
A seca que reduziu a vaz�o do Rio das Velhas em 50% abaixo do previsto para esta �poca do ano chegou a obrigar a Copasa a ampliar sua capta��o em cerca de 8,5% para manter o abastecimento de Belo Horizonte e da Grande BH. O volume normal, de 15 mil litros por segundo, foi ampliado pela concession�ria primeiramente em 717,6 (+5%) nas capta��es regulares, e precisou receber outros 500 (+3,5%) de reservat�rios da mineradora Anglogold Ashanti, como as lagoas dos Ingleses, Miguel�o e Codornas, suspensos ontem, devido � previs�o de chuvas.
Mas nem toda essa opera��o e as campanhas educativas da Copasa, com alertas como “se n�o poupar, vai faltar” e “para n�o racionar vai ter de economizar”, t�m sido suficientes para impedir cenas de desperd�cio na capital mineira. A Copasa afirma que n�o tem atribui��o legal para multar o desperd�cio, dependendo de lei espec�fica, mas BH j� teve, em seus prim�rdios, instrumentos legais para coibir o desperd�cio, punindo o bolso do consumidor.
Lavajatos submergem ve�culos em rolos que lan�am �gua para todos os lados. No Sion, o rastro de �gua desperdi�ada, que desce pelas laterais das ruas, leva at� porteiros e faxineiras de pr�dios que usam mangueiras de alta press�o como se fossem vassouras e rodos, para facilitar a limpeza das portarias e irriga��o dos jardins. “� um absurdo isso. O certo � usar um balde, pano �mido. Para n�o dizer a �gua das chuvas”, disse uma moradora da vizinhan�a, a nutricionista Tatiana Rubens, de 31 anos, que conta ser frequente esse tipo de atitude nas resid�ncias e condom�nios pr�ximos.
A capital mineira j� teve duas legisla��es que previam multa para quem gastava �gua com desleixo, em 1908 e em 1948, ambas suspensas ap�s a Copasa assumir o abastecimento. Ainda tramitam na C�mara Municipal outras tr�s leis, que, desde 2009, esperam aprecia��o para definir sistemas mais eficientes de consumo em edifica��es e atividades econ�micas.
A primeira lei contra o desperd�cio foi promulgada h� 106 anos, pelo ent�o prefeito Benjamin Jacob, e estava dentro de um texto que previa uma s�rie de outras autua��es para procedimentos diversos. Era no segundo artigo que a lei tentava promover a economia de �gua, mesmo sem ser muito espec�fica. “Fica o prefeito autorizado a estabelecer multas at� 50 mil r�is para os casos provados de desperd�cio de �gua, tanto na zona urbana como na suburbana, podendo em caso de reincid�ncia ser a multa elevada a 100$000”, dizia a legisla��o, que s� foi revogada em 1993.
J� a �ltima lei que tentou disciplinar o consumo de recursos h�dricos na capital foi publicada 40 anos depois e logo em sua justificativa descrevia uma situa��o grave de desabastecimento que a capital enfrentava. “Tendo em vista a escassez de �gua e, afim de evitar o desperd�cio, fica criada uma taxa especial para prevalecer no decurso de dois anos”, come�a o texto, que define como desperd�cio todo aquele consumidor que usasse �gua acima da m�dia do ano anterior. A taxa cobrada sobre quem gastava demais era de dois cruzeiros por mil litros ou fra��o, e era cobrada juntamente com a taxa de �gua. Essa lei, sancionada pelo ent�o prefeito Otac�lio Negr�o de Lima, foi revogada tamb�m no ano de 1993.
INEVIT�VEL O racionamento e a cobran�a pelo desperd�cio s�o uma quest�o de tempo na opini�o do bi�logo e professor do Laborat�rio de Gest�o Ambiental de Reservat�rios (LGAR) da UFMG Ricardo Motta Pinto Coelho. “Se algo n�o for feito em breve, o colapso no abastecimento ser� inevit�vel. O uso racional da �gua pode prevenir isso, mas n�o descarto a necessidade de a��es como racionamento ou cobran�a pelo abuso no consumo e desperd�cio. Nossas outorgas est�o acima do volume que os mananciais suportam por n�o preverem a seca e a degrada��o”, afirma o especialista.
