
Reformado do Corpo de Bombeiros, Armando Mar�al da Silva, de 79 anos, se lembra com detalhes do dia em que avistou pela primeira vez Eva do Esp�rito Santo Silva, hoje com 77. Ele descia a Avenida Afonso Pena, saindo do trabalho, no 1º Batalh�o, na Rua Piau�, Bairro Funcion�rios, Centro-Sul de Belo Horizonte, quando viu, em sentido oposto, a mo�a garbosa, “um viol�ozinho bem afinado”, como ele gosta de dizer. Na esquina da Pra�a ABC, virou-se para tr�s e viu que ela mantinha o olhar em sua dire��o, at� bater o rosto em um poste. “Foi assim que come�ou nosso romance”, conta, �s gargalhadas. Foi cerca de um ano de namoro at� o grande dia, em abril de 1959, em cerim�nia em Passagem de Mariana, distrito de Mariana, na Regi�o Central do estado. Desde ent�o, s�o 55 anos de companheirismo, luta e muito respeito.
As Estat�sticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) mostram que o sonho que conduziu Eva e Mar�al ao altar est� levando os mineiros a se casar mais e mais cedo em rela��o ao restante do pa�s. Por outro lado, tamb�m est�o se divorciando mais que h� uma d�cada. De acordo com o levantamento, no ano passado 79,5% das uni�es em Minas Gerais foram entre solteiros, percentual um pouco superior ao total do Brasil, que � de 77%. Entre os casais heterossexuais, a idade mediana dos solteiros na data do casamento era de 26 anos para as mulheres e 29 anos para os homens - em n�vel nacional, � de 27 anos entre elas e 30 para eles.
Tanto no Brasil quanto em Minas Gerais, houve um aumento de dois anos na idade mediana em rela��o a 2003, para ambos os sexos. Contrariando a tese de que Minas � um retrato do pa�s, a analista do IBGE Luciene Longo atribui a situa��o mineira �s particularidades do estado. “O fato de o mineiro dar import�ncia a normas se reflete nos dados. � uma quest�o cultural. Ele ainda resiste � ideia de morar junto, simplesmente, o que explica a alta taxa de nupcialidade legal”, afirma. Esse indicador, que � a propor��o de casamentos por mil pessoas com idade acima de 15 anos, passou de 6,9 para 7,1 em uma d�cada.
Em rela��o aos div�rcios, a taxa geral de Minas tamb�m apresentou aumento entre 2003 e 2013. Era de 1,4 e passou a 2,2 div�rcios para cada 1 mil habitantes com mais de 15 anos. O tempo m�dio transcorrido entre o casamento e o div�rcio teve redu��o, pois em 2003 a dura��o dos casamentos era de 17 anos e em 2013, foi de 15, mesmo dado do Brasil como um todo. Luciene Longo observa que div�rcio e tempo de casamento est�o diretamente relacionados. “Em 2003, era preciso tempo maior para o div�rcio. Agora, com o processo direto no cart�rio, � mais �gil. Ent�o, acredito que o tempo de uni�o esteja menor, porque o div�rcio sai mais r�pido. Havia antes uma demanda reprimida, por isso, os n�meros aumentaram e come�am a se estabilizar.”
Respeito
Foi seguindo a tradi��o e o jeitinho mineiro que Eva e Mar�al ficaram juntos para o que desse e viesse. Com seis filhos, 14 netos e um bisneto, ele acredita que a descend�ncia � o esteio que impede a separa��o naquelas horas de maior raiva ou desespero. Di�logo e respeito, at� pelo mau humor do companheiro, foram sempre priorizados. “Assim fomos levando a vida. Nunca nos separamos e nunca dormimos em camas diferentes. Quando um est� falando muito, o outro sai para l�. Tivemos muitas brigas e problemas, mas sempre um reconheceu a fragilidade do outro, nunca guardando �dio nem m�goa. Resolv�amos no mesmo dia, rindo e brincando”, conta Eva.
