Em seu pr�prio carro, o promotor visitou mais de 100 casas em bairros da periferia de Uberl�ndia. “Eu vi nos processos que havia uma chance de devolver as crian�as �s fam�lias. Conversei com todas elas e fiz um acordo formal. Perguntei: ‘Voc�s querem receber a crian�a de volta?’”, disse. Muitos pais se emocionaram, segundo ele.
O segundo passo foi conversar com as pr�prias crian�as nos abrigos, para saber se elas queriam voltar para os pais. “Tivemos muito cuidado. O pai que praticou abuso sexual n�o recebeu a crian�a de volta. O pai que traficava drogas, tamb�m n�o. Mas todos eles tinham av�s, tios e tias que queriam cuidar das crian�as”, disse Jadir.
Das quase 200 crian�as e adolescentes que deixaram os abrigos, apenas 5% n�o deram certo e voltaram ou foram adotadas. As 40 crian�as e adolescentes que ainda permanecem abrigadas n�o t�m chance de retorno, pois n�o t�m v�nculos familiares.
PAIS DE PLANT�O Em Uberl�ndia, foi implantada tamb�m a “fam�lia acolhedora”, uma esp�cie de pai e m�e de plant�o, que recebem crian�as que antes teriam os abrigos como destino, acolhendo-as entre seis meses e um ano. Em alguns casos, d� t�o certo que meninos e meninas acabam sendo adotados.
No Brasil, h� 35 mil crian�as e adolescentes vivendo em abrigos, segundo o promotor, que defende que a interna��o somente deve ser excepcional e tempor�ria. “O Brasil inteiro adota a perspectiva de que o abrigo � definitivo e permanente, mas ele enfraquece os v�nculos familiares. Se voc� tira uma crian�a dos pais, com o passar do tempo � como morrer um parente. Voc� chora por um tempo e depois come�am a secar as l�grimas. E com o passar dos anos, esquece e come�a a viver. Quando a fam�lia percebe n�o ter for�as para lutar pela volta daquela crian�a, por ser muito pobre, ela retrocede. E o que ela faz? Outro filho”, conta o promotor.
Jadir Cirqueira conta que em muitos abrigos h� abusos sexuais e maus-tratos contra os jovens, abusos entre as pr�prias crian�as e �s vezes praticados por cuidadores. “N�o peguei nenhum caso expl�cito envolvendo funcion�rios aqui em Uberl�ndia, apenas de maus-tratos”, disse. Com v�rios estudos na Europa e Estados Unidos sobre o assunto, pr�mios conquistados e livros publicados, o promotor se dedicou � psicologia da crian�a e conclui que as que vivem em abrigos durante muito tempo perdem a capacidade cognitiva.
O representante do MP cita uma pesquisadora de Boston que fez resson�ncia magn�tica em 30 crian�as que viviam em abrigos e em 30 que n�o viviam. “Ela percebeu que as abrigadas tiveram perda de 10% da massa cinzenta. Ou seja, perdem a capacidade no aprendizado, de relacionamento social, pois passam a viver em grupos, em bandos. T�m um banheiro coletivo, n�o interagem, n�o arrumam a cama e n�o podem nem escolher a roupa que v�o usar. H� regras para tudo e uma forma��o religiosa muito forte, o que acaba impondo uma religi�o. No abrigo, voc� n�o tem a op��o de dizer que n�o quer alguma coisa”, resume o promotor.
Para atar os la�os
O Estado de Minas encerra hoje a s�rie “� espera de um lar”, que desde domingo revela as ang�stias de quem j� come�a a vida sonhando com o carinho familiar. A primeira reportagem mostrou que o apadrinhamento natalino � uma forma de diminuir a depress�o e ansiedade dessas crian�as e adolescentes. Na segunda-feira, o EM revelou que a separa��o pode tamb�m terminar com outro final feliz, com pais que perderam a guarda lutando para reconstituir o ambiente familiar. Na ter�a, o tema foi o desafio dos jovens que precisam deixar os abrigos ao atingir 18 anos. Ontem, a pen�ltima reportagem contou as hist�rias de crian�as e adolescentes que foram adotados por seus padrinhos afetivos.