O ambientalista e idealizador do Projeto Manuelz�o, de conserva��o do Rio das Velhas, Apolo Heringer Lisboa tamb�m avalia que medidas mais severas sejam necess�rias em breve. “N�o foram feitas a��es de conserva��o dos mananciais, a revitaliza��o do Rio S�o Francisco, por exemplo, traria mais qualidade e quantidade de �gua a bacias que abastecem a Grande BH.”
Leis que n�o saem do papel
A chegada de uma massa polar no estado j� contribuiu para um clima ameno na capital e interior e melhora a qualidade do ar, com eleva��o da umidade. Depois da marca recorde do ano de 36,6°C em Belo Horizonte, no domingo, ontem a m�xima foi de 31,6°C. O meteorologista Ruibran dos Reis, do ClimaTempo, explica que a chuva de baixa intensidade na noite anterior e madrugada reduziu a temperatura m�xima na capital, que pode cair mais at� o fim de semana, chegando a 28°C. Em Minas, quem mora nas regi�es Norte e Noroeste ainda enfrenta hoje e amanh� forte calor. Ontem, a m�xima no estado foi de 40,8°C em S�o Rom�o, no Norte.
“Entre amanh� (hoje) e quinta-feira vai chover em boa parte do estado. Em BH, desde julho n�o chove continuamente. E assim vai prevalecer at� dezembro. Antes disso, ser�o chuvas de baixa e m�dia intensidade, em �reas isoladas. Mas a chegada da massa fria e outros sistemas vindos do Oceano Atl�ntico v�o amenizar o calor, que, nos �ltimos dias, bateu recordes hist�ricos, como os 41,6° C registrados em Ituiutaba e Campina verde, no Tri�ngulo”, analisou Reis.
O meteorologista prev� que no decorrer da semana a temperatura na Regi�o Central varie entre 18° e 28°C. Segundo ele, no domingo, quando ocorre a vota��o do segundo turno para elei��o da Presid�ncia da Rep�blica, apesar de algumas nuvens, n�o vai chover. No Sul de Minas podem-se registrar m�nimas de 12°C, com m�xima de 36°C. No Tri�ngulo, depois de m�xima acima de 41°C, com a estabiliza��o da massa fria, os term�metros n�o devem passar dos 34°C.
Para Ruibran, as chuvas nos pr�ximos dias n�o ser�o suficientes para reverter os efeitos da seca nos mananciais dos principais rios e nem recompor reservat�rios. O maior volume de chuvas, segundo ele, ser� em dezembro com 30% a mais que a m�dia para o per�odo no Noroeste, Zona da Mata e Regi�o Central. Em janeiro, as regi�es Oeste, Sul e Tri�ngulo Mineiro ter�o 15% a mais da m�dia de chuva. “Para recuperar o baixo n�vel dos rios e represas seriam necess�rias tr�s esta��es chuvosas. No pr�ximo ano, fevereiro e mar�o ser� de pouca chuva, a exemplo do que ocorreu este ano”.
CALOR INTENSO Estudos cient�ficos mostram que a temperatura do ar em Minas, especialmente em BH, vem subindo nos �ltimos 100 anos. “No passado, as pessoas vinha � capital cuidar da sa�de porque o clima era frio e �mido. Depois da d�cada de 1980 houve um aumento significativo da temperatura do ar e queda da umidade relativa. Neste m�s, a umidade relativa chegou a 13%”, assinala Ruibran.
As temperaturas desde janeiro est�o ligeiramente acima da m�dia hist�rica. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudan�as Clim�ticas (IPCC), no relat�rio de 2007, as atividades antropog�nicas s�o as respons�veis pela eleva��o do calor no planeta. Nos �ltimos 100 anos a temperatura da Terra subiu em torno de 0,8 graus. As coletas de dados em BH come�aram em 1912 e a menor temperatura observada foi em 1979, de 3,1°C no m�s de junho. Nos �ltimos anos 20 anos a m�nima n�o ficou abaixo de 8°C. Nas d�cadas de 1920, 30, 40 e 50, as m�ximas na capital eram em torno de 34°C. O recorde � de 37,1°C, em outubro de 2012.