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Estado de Minas

Produtores de blocos e Belotur cobram lei para regulamentar o carnaval em BH

BH d� li��es para os pr�ximos anos com uma festa de rua hist�rica, que mostrou a for�a dos blocos como manifesta��o espont�nea e atraiu 1,3 milh�o de foli�es. Debate agora � a cria��o de uma lei espec�fica para garantir ocupa��o democr�tica e tr�nsito mais bem organizado


postado em 19/02/2015 06:00 / atualizado em 19/02/2015 08:19

Manjericão foi um dos blocos que encerraram a folia arrastando multidão para as ruas da capital nessa quarta(foto: EDESIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)
Manjeric�o foi um dos blocos que encerraram a folia arrastando multid�o para as ruas da capital nessa quarta (foto: EDESIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

A voz das ruas pede passagem. O tamanho das aglomera��es de pessoas este ano em Belo Horizonte revirou os gabinetes do poder p�blico e surpreendeu produtores independentes. O carnaval levou para ruas e avenidas um p�blico 30% superior ao do ano passado, com 1,3 milh�o de pessoas, segundo estimativas preliminares da prefeitura. Nos �ltimos dois anos, simplesmente triplicou de dimens�o. Assim, deixa li��es de um carnaval popular, espont�neo e democr�tico. E dadas as propor��es tomadas, li��es tamb�m do que esperar para os pr�ximos anos. Nessa quarta-feira, enquanto foli�es ainda se despediam da farra embalados pelo ritmo dos blocos do Manjeric�o, no Bairro Serra, na Regi�o Centro-Sul, e I wanna love you, no Sagrada Fam�lia, Leste de BH, produtores e a pr�pria Belotur defendiam mais organiza��o, ao cobrar uma lei espec�fica para os festejos de Momo: sem amarras, pronta para garantir a seguran�a da popula��o e, acima de tudo, capaz de manter esse aut�ntico carnaval da cidade.

A ideia � criar urgentemente uma legisla��o para regulamentar a festa. Um dos pontos � deixar claro o conceito de bloco. “Trata-se de uma manifesta��o espont�nea, n�o pode ser confundido com evento, que precisa de licen�a pr�via”, defende o presidente da Belotur, Mauro Werkema, lembrando o impasse causado pelo Corpo de Bombeiros, que n�o queria autorizar a passagem do Baianas Ozadas, na segunda-feira, atrasando em tr�s horas a sa�da do bloco que arrastou 100 mil foli�es. Ele prop�e ainda a amplia��o do cadastramento dos blocos com algumas informa��es extras para aprimorar o planejamento da BHTrans e da Pol�cia Militar, al�m do comprometimento dos coletivos em rela��o ao planejamento geral, em fun��o da dimens�o que a folia tomou. Come�ar no hor�rio marcado e seguir o percurso determinado s�o recomenda��es para evitar problemas de tr�nsito e de seguran�a.

“N�o queremos burocratizar nem mudar nada. N�o falo em lei para proibir, mas para adequar a realidade de agora. A inten��o � ampliar o di�logo e a integra��o para modernizar e refinar o planejamento em todos os seus aspectos. A caracter�stica desse carnaval � ser espont�neo e isso n�o vai mudar”, esclarece Werkema. Para ele, a festa em BH est� atraindo tanta gente por ser de rua, aberta, familiar, de gra�a e segura. “N�o vamos baianizar o carnaval da capital, com trio el�trico e artista em cima, cordas com abad�s, discriminando quem n�o pode pagar”, ressalta. Entre os pontos a serem melhorados, ele destaca a necessidade de maior efetivo da PM. Segundo ele, j� come�a hoje o planejamento para o carnaval do ano que vem, para haver tempo h�bil de corrigir erros e imprecis�es.

Andr� Leal Medeiros, do Bloco Alcova Libertina, aponta a grande li��o de 2015: “N�o d� mais para as autoridades negarem o que est� acontecendo em BH. � preciso di�logo”. Para o produtor, � um absurdo que pra�as estejam cercadas e o Ribeir�o Arrudas sem prote��o – o Alcova Libertina arrastou mais de 50 mil pessoas, no domingo, �s margens do curso d’�gua. Andr� lamenta tamb�m o show “encerrado na marra” pela pol�cia na Pra�a da Esta��o, 1h30 de ontem. “N�o culpo a PM. O que falta � uma legisla��o que respeite o nosso carnaval”, avalia.

A falta de planejamento prejudicou muitos cidad�os durante o carnaval. Patr�cia Maura, de 33 anos, ficou presa no tr�nsito na Avenida dos Andradas durante o desfile do Alcova Libertina. Para a contadora, carnaval � bom, mas precisa de estrutura. Ela reclama da falta de sinaliza��o nas ruas, para que pudesse buscar rotas alternativas. Quem estava com o bloco, no domingo, viu a PM passar aperto para proteger os foli�es que invadiram tamb�m a pista no sentido bairro. N�o havia espa�o suficiente para o p�blico, espremido entre a mureta de prote��o do Arrudas e a faixa liberada para os carros. Na segunda-feira, com o Baianas Ozadas, e na ter�a, com o Baque de Mina, a hist�ria se repetiu. E a atua��o da BHTrans deixou a desejar.

