
Os caminhos de tr�s monumentos simb�licos de Minas se cruzam este ano, embora sejam de regi�es diferentes, �pocas distintas e atividades bem distantes umas da outras. Em tombamento recente, o Conselho Estadual do Patrim�nio Cultural (Conep) aprovou, por unanimidade, a prote��o do conjunto arquitet�nico, paisag�stico e ferrovi�rio de Ribeir�o Vermelho, no Sul de Minas; do conjunto arquitet�nico da Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga, na Zona da Mata; e do conjunto arquitet�nico, paisag�stico e arqueol�gico do Col�gio Dom Bosco, antigo Quartel do Regime de Cavalaria de Minas, localizado em Cachoeira do Campo, Ouro Preto, na Regi�o Central.
A iniciativa coroa antigas aspira��es dos defensores do patrim�nio cultural. Segundo o presidente do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG), Fernando Cabral, concluir um processo de tombamento significa que o bem cultural foi estudado e pesquisado detalhadamente at� se submeter � vota��o dos integrantes do conselho. “Quando a equipe t�cnica do instituto come�a as pesquisas hist�ricas, � porque a constru��o j� est� pedindo socorro. Entre agosto de setembro, os tr�s conjuntos receberam a prote��o de natureza material, mas � importante ressaltar que o verdadeiro protetor da mem�ria cultural � o cidad�o”, diz o dirigente.
Quem passa na Rodovia dos Inconfidentes, no sentido Ouro Preto, pode contemplar o Col�gio Dom Bosco, hoje Centro Dom Bosco, cujo port�o fica a poucos metros da estrada. Mas, para contempl�-lo melhor, � preciso conhecer um pouco mais da sua hist�ria. O antigo Quartel do Regimento de Cavalaria das Minas Gerais tem sua escalada ligada a um longo processo de especializa��o dos militares da regi�o das lavras, que se iniciou em 1719, com a chegada a Vila Rica, atual Ouro Preto, dos Drag�es d’El Rey, divididos em duas companhias recrutadas em Portugal. A regi�o � rica em hist�ria, pois foi palco da Guerra dos Emboabas, no in�cio do s�culo 18, e das andan�as de Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), m�rtir da Inconfid�ncia Mineira.
Segundo pesquisa do Iepha, o conjunto teve v�rios usos desde sua implanta��o: Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais (1779); Estabelecimento das Manadas Reais (Coudelaria Real, 1819); Col�nia Agr�cola Dom Pedro II/Ces�rio Alvim (1889); Col�gio Dom Bosco (de 1897 a 1997); e, desde 2012, local parar abrigar trabalhadores da regi�o. Documento da institui��o mostra que “al�m de seu grande valor hist�rico adquirido ao longo do tempo, as edifica��es preservam t�cnicas construtivas e estilos caracter�sticos de v�rias �pocas”. De acordo com t�cnicos encarregados do dossi� de tombamento, o conjunto do antigo Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais � composto de um pr�dio principal, mausol�u, moradia do caseiro, curral, serraria e resid�ncia. O tombamento deixou satisfeitos os integrantes do movimento “O Dom Bosco � nosso”, entre eles o professor Jos� Augusto Concei��o. “A medida impede a dilapida��o do patrim�nio e especula��o imobili�ria”, afirmou. A �rea e benfeitorias pertencem � Inspetoria S�o Jo�o Bosco, da Congrega��o dos Salesianos.

Rotunda �s margens do Rio Grande, no Sul de Minas, encontra-se o que muitos consideram o “Coliseu mineiro”, tal o seu formato, beleza e hist�ria. Trata-se do conjunto arquitet�nico, paisag�stico e ferrovi�rio de Ribeir�o Vermelho, de propriedade municipal, que tem como destaque a rotunda, a maior da Am�rica Latina e maior edifica��o do g�nero de Minas no s�culo 19. Na �poca, de acordo com os estudiosos, a cidade era ponto estrat�gico, permitindo que o movimentado porto do Rio Grande, na cidade, se integrasse aos trilhos da estrada e garantisse a comercializa��o de produtos de todos os cantos.
