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Estado de Minas

Problemas de abastecimento eram comuns para parte de BH at� a d�cada de 1970

Boa parte da popula��o de BH, at� a d�cada de 1970, sofria com o abastecimento quando foi inaugurado o sistema Rio das Velhas, em Nova Lima


postado em 18/10/2014 06:00 / atualizado em 18/10/2014 08:23

Com a cidade ao fundo, menino equilibra lata d'água em outubro de 1963: abastecimento precário também aumentava risco de doenças(foto: O Cruzeiro/EM/Arquivo)
Com a cidade ao fundo, menino equilibra lata d'�gua em outubro de 1963: abastecimento prec�rio tamb�m aumentava risco de doen�as (foto: O Cruzeiro/EM/Arquivo)
O sol de fim de tarde mais parece uma bola de fogo boiando no azul, fuma�a e fuligem tomam conta do ar e nascentes desaparecem a olhos vistos, minguando e virando terra seca. Outubro mergulha Minas Gerais numa bolha de calor e a popula��o nunca pediu tanto aos c�us para que chegassem logo as desejadas chuvas da primavera. Prestes a completar 117 anos de hist�ria – a data comemorativa do anivers�rio � em 12 de dezembro –, BH n�o sofre com racionamento de �gua, ao contr�rio de cidades do interior, mas a longa estiagem traz � tona um tempo, que durou at� meados da d�cada de 1970, em que �gua encanada era artigo de luxo e buscar o “precioso l�quido” nas bicas e c�rregos era pr�tica comum das fam�lias.


“A cidade foi inaugurada sem contar com servi�os b�sicos de abastecimento de �gua e tratamento de esgoto. Tal situa��o gerava uma s�rie de problemas de sa�de p�blica, com a prolifera��o de doen�as, entre elas, esquistossomose e gastroenterite”, diz o historiador Yuri Mello Mesquita, autor da disserta��o de mestrado Jardim de asfalto: �gua, meio ambiente, canaliza��o e as pol�ticas p�blicas de saneamento b�sico em BH.

“As condi��es sanit�rias, naquela �poca, eram muito ruins, e a falta de �gua impedia a higiene correta e tamb�m que os alimentos fossem bem lavados. Nas d�cadas de 1950 e 1960, houve um n�mero elevado de casos de gastroenterite. A cidade crescia, constru�am-se moradias, mas o sistema sanit�rio n�o acompanhava a explos�o demogr�fica”, diz Yuri, que atua como diretor do Arquivo P�blico da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), vinculado � Funda��o Municipal de Cultura.

 

O pior mesmo era o desespero de parte da popula��o para conseguir �gua. Sem o abastecimento, moradores se viravam como podiam, enchendo baldes, latas e outros vasilhames at� mesmo em c�rregos polu�dos, nos quais o esgoto era despejado diretamente. Fotos do arquivo do Estado de Minas mostram fam�lias inteiras na fila para garantir sua parte, aglomeradas diante de torneiras em pra�a p�blica ou caminhando com rodilhas na cabe�a, como se acompanhassem o ritmo do velho samba: Lata d'�gua na cabe�a/L� vai Maria, l� vai Maria/Sobe o morro e n�o se cansa/Pela m�o leva a crian�a/L� vai Maria…

Quem viveu aqueles anos dif�ceis torce para que a hist�ria n�o se repita. Com quatro d�cadas de experi�ncia na �rea de saneamento, o engenheiro e professor universit�rio Vandeir Rodrigues Ferreira, de 64 anos, morador do Bairro Nova Vista, na Regi�o Leste da capital, lembra bem da cisterna na casa do seu pai e das mulheres pegando �gua para lavar roupas. “O problema era t�o grave, que o prefeito Jorge Carone (gest�o de 1963 a 1965) ganhou a elei��o prometendo resolver a quest�o de abastecimento. O cartaz da campanha dele tinha uma torneira jorrando �gua”, diz Vandeir.

Multidão com latas d'água à espera do
Multid�o com latas d'�gua � espera do "precioso l�quido" no Bairro Santa Tereza, na Regi�o Leste (foto: O Cruzeiro/EM/Arquivo)
Caminh�es-pipa Como recurso, entravam em a��o os caminh�es-pipa, embora a frota n�o fosse suficiente para suprir a demanda. Muita gente, ent�o, come�ou a dar o popular “jeitinho” para ser atendido na frente dos outros, fomentando, assim, o com�rcio irregular. Isso mediante pagamento de propinas aos motoristas, que enchiam primeiro as caixas-d’�guas ou latas de quem “molhasse” a sua m�o. “At� meados da d�cada de 1970, o fornecimento de �gua aos belo-horizontinos representou um dos maiores problemas para a prefeitura”, lembra Yuri.

Mesmo com a situa��o de falta de �gua na torneira, a popula��o n�o perdia o bom humor. E mostrou isso, no fim da d�cada de 1950, quando foi anunciada a constru��o de uma adutora. O sistema era anunciado como “obra do s�culo”, mas, como os servi�os estavam sempre atrasados, acabaram ganhado o nome de “obra dos 100 anos”, conta o historiador.

 

 

A situa��o come�ou a melhorar em 1973, com a inaugura��o do Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima, na Grande BH. Aquele ano, sem d�vida, entrou nessa trajet�ria como divisor de �guas. Tamb�m em 1973, o governo estadual criou a Companhia Mineira de �gua e Esgotos (Comag), que deu origem � Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), enquanto o governo federal implantou o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), definindo metas a serem alcan�adas pelo pa�s na �rea de saneamento e destinando recursos para a execu��o dessa pol�tica. Em 1974, pela lei 6.475, de 14 de novembro, a Copasa entrava em opera��o.

Com a atual onda de calor e falta de �gua, Yuri ressalta que o problema � mundial. “� preciso acabar com o desperd�cio de �gua e preservar os recursos naturais, principalmente as matas ciliares de c�rregos, ribeir�es e rios”, afirma.

Caminhão-pipa entra em ação para socorrer duas mulheres de sais rodada em 15 de julho de 1964(foto: O Cruzeiro/EM/Arquivo)
Caminh�o-pipa entra em a��o para socorrer duas mulheres de sais rodada em 15 de julho de 1964 (foto: O Cruzeiro/EM/Arquivo)

LINHA DO TEMPO

1897 – Em 12 de dezembro, a capital mineira � inaugurada sem ter ainda servi�os b�sicos como fornecimento de �gua e rede de esgoto

D�cada de 1970 – Do in�cio da funda��o da capital a meados dos anos 1970, buscar �gua na lata em bicas, c�rregos e nascentes fazia parte do cotidiano das fam�lias belo-horizontinas

1973 – Cria��o, pelo governo estadual, da Companhia Mineira de �gua e Esgotos (Comag), que deu origem � Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)

1973 –Governo federal cria o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), definindo metas a serem alcan�adas na �rea de saneamento e destinando recursos para essa pol�tica

1973 – Departamento Municipal de �guas e Esgoto (Demae), ent�o encarregado do saneamento em BH, adere � Comag e se beneficia dos recursos federais do Planasa.

1973 – Inaugurada o Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima, na Grande BH, que come�a a resolver o problema de falta de �gua na cidade

1974 –Pela lei 6.475, de 14 de novembro, Comag passa por modifica��es e se torna Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)


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