Outro exemplo de amor duradouro � do casal de aposentados Nilza Silva de Oliveira Miranda, de 75, e Abel Miranda Neto, de 74. S�o 42 anos de uni�o e tr�s filhas. “Casamento � igual rapadura: doce, mas dura. Quando ele est� nervoso ou chato, fico calada. Reclamo no dia seguinte, quando passou”, diz Nilza. Segundo ela, a receita da felicidade inclui respeito, toler�ncia e compreens�o nas horas dif�ceis. “Tem que saber levar e entender, porque ningu�m � igual a ningu�m.” Em dois momentos dif�ceis, quando tiveram que recome�ar do zero, continuaram um ao lado do outro: “Lutamos juntos, sem reclamar, e vencemos juntos”.
Viol�ncia � mancha para juventude
Os jovens da Grande Belo Horizonte (RMBH) est�o morrendo mais, na compara��o com as regi�es metropolitanas do Sudeste, v�timas, principalmente, de homic�dios e acidentes de tr�nsito. Em 2013, a cada 100 �bitos, 15,7 foram de jovens do sexo masculino de 15 a 24 anos, que perderam a vida por causas violentas. O levantamento est� nas Estat�sticas de Registro Civil, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). O percentual � superior ao da Grande Vit�ria (14,1), S�o Paulo (7,7%) e Rio de Janeiro (6,3%).
Os n�meros do estado tamb�m chamam a aten��o. Das unidades da federa��o do Sudeste, Minas Gerais � a segunda com a maior propor��o de �bitos por causas violentas para homens (9,1%), ficando abaixo apenas do percentual do Esp�rito Santo (12,3%) e acima de S�o Paulo (7,5%) e Rio de Janeiro (6,4%). Considerando o total de mortes entre os homens por causas violentas, o estado chegou a 72,4% enquanto o �ndice no Brasil ficou em 68,5%.
Professor de direito penal da Universidade Fumec, V�tor Lanna v� na pr�tica o aumento da viol�ncia. Segundo ele, no apoio jur�dico prestado pela institui��o a comunidades carentes, h� dois anos � crescente o n�mero de processos relacionados a tr�fico de drogas e homic�dios, em regi�es reconhecidas como ponto de traficantes. Outro problema observado nessas �reas s�o os crimes passionais, em que ex-companheiros matam o atual marido ou namorado da mulher. Em um dos casos dos quais ele est� � frente, envolvendo uma gangue do Bairro Serra, dos oito r�us com idades na faixa de 20 anos, cinco j� foram assassinados.
O advogado ressalta que os casos ocorrem, principalmente, na Grande BH e em faixas de renda mais carentes, que acabam se envolvendo mais com o tr�fico. “N�o acho que seja reflexo da fragilidade na lei. Meu foco � que o problema da viol�ncia � estrutural e social. Os menores �ndices de criminalidade no mundo s�o em pa�ses com os maiores �ndices de desenvolvimento humano. � preciso saber respeitar as leis e o brasileiro ainda n�o aprendeu.”
Repress�o
O secret�rio-adjunto de Estado de Defesa Social, Robson Lucas da Silva, confirma que houve uma explos�o nos �ndices de homic�dio entre 2011 e 2013, ligada ao tr�fico de drogas. Ele afirma que a secretaria come�ou um planejamento para enfrentar o fen�meno, com identifica��o de zonas quentes e um trabalho conjunto com a Pol�cia Militar, Minist�rio P�blico e Judici�rio.
De acordo com o secret�rio, em mais de 90% dos casos coletados pela metodologia da Seds ou do IBGE, o tr�fico � o fator preponderante para dados relativos � viol�ncia. Robson Lucas afirma que este ano j� se nota estabiliza��o e redu��o dos crimes na ordem de 12% a 15%. “Tamb�m foi desenvolvida pol�tica de preven��o junto a um p�blico mais jovem, buscando a associ�-lo a atividades l�dicas e esportivas e levando a presen�a do estado a meios mais vulner�veis.”
