 1, 5 bilh�o, entre 2003 e 2014, na revitaliza��o do Rio das Velhas, o principal afluente da bacia. O texto acrescenta que n�o h� racionamento em cidades atendidas pela Copasa na Bacia do S�o Francisco e que os produtores do Projeto Ja�ba foram orientados a adotar economia e irrigar apenas o indispens�vel.

Em vez de �gua, barro pisoteado


Do lugar onde nasceu h� 50 anos, o produtor rural Adilson Rafael Almeida observa a beleza, n�o t�o exuberante como antes, da Cachoeira Casca D’Anta, onde o Rio S�o Francisco d� um salto de 186 metros, 16 quil�metros depois da nascente, no Parque Nacional da Serra da Canastra, em S�o Roque de Minas, Centro-Oeste do estado. Embora a fonte principal do rio tenha secado pela primeira vez na hist�ria, outros mananciais e afluentes ainda garantem que o Velho Chico se mantenha correndo, mesmo que com volume reduzido. Mas Adilson n�o tem esse privil�gio no c�rrego que corta suas terras.

O agricultor se entristece ao olhar o riacho onde o gado matava a sede, que secou h� um m�s. “O c�rrego corria o ano inteiro, at� mesmo na seca”, disse. A propriedade fica a 2 mil metros da cachoeira onde o S�o Francisco ganha impulso para percorrer 2,7 mil quil�metros at� chegar ao Atl�ntico. “Onde os bois tomavam �gua, agora � s� atoleiro. O gado tem que andar mais para matar a sede”, lamentou ele. “Estou preocupado como vai ser daqui a uns 10 anos. Aqui tinha um monte de nascentes com matas em volta, mas o fogo queimou tudo”, disse.

A preocupa��o de Adilson � tanta que nos �ltimos inc�ndios florestais ele ficou at� de madrugada, com outros sitiantes, apagando o fogo. “Engoli muita fuma�a, mas valeu a pena. Conseguimos salvar tr�s nascentes nessa terra em que me criei”, disse.

 

 


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