Por meio de nota, a empresa de tr�nsito informou que foram necess�rias adequa��es no controle do tr�fego devido ao n�mero de foli�es al�m do esperado. Foram mobilizados, em m�dia, 250 agentes de tr�nsito por dia e 10 reboques leves e pesados, al�m de policiais militares e guardas municipais. As principais opera��es foram no entorno da rodovi�ria, nos bairros Esplanada (Regi�o Leste ), Uni�o (Regi�o Nordeste), Ouro Preto e Santa Am�lia (Pampulha), nas pra�as da Esta��o, da Savassi e da Liberdade, na Rua Guaicurus, nas avenidas Afonso Pena e Brasil e no entorno do Parque Municipal. Ainda de acordo com a BHTrans, a maioria dos blocos informou o percurso e, por isso, as opera��es ocorreram como planejado. Nos outros casos, remanejou agentes. O Comando de Policiamento da Capital (CPC) foi procurado ontem pela reportagem, mas n�o atendeu as liga��es para avaliar o desempenho do efetivo disponibilizado.

ESP�RITO DAS RUAS

Para o historiador Guto Borges, de 33, o mercado n�o pode se sobrepor ao uso p�blico. O que se v� em curso, nas grandes cidades, � um projeto de diminui��o do espa�o p�blico para impedir a opini�o e a liberdade. “� preciso rever a ideia de cidade. N�o � alargar as ruas para dar espa�o para mais carros. O espa�o p�blico � para as pessoas”, considera. Guto est� envolvido com v�rios blocos de rua. Entre outros, Mam� na Vaca, Ent�o, Brilha!, Tico-Tico Serra Copo, Filhos de Tcha-Tcha e Manjeric�o. Em comum, uma vis�o da cidade que resiste. Fen�meno, segundo Guto, presente tamb�m no Rio de Janeiro, S�o Paulo e Distrito Federal. “� o carnaval como manifesta��o cultural popular. N�o � para o mercado, para o turista ou para a propaganda. � para a cidade”, ressalta.

De acordo com o historiador, a prefeitura investe mais em publicidade do que em estrutura: “O lado da PBH � o mercado”. “A festa das ruas � um contraponto. Sem a tradi��o do produto, do show, da propaganda”, diz. Para o historiador, a aglomera��o espont�nea do povo nas ruas � a celebra��o da cidade. Guto fala da luta dos blocos nos �ltimos anos contra a “burocracia kafkiana” do poder p�blico. “A gente tem lutado muito para mostrar que, como manifesta��o cultural popular, n�o precisamos de alvar�. Dizem que os blocos n�o comunicam (a concentra��o e o trajeto). Quase todos os blocos comunicam. A gente quer estrutura. Que a prefeitura fa�a o papel dela. H� uma burocracia que beira a impossibilidade e o constrangimento”, lamenta.

 

Artigo: n�o d� para come�ar a conversar dois meses antes

Renata Chamilet
Organizadora do Bloco Baianas Ozadas

� nosso quarto carnaval. Come�amos com sete pessoas. Este ano, nenhum bloco ficou do mesmo tamanho. Todo mundo cresceu, no mesmo tempo em que tantos outros blocos surgiram tamb�m. A gente j� vem h� algum tempo conversando muito timidamente com o poder p�blico, participando de audi�ncias na C�mara Municipal. A luta dos organizadores dos blocos � para que o carnaval de rua seja enquadrado como manifesta��o cultural e n�o como evento. Em 2014, tivemos uma grande vit�ria, que foi a autoriza��o para a venda de bebidas alco�licas por ambulantes durante o carnaval. Em 2013, quando procuramos os bares do trajeto do Baianas para saber se eles iriam abrir as portas para o nosso p�blico, eles riram. “Abrir no carnaval?”. � preciso que todo mundo entenda que Belo Horizonte tem carnaval. Precisamos com urg�ncia de uma legisla��o espec�fica para o per�odo. � preciso rever quest�es como sonoriza��o, tempo e espa�o de circula��o de ve�culos de som e fechamento de vias p�blicas. A Avenida Afonso Pena � fechada aos domingos para a feira de artesanatos. A popula��o sabe disso e busca rotas alternativas. Tem que ser assim com o carnaval. Com informa��o em tempo h�bil para o cidad�o n�o sair prejudicado. N�o � sugerir “evite estacionar”, em avisos, como ocorreu na Avenida Jo�o Pinheiro. Muitos carros ficaram presos por causa disso. � proibir com responsabilidade. O carnaval precisa ser bom para quem gosta e para quem n�o gosta da folia. � preciso di�logo entre popula��o, organizadores e autoridades. Especialmente pela seguran�a das pessoas. O xixi, o lixo, s�o ruins? S�o. Mas � poss�vel contornar. Agora, e se uma pessoa se machuca? Portanto, volto a dizer, � preciso ter responsabilidade. Sinto que a Belotur at� tem disposi��o para acertar. Quer fazer o melhor. Mas parece que est� sozinha. Com a BHTrans � bem mais dif�cil. A �nica ajuda do prefeito � n�o proibir. Este ano, fiquei preocupada. E as pessoas nas ruas me surpreenderam muito positivamente. O foli�o de BH est� aprendendo a alegria do carnaval nas ruas, na multid�o. Ainda que faltem lixeiras, por exemplo, j� tem muita gente andando com o seu lixo at� encontrar uma lixeira. N�o d� para come�ar a conversar sobre o pr�ximo carnaval dois meses antes. Uma festa de casamento para 500 convidados come�a a ser organizada dois anos antes. Precisamos de uma comiss�o permanente que trabalhe pensado no melhor para todos.


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