Com estrutura met�lica no telhado, que cont�m a parte central vazada, a rotunda funcionava como local de abrigo, manuten��o e manobras de locomotivas, apresentando ao centro um dispositivo, chamado de girador de locomotivas, de onde irradiavam as linhas (como se fossem raios de um c�rculo).
Ribeir�o Vermelho nasceu na conflu�ncia das regi�es montanhosas dos Campos das Vertentes, Sul e Centro-Oeste de Minas, a partir do desmembramento pol�tico-administrativo dos munic�pios de Lavras e Perd�es. De acordo com pesquisas de M�rcio Salviano Vilela, o in�cio de sua forma��o hist�rica se deu em 18/12/1880, com a inaugura��o da Navega��o do Rio Grande, entre a barra do Ribeir�o Vermelho, afluente da margem esquerda do Rio Grande, e a Cachoeira da Bocaina, no munic�pio de Piumh�. A organiza��o da navega��o e o com�rcio �s margens do rio levaram � forma��o de um povoado que se chamou inicialmente Porto Alegre.

Caf� e novela Localizada na divisa de Minas e Rio de Janeiro, mais exatamente entre o Caminho Novo e o Caminho Velho da Estrada Real e �s margens do Rio Preto, a imponente Fazenda Santa Clara j� foi at� cen�rio de novela da tev�, contando a saga de imigrantes italianos. Nos �ureos tempos, a propriedade particular foi grande produtora de caf� e teve centenas de escravos. Segundo o Iepha, a �rea tombada compreende o conjunto constitu�do pela sede e demais constru��es destinadas �s atividades produtivas. Os t�cnicos do patrim�nio estadual informam que o conjunto preserva sua t�cnica construtiva original – a antiga senzala, o silo, o reservat�rio d’�gua, o lavador de caf�, os terreiros de caf�, latic�nio, o paiol, a pocilga e o agenciamento do n�cleo, incluindo os jardins. Uma curiosidade � que s�o 365 janelas – portanto, uma para cada dia do ano.
Guia de bens tombados
Uma ferramenta para pesquisas, fiscaliza��o e maior conhecimento dos tesouros de Minas. O Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG) acaba de lan�ar a segunda edi��o do Guia de Bens Tombados de Minas Gerais, obra que apresenta os trabalhos da institui��o em benef�cio da preserva��o do patrim�nio cultural. Na publica��o, com textos e fotos, est�o 134 monumentos de 132 cidades mineiras, incluindo igrejas, fazendas, casar�es, conjuntos arquitet�nicos, paisag�sticos, centros hist�ricos e arqueol�gicos. Os textos foram escritos pela equipe do Iepha, que recorreu aos estudos e processos que originaram cada um dos tombamentos. A edi��o est� dividida em dois volumes, pois houve a inclus�o de novos bens, aumentando, consequentemente, o n�mero de p�ginas, que passou de 400, da primeira edi��o, para 552 nesta segunda.
Linha do tempo
1760
At� 1780, � constru�da a Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga, na Zona da Mata
1779
Come�a a funcionar, em Cachoeira do Campo, Ouro Preto, o Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, seguindo-se o estabelecimento das manadas reais
1889
Entra em funcionamento no pr�dio do quartel, em Cachoeira do Campo, a Col�nia Agr�cola Dom Pedro II/Ces�rio Alvim e, a partir da d�cada seguinte, o Col�gio Dom Bosco (1897-1997)
1895
Constru�da a rotunda do conjunto ferrovi�rio de Ribeir�o Vermelho, que tem estrutura met�lica proveniente da Esc�cia e telhas da Fran�a
2004
Tombamento municipal do conjunto de Ribeir�o Vermelho e, dois anos depois, come�am estudos visando � prote��o estadual
2008
Ger�ncia de Patrim�nio Material do Iepha-MG coordena o levantamento hist�rico e arquitet�nico da Fazenda Santa Clara
2014
Conselho Estadual do Patrim�nio Cultural aprova tombamento do conjunto ferrovi�rio de Ribeir�o Vermelho, da Fazenda Santa Clara e do Col�gio Dom